Posições de Lula e do Brics contra o dólar, tarifas, sanções e bombardeio ao Irã, afinidade com Bolsonaro e punições do STF contra big techs alimentam hostilidade

Em seu Blog na rede de TV CNN, o jornalista Lourival Sant'Anna aponta uma conjunção de fatores - ideológicos, econômicos e geopolíticos - que  está colocando o Brasil numa posição que o próprio governo brasileiro havia dito que gostaria de evitar, mas parece não ter conseguido: a de alvo da hostilidade de Donald Trump.

Acompanhe a avalição do jornalista

O presidente americano fez dois movimentos nessa direção hoje, criticando o “Brasil pela forma como trata Jair Bolsonaro” e os países do Brics, reunidos no Rio de Janeiro sob a presidência brasileira.

Trump ameaçou impor um adicional de 10% de tarifa de importações sobre produtos de quaisquer países que "se alinhem às políticas antiamericanas do Brics". Ele não detalhou que políticas seriam essas, mas os discursos e o comunicado final estiveram repletos de condenações ao presidente americano, desde a guerra tarifária lançada por ele até as sanções unilaterais aplicadas pelos EUA, passando pelo bombardeio ao Irã, membro do bloco.

Em outro post em sua rede Truth Social, Trump saiu em defesa de Bolsonaro, réu de um processo em que é acusado de liderar uma tentativa de golpe, afirmando que o ex-presidente brasileiro “não é culpado de nada, a não ser lutar pelo povo brasileiro”.

No post, Trump deixa claro que vê semelhança entre o seu caso e o Bolsonaro. A maioria democrata na Câmara no governo de Joe Biden abriu processo de impeachment contra Trump por ter tentado reverter sua derrota eleitoral de 2020. “Eu sei muito sobre isso. Aconteceu comigo, vezes 10”, escreveu o presidente americano.

O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, auto-exilado nos EUA, reconheceu na CNN que suas articulações podem ter influído na manifestação do presidente americano. Lula respondeu dizendo que “não aceita interferência de quem quer que seja”.

Trump tem o hábito de apoiar publicamente líderes de outros países com os quais se considera alinhado, inclusive em períodos eleitorais, como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, o presidente da Polônia, Andrzej Duda, o então presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e o próprio Bolsonaro, em 2020, por suas tentativas de menosprezar a gravidade da pandemia.

Ameaça ao Brics
No que diz respeito ao Brics, Trump já havia ameaçado, em novembro, depois de vencer a eleição, com tarifa de 100%, qualquer país do bloco que tentasse substituir o dólar como moeda de reserva e de conversibilidade para o comércio internacional.

Outro ingrediente que acirra a hostilidade da Casa Branca com Brasília são as medidas adotadas pelo Supremo Tribunal Federal contra as redes sociais americanas quando desobedecem ordens de retirar do ar conteúdos considerados pela Justiça brasileira desinformação ou discurso de ódio.

A corrente política liderada por Trump se coloca como defensora da “liberdade de expressão” nas redes sociais, que usa com enorme habilidade para disseminar versões, muitas vezes falsas, contra seus adversários políticos e grupos que escolhem para atacar, como imigrantes e pessoas beneficiadas por políticas de diversidade, equidade e inclusão.

Além disso, as big techs, donas das redes sociais, geram enormes receitas para os Estados Unidos. Seus CEOs, como Mark Zuckerberg, dono do Facebook, Instagram e WhatsApp, aliaram-se a Trump nesse segundo mandato.

O governo brasileiro editou em outubro uma medida provisória instituindo imposto mínimo de 15?% sobre os lucros de empresas multinacionais com faturamento global acima de €?750 milhões, recomendado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aprovado na cúpula do G20, realizada no Rio no mês seguinte. Esse tributo atinge as big techs americanas.

Como se vê, não faltam razões para Trump se voltar contra o atual governo brasileiro.