Em entrevista à Agência Adjori de Jornalismo, o superintendente do Banco do Empreendedor, Luiz Carlos Floriani, fala sobre crédito consciente, expansão da ONG Banco do Empreendedor no Estado, regularização de micro e pequenas empresas e até sobre o papel de uma boa consultoria para fazer bons negócios. Confira:

Agência Adjori de Jornalismo - Quais são os principais desafios, hoje, do Banco do Empreendedor?
Luiz Carlos Floriani - Eu te diria que o desafio, a partir de agora, é, efetivamente, chegar a regiões onde ainda não estamos, como unidades, para dar um atendimento pleno. Seria o Extremo Sul - Extremo Sul, que eu, digo é Litoral - de Tubarão até Passo de Torres; o Extremo Oeste, onde também nós estamos limitados até o presente momento; indo até Capinzal, Joaçaba. E ainda o que a gente chama de Alto vale do Itajaí. Porque como a gente já está em Brusque, já está em Itajaí, a gente já está no Vale do Itajaí. Mas ainda tem o desafio de ir para o chamado Médio e Alto Vale do Itajaí, Rio do Sul... fechando a nossa composição Estadual. Também posso dizer que por meio das unidades de Mafra e de Guaruva estamos fazendo os primeiros atendimentos para o Paraná.

Adjori - Sobre o diferencial do Banco Do Empreendedor, o senhor estava me falando, quando cheguei aqui, que o grande diferencial é o método...
Floriani - Isso mesmo. A metodologia não é o cliente vir ao banco e sim o banco que ir ao encontro do cliente. Verificar a necessidade, a utilização, a viabilidade do negócio, a capacidade de pagamento, o retorno...

Adjori - E a metodologia de checagem de capacidade de endividamento também é outra? A pessoa que não tem um contracheque, um pró-labore, vocês têm outros métodos para investigar se o cliente tem como pagar o empréstimo?
Floriani - Exatamente. O conceito, no microcrédito é a viabilidade do negócio. O resto é muito mais fácil de se resolver do ponto de vista prático. Na prática, o que devolve o crédito ou o que garante o pagamento é a qualidade do negócio. Se o negócio está bem, este empreendedor não nos deixa de pagar.

Adjori - E que tipo de empresário mais procura o Banco do Empreendedor? É o prestador de serviços, é o comerciante...?
Floriani - Na realidade, a gente recebe e atende pedidos de todos os segmentos. É claro que o que mais atendemos é a área dos pequenos negócios na prestação de serviços. Vindo logo atrás o comércio, também, que é muito forte. Há até pouco tempo atrás, há até dois anos, nossa carteira 70% eram informais - pessoas que têm negócios que não são devidamente registrados - e 30% eram de formais, microempresas e empresas de pequeno porte regularizadas. Com o advento da lei do Micro empreendedor Individual, isso começou a mudar. Hoje, a nossa carteira já está praticamente com 60% de formais e 40% de informais. A Lei do Micro empreendedor Individual é uma lei que - e temos que dar o mérito para um trabalho muito forte que o SEBRAE faz - proporcionou verdadeiras condições de entrar na formalidade sem um custo que pudesse colocar em risco o negócio. Em Santa Catarina, o governo também criou o Juro Zero, que é uma forma de incentivar o empreendedor a formalizar e a ter acesso a um empréstimo onde ele não paga juro, quem paga juro é o governo do estado.

Adjori - Hoje o juro Zero é o carro-chefe de vocês? Ou vocês não tratam assim?
Floriani - Não, eu não te diria que é o carro-chefe, até porque ele tem um limite de valor e assim por diante. Mas hoje, eu posso te dizer com toda a segurança, que nós somos a organização que mais opera Juro Zero no Estado de Santa Catarina. São 16 organizações que operam o Juro Zero, que estão habilitadas pelo Governo do Estado, além de algumas cooperativas, agora, que também estão habilitadas. De todo o volume do programa Juro Zero, nós representamos 25% do trabalho. Ou seja, 25% de todas as operações que são liberadas pelo Juro Zero quem faz é o Banco do Empreendedor. Nós entendemos que este produto veio de encontro a uma necessidade verdadeira. Houve um entendimento por parte do governo do Estado, da importância que era estimular o empreendedor informal a se formalizar. Mas não dizer simplesmente "ó, você tem que se registrar por se registrar". Ele mostrou, também, que podia fazer a sua parte, mostrando que se ele se formalizasse teria acesso a crédito. Nós entendemos isso como importante, muito importante também a participação do SEBRAE, porque além de ter recursos a programas como o Juro Zero tem acesso a orientação - além da nossa, a do Sebrae.

Adjori - E hoje quem pode fazer empréstimo a Juro Zero? Todo mundo leva?
Floriani - Não. Nós usamos a mesma metodologia que usamos para os produtos do banco do empreendedor. Vamos lá na empresa dele, vamos avaliar a necessidade que ele tem de crédito, a utilização, qual é a viabilidade do negócio. Nós temos vários casos em que não é liberado. Por quê? Porque não está justificada a necessidade. E aí é bom que as pessoas não fiquem chateadas. Porque crédito só é bom quando ele te dá retorno; se não tiver a garantia do retorno, nós, em vez de te ajudar, nós vamos te atrapalhar, porque vai se encher de dívidas e daqui a pouco você não vai ter como pagar.

Adjori - Vai pro fundo do poço das dívidas,...
Floriani - Sim. E, infelizmente, o nível de endividamento das pessoas no Brasil, nos últimos anos, está crescendo cada vez mais. Muitas pessoas não se dão conta de que a vida sofre alguns percalços. E aí, como é que faz? Encheu-se de dívidas e como é que paga? No caso do negócio próprio é pior ainda. Porque o negócio pressupõe algo que tem que ter resposta todo dia no mercado. Se você está empregado, queira ou não queira, você tem uma garantia de pagamento. Se você tem uma atividade econômica, você tem que entender que essa atividade econômica depende de uma resposta de mercado. Não dá para garantir que, o ano todo, todo mundo vá comprar na mesma quantidade ou comprar mais. Por isso que é importante a orientação, para que as pessoas entendam que, até o limite da dívida que ela vai fazer precisa ser feito com segurança. Se acontecer qualquer coisa, um imprevisto, consegue sanar a dívida. Nas áreas litorâneas, por exemplo, tem a chamada sazonalidade das temporadas. Três ou quatro meses de grandes negócios e o resto do ano precisa ser sustentado por aqueles três ou quatro meses. Tem que ser muito bem avaliado e aí está a importância de alguém que vai lá e defina estas coisas contigo. É o que a gente chama de plano de negócios, que muitas pessoas nem nunca tiveram acesso.

Adjori - E no meio rural, como é o trabalho de vocês?
Floriani - No meio rural nós trabalhamos complementarmente. Porque existem muitos recursos para os agricultores e para a atividade pesqueira, subsidiados pelos governos federal e estadual. Pela lógica, o acesso a esses recursos é muito mais barato pra esse público. Mas às vezes eles já estão usando os limites de crédito que essas linhas dão pra eles e precisa comprar algo que não estava no planejamento. Então entramos nós, dando um valor para ele poder complementar esse investimento.

Adjori - Vocês têm uma ideia de quantas pessoas saíram da informalidade com a ajuda de vocês?
Floriani - Oficialmente não. Mas 70% dos nossos clientes eram informais há até dois anos. Esse número baixou para 40%. Isso dá uma ideia.

Adjori - E existe um teto de renda para ser cliente do banco do empreendedor?
Floriani - Nós temos clientes - e alguns deles viraram até case de sucesso internacional - que nem deveriam estar mais trabalhando conosco por causa do tamanho que alcançaram. Tem um, aqui na Grande Florianópolis, que começou lá em 2000 com a gente, com uma pequena operação, e hoje ele tem duas empresas nas quais ele emprega 200 funcionários. Mas ele continua com a gente, tomando o nosso limite máximo, por uma sinergia, sabe? Ele se sente tão grato, de certa forma, porque foi atendido quando ninguém o conhecia, que hoje ele pega do BNDES, pega do BADESP, pega de outros bancos, mas continua com a gente, tomando empréstimo com o Banco do Empreendedor.

Adjori - O teto, então, é para o limite de crédito, e não de renda do cliente...
Floriani - Tem programas que são especificamente desenhados para o limites da micro e da pequena empresa, conforme a legislação. E tem recursos próprios do banco que, aí, o banco pode criar a sua própria linha de atendimento.

Adjori - E é só para empreendedores?
Floriani - O banco, este ano, criou o primeiro produto destinado para assalariados. É o CREDIREFORMA, que, por uma demanda da regional Meio-Oeste, que tinha uma necessidade muito latente, a gente intensificou, como um apelo até social, dar condições para que pessoas assalariadas, de baixa renda, tivessem acesso a um crédito que possibilidade de fazer reformas, em vez de ficar fazendo aqueles pequenos ajustes.

Adjori - Como comprar uma tinta, um cimento, cada coisa de uma vez...?
Floriani – Sim. Puxa, é um público que é fiel, porque reside naquela cidade, aquele imóvel é dele, ele é bom pagador - a gente tem demonstração dessa carteira -, além de residir naquela cidade ele está empregado naquela cidade. E aí a gente identificou também que diretamente estamos melhorando a qualidade de vida daquela pessoa e indiretamente estamos melhorando o desempenho dessas pesso no trabalho. Tu imaginas, um dinheiro para construir um banheiro decente para a tua casa, ou para construir um quarto a mais, ou uma cozinha, ou para botar piso na casa que ainda não tinha piso, ou um muro. Melhora a qualidade de vida dessa pessoa e o rendimento dela vai ser outro.

Adjori – Então, quando um micro empreendedor deixa o Banco do Empreendedor para acessar o crédito convencional, vocês perdem um cliente, mas alcançam um objetivo?
Floriani – Sim, o nosso objetivo é dar os recursos e a orientação necessários para que ele progrida. A partir disso, ele vai melhorar toda a cadeia que está em torno dele. Quando em um bairro, por exemplo, um cara começa a prosperar, parte do bairro acompanha isso. Em um primeiro momento o trabalho só pra ele, mas depois já gera um emprego ou dois, ou três, para aquela própria comunidade.

Adjori - Qual é o conselho que o senhor, que tem todo o conhecimento da causa, daria a uma pessoa que busca por crédito?
Floriani - Você precisa saber pra que você quer o crédito, como é que vai usar e qual o retorno que ele vai te dar. Estas são as perguntas básicas. Se você tiver a resposta, você está resolvido. Se não for assim, a pessoa estará fazendo uma operação que é boa para quem oferece o crédito, mas não é boa para ela mesma.