Desaparecidos: a dor do silêncio entristece as famílias
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O jornal Folha do Oeste, em parceria com a Adjori/SC e o SOS Desaparecidos, divulga em seu site informações sobre os desaparecidos. O objetivo é auxiliar famílias a reencontrá-las
Texto: Liange Gattermann/Folha do Oeste
Pelo menos três mil pessoas desaparecem em Santa Catarina a cada ano. Elas foram vistas pela última vez brincando na rua em frente de casa, saindo do trabalho ou antes de ir ao supermercado. As histórias são diferentes, mas por trás do mistério, há um ponto em comum. Sempre há uma família aflita em busca de respostas.
Esse é o drama vivido pela família de Silvia Liebert. Desde que o pai dela, Francisco Alberi Muniz do Amarante, foi visto pela última vez, já se passaram 21 anos. Imagina-se que, em maio de 1993, aos 46 anos, ele tenha saído de São Miguel do Oeste para visitar irmãos no Rio Grande do Sul, mas segundo os familiares, ele nunca chegou até lá. “Depois de 30 dias começou o alerta. Aí trocamos cartas, telefonemas, para tentar descobrir onde ele estava. Os irmãos dele, de lá, fizeram um registro do desaparecimento e nós fizemos outro aqui. Mas não havia pistas. A passagem de ônibus não era nominal, como é hoje, e a gente nem sabe se ele foi ou não para o Rio Grande do Sul”, relata, ao acrescentar que os tios vieram para o extremo oeste para conversar com as pessoas do convívio e tentaram refazer o caminho, possivelmente percorrido por Francisco do Amarante.
Infelizmente, ele não foi encontrado. “Até uns dois ou três anos não fizemos nada formal, mas depois começamos a pensar na situação civil da minha mãe, e em 2004, encaminhamos a declaratória de ausência junto ao Núcleo de Práticas Sociojurídicas. Então, em 2010 ele foi declarado ausente, quando conseguimos legalizar, em parte, a situação civil de minha mãe”, detalha Silvia, ao acrescentar que, agora, o processo está na fase final. “A Justiça entende que ele não está vivo, porque não há documento que ele tenha votado ou trabalhado legalmente no país ou em outros locais”, explica.
Para a filha, que tinha 19 anos quando o pai desapareceu, a angústia da incerteza durante a espera por notícias, e especialmente, a falta delas são os momentos mais difíceis de serem superados pela família. "Cada informação que a gente recebia de que ele poderia estar vivo, inclusive em outros países, a gente ia procurar. E da parte da Justiça foi feito tudo o que precisa ser feito, apesar de ser um tanto burocrático, mas sempre batia na trave. Um milhão de coisas podem ter acontecido nesse tempo todo de espera. Amanhã ou depois ele pode voltar, como pode também nunca reaparecer”, rememora Silvia.
ATUAÇÃO
Para auxiliar quem vivencia dramas semelhantes aos da família de Silvia, a desvendar os mistérios que envolvem os desaparecimentos, a Adjori/SC (Associação dos Jornais do Interior) firmou uma parceria com o programa SOS Desaparecidos da Polícia Militar, para a divulgação de informações sobre os desaparecidos nos sites e jornais do Estado. A Folha do Oeste publica fotografias e informações sobre os desaparecidos no site www.folhadooeste.com.br. “Temos força para ajudar nessa missão e temos todo o interesse em minimizar o sofrimento dessas famílias”, frisa o presidente da Adjori/SC e diretor-presidente da Folha do Oeste, Miguel Gobbi.
De acordo com o coordenador do programa, major Marcus Roberto Claudino, que também é autor do livro “Mortos Sem Sepultura”, a estimativa é de que 80% dos casos sejam resolvidos por si só, já que não envolvem crimes, necessariamente. “Ainda assim, a localização é essencial. Sempre que uma pessoa desaparece, uma família inteira se desestrutura. Não saber se a pessoa que sumiu está viva ou morta, bem ou sofrendo, em que condições, é angustiante”, explica.
Porém, os 20% restantes são o foco principal da rede criada em 2012. São pessoas que não foram mais encontradas e podem ter sido sequestradas, estar sendo usadas no trabalho escravo (dentro ou fora do país), mantidas em cárcere privado ou até mesmo terem sido vítimas de algum outro crime, como assassinato. “Nestes casos, há indício de crime. E é aí que a rede entra em ação”, destaca o coordenador, major da PM, do SOS Desaparecidos.
INTERNET É ALIADA
A Internet, especialmente as redes sociais, como o Facebook, hoje são grandes aliados do trabalho de busca por pessoas desaparecidas. “Infelizmente, o sistema policial tem as suas limitações. Se uma pessoa desaparecida é levada ou atraída para outro estado, ou até para fora do país, fica mais difícil localizá-la por vias oficiais, já que os sistemas das polícias não são integrados”, critica Claudino.
Mas a busca imediata também pode ser determinante para a solução dos casos. “Aquela história de que tem que esperar 24 horas ou até 48 horas para registrar um Boletim de Ocorrência não existe, principalmente em se tratando de crianças”, complementa o coordenador do SOS Desaparecidos.
NO EXTREMO OESTE
Em São Miguel do Oeste e região, a orientação é para que as famílias registrem o desaparecimento na Delegacia de Polícia Civil mais próxima. “Além do trabalho desenvolvido na região, todas as informações são repassadas ao banco de dados centralizado numa delegacia especializada, que fica na Capital”, ressalta do delegado Regional, Ricardo Casagrande.
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