Naturalizado brasileiro, produziu obra científica tanto na área da evolução quanto da ecologia, zoologia e botânica, resultado de observações e estudos na Mata Atlântica e litoral catarinense

 O Conselho Universitário da UFSC aprovou nesta semana, 8/9, a concessão do título de Doutor Honoris Causa a Fritz Müller. O título será entregue a um descendende do naturalista na 8ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (Sepex), que será realizada de 21 a 24 de outubro.

 A solicitação, encaminhada ao Conselho Universitário por pesquisadores do Centro de Ciências Biológicas destaca que o ano de 2009 marca os 200 anos de nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de seu livro ´A Origem das Espécies`.
 
Considerada uma das mais influentes obras intelectuais da humanidade, o livro de Darwin (e particularmente suas subseqüentes reedições) foi também o resultado do constante intercâmbio de idéias entre Charles Darwin e cientistas de todo o mundo. Entre eles, o naturalista Fritz Müller.
 
Naturalizado brasileiro, Johann Friedrich Theodor Müller viveu em Santa Catarina de 1852 até a sua morte, no ano de 1897. “Herdamos dele uma obra científica de inestimável valor, tanto na área da evolução quanto da ecologia, zoologia e botânica, resultado de décadas de observações e estudos por ele realizados na Mata Atlântica e no litoral catarinense”, destacam pesquisadores da UFSC no pedido de concessão do título.
 
A homenagem leva também em conta que apensar de ser considerado um dos maiores naturalistas do século XIX (assim como Charles Darwin, Ernst Haeckel, e Thomas Huxley), Fritz Müller permanece ainda muito pouco conhecido na comunidade científica brasileira.
 
“Considerando a grande importância das contribuições de Fritz Müller para a Ciência Mundial e que grande parte de seu trabalho foi desenvolvido na Ilha de Santa Catarina, acreditamos que a concessão desta honraria, mesmo que tardia, é uma forma de reconhecimento da UFSC ao relevante trabalho deste eminente naturalista que colocou o Brasil e Santa Catarina no panorama científico do primeiro mundo no século XIX.”, ressaltam na exposição de motivos encaminhada ao Conselho Universitário os professores Margherita Barracco, Josefina Steiner, Alberto Linder e Mário Steindel, todos integrantes de laboratórios do Centro de Ciências Biológicas da UFSC.
 
 
Ações
 
Para recuperar e divulgar obra de Fritz Müller , Professores da UFSC elaboram projeto
 
 Aproveitando a comemoração dos 200 anos de nascimento de Charles Darwin (1809) e dos 150 anos da publicação de seu livro Origem das Espécies (1859), a UFSC elaborou projeto que contempla diversas ações para divulgação do trabalho do naturalista  Fritz Müller, que foi um dos primeiros defensores de Charles Darwin.
 
A proposta inclui a preparação de uma mostra itinerante educativa, edição de materiais como pôsteres e folders, além da recuperação de coleções biológicas de espécies descritas por Fritz Müller. Prevê também a apresentação de uma coleção de invertebrados marinhos estudados por ele, e que ficará exposta permanentemente em um grande aquário na entrada do edifício Fritz Müller (um dos prédios do Centro de Ciências Biológicas da UFSC).
 
O grupo formado por professores de diferentes departamentos quer também compilar os nomes das espécies descritas em homenagem a Fritz Müller, assim como aquelas que o naturalista batizou com o nome de Darwin. Homenagear o estudioso com o título de Honoris Causa pela UFSC; encomendar estátuas de Fritz Müller e de Darwin para a Praia de Fora (onde o naturalista coletou e estudou os crustáceos que resultaram em suporte à teoria de Darwin);digitalizar com qualidade o atlas de seus desenhos; traduzir e editar seu livro Für Darwin (A favor de Darwin) e resgatar as trilhas em que o naturalista transitou são outras ações que fazem parte dos planos.
 
Observações nas praias de Santa Catarina
 
Johann Friedrich Theodor Müller, conhecido como Fritz Müller, é um
personagem de grande relevância na história da Biologia, em especial em Santa Catarina. Apesar de ter vivido e realizado uma excepcional obra científica no Brasil, incluindo trabalhos pioneiros que receberam elogios e profundo reconhecimento por parte de várias eminências científicas, em especial de Charles Darwin, permanece ainda muito pouco conhecido na comunidade dos biólogos brasileiros.
 
Empolgado com as descrições do Brasil feitas por Hermann Blumenau , Fritz Müller, que já nutria desejos de expatriar-se, saiu da Europa civilizada em 1852, vindo para a mata virgem aos 30 anos. Em 1856 começou o seu intenso intercâmbio científico com a Europa. Em 1857 foi recomendado por Hermann Blumenau para o cargo de professor de matemática (e depois também de história natural) no Liceu Provincial do Desterro (atual Florianópolis), onde permaneceu por 11 anos.
 
Motivada por divergências religiosas, a transferência de Fritz Müller para o litoral beneficiou enormemente a ciência, uma vez que a maioria das observações e grande parte de sua obra foram realizadas nas praias de Santa Catarina. Estudou vários organismos marinhos, principalmente crustáceos, dando uma especial contribuição à carcinologia (ramo da Zoologia que trata dos crustáceos).
 
Fritz Müller escreveu, entre outras publicações, o livro Für Darwin (A favor de Darwin), com o qual propagou as teorias darwinianas para a Alemanha, onde havia uma forte reação contrária ao famoso livro Origem das espécies. Tornou-se, assim, um dos principais divulgadores da obra de Darwin. Este, encantado, providenciou a tradução de Für Darwin para o inglês, ocorrendo então sua maior repercussão na Europa. O livro de Fritz Müller foi também traduzido para o português. Darwin considerava Fritz Müller um mestre.
 
Fritz Muller também se correspondia com outras eminências científicas, como Hans Spemann, (mais tarde prêmio Nobel de Medicina), Max Schultze, Hermann von Ihering, Ernst Haeckel, (pai do termo Ecologia), August Weismann, Ernst Krause e seu irmão Hermann Müller, renomado botânico.
 
Seu trabalho abrangeu quase toda a zoologia de invertebrados e grande parte da botânica da zona sul do Brasil subtropical. Contribuiu para o conhecimento da sistemática, morfologia, fisiologia e outros elementos da história natural dos invertebrados e de muitas plantas brasileiras.
 
Mais informações com a professora Margherita Anna Barracco / fone (48) 3721.8951 / [email protected]
 
 
Parceiro  de Charles Darwin: professora da UFSC assina artigo sobre Fritz Müller na revista Scientific American Brasil
 
 Pesquisador alemão Fritz Müller, naturalizado brasileiro, em longa correspondência com Darwin, forneceu evidências empíricas da consistência da seleção natural
 
por Margherita Anna Barracco e Cezar Zillig
 
Neste ano em que se comemoram o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos do livro A origem das espécies, poucos sabem como idéias inovadoras e transformadoras do pensamento humano nessa área chegaram ao Brasil. Na realidade, elas foram introduzidas por um pesquisador alemão, naturalizado brasileiro, conhecido por Fritz Müller, personagem excêntrico e progressista que viveu boa parte de sua vida em Santa Catarina, entre Blumenau e Nossa Senhora do Desterro, antigo nome de Florianópolis. Müller deixou uma obra naturalística enorme, que contribuiu para fundamentar e enriquecer a teoria da evolução das espécies por seleção natural de Darwin e projetou o Brasil no cenário da culta ciência européia. Infelizmente, o legado de Müller é pouco conhecido entre nós, mesmo entre a comunidade de biólogos e professores que não divulgam sua obra.
 
Johann Friedrich Theodor Müller, seu nome completo, nasceu na Alemanha, numa pequena aldeia (Windischholzhausen) da Turíngia, próximo à cidade de Erfurt. Filho mais velho de um pastor evangélico, desde cedo revelou seu interesse pela Natureza, influenciado por Hermann Blumenau, amigo de seu avô, e de quem receberia profunda influência.
 
Atraído pelas ciências naturais e matemática Müller ingressou na Universidade de Berlim, onde, em 1844, obteve o grau de doutor em filosofia (história natural) aos 22 anos, defendendo uma tese sobre as sanguessugas da região de Berlim. Nessa ocasião já pensava em imigrar, empolgado pelas aventuras e descrições do Brasil feitas por Hermann Blumenau – fundador da cidade que leva seu nome, em Santa Catarina. Em 1845 torna-se professor ginasial em Erfut, mas devido a suas crenças liberais e temperamento rebelde abandona o posto. No mesmo ano, decide cursar medicina na Universidade de Greifswald (1845-1848) como meio de facilitar sua migração.
 
Leia o artigo na íntegra, na revista Scientific American Brasil