O livro Respiração, angústia e renascimento, que o psiquiatra J. A. Gaiarsa revisou antes de falecer, em outubro de 2010, apresenta vários exercícios para quem quer aprender a 'respirar'.
Podemos ficar vários dias sem nos alimentar e não mais que alguns segundos sem respirar. Um organismo saudável precisa do oxigênio a cada instante para manter a vida. Para José Ângelo Gaiarsa, um dos psiquiatras mais respeitados do país, a prática inadequada da respiração, além de provocar uma simples dor de cabeça até doenças como o câncer, é responsável também por problemas emocionais.
No livro Respiração, angústia e renascimento (R$ 72,90, 456 p., Editora Ágora) - que o psiquiatra revisou antes de falecer, em outubro de 2010 - ele convida o leitor a analisar a consciência corporal pela respiração a fim de superar as angústias e recomeçar a viver.
Veja abaixo alguns exercícios que Gaiarsa propõe no livro. Lembrando que deve-se repeti-los várias vezes, em posições diferentes (sentando, deitado de barriga para cima, deitado de lado e deitado de bruços), até que a prática se torne fácil:
Primeiro exercício: detenha completamente a respiração e aguarde com atenção a vontade ou a necessidade crescente de respirar; aguente até o limite do tolerável e então "solte" a respiração, seguindo de maneira cuidadosa o que acontece logo depois. Atenção: imaginamos que, nessas condições, ao soltar a respiração a faremos muito ampla, mas isso não é verdade. Insistimos: siga o que acontece espontaneamente quando se desfaz a retenção respiratória. Nenhum exercício melhor do que esse para sentirmos - com força - o que é a "vontade" (necessidade) involuntária de respirar. Respiramos mesmo sem querer e mesmo contra a nossa vontade. A vida é mais poderosa do que o querer.
Segundo exercício: os limites da respiração. Lentamente, encha os pulmões de ar ao máximo - sem forçar demais; pare um instante e depois os esvazie também lentamente, "até o fundo", "espremendo" o tronco no final do movimento. A amplitude máxima da inspiração é mais fácil de ser atingida com as mãos trançadas e postas sob a nuca, a modo de travesseiro; mãos ao lado do corpo para a expiração total.
Terceiro exercício: como sentir com clareza o esforço inspiratório. Estreite a via aérea, seja tapando uma narina e parte da outra, seja usando um canudinho para inspirar por meio dele, seja fazendo um orifício mínimo com os lábios. Qualquer que seja o meio, ele será adequado se, ao inspirar, se fizer bem sensível o esforço da inspiração.
Respiração, angústia e renascimento
O livro mostra com insistência que a respiração está na base de toda a fenomenologia psicológica, em paralelo com seu valor biológico. A respiração é uma função biológica sempre urgentemente necessária - e só ela é assim. "Já após alguns segundos começamos a sentir sua falta, que é sempre muito aflitiva, muito rapidamente aflitiva e muito rapidamente insuportável. [...] Não estaria aí a explicação da angústia [...] e ao mesmo tempo da permanência do eu? Que outra função se faz em nós, continuamente, do nascimento à morte?", afirma.
A obra revela também, com base em pesquisas recentes, como funciona o "consumo" de oxigênio no sistema cerebral. O neocórtex cerebral, o mais recente em termos evolucionários e também o responsável por nossa capacidade de pensar, avaliar ou julgar, é que mais precisa de oxigênio. Quando respiramos melhor e profundamente, o córtex se ilumina e o raciocínio torna-se claro. Se respiramos mal, alimentamos apenas os centros mais primitivos do cérebro. Ficamos reféns do medo e da agressividade e das emoções negativas, como inveja, medo, competição.
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