Relatório divulgado na tarde de hoje, 4, aponta a proliferação de algas causada pelo lançamento de esgoto doméstico como responsável e indica a perspectiva de repetição do evento
Pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) divulgaram na tarde de hoje, 4, os resultados das análises de amostras de água recolhidas no Rio Perequê, na cidade de Porto Belo, no litoral catarinense, realizadas em função do surgimento, no dia 17 de janeiro, de mancha escura observada em sua foz.
O estudo indicou uma floração de microalgas, oriunda da Lagoa de Perequê, como causa da acentuação da cor na pluma do rio. O evento, aponta o laudo, foi causado pela junção de quatro fatores: alta concentração de nutrientes inorgânicos, ambiente estagnado, alta temperatura e alta luminosidade.
Segundo a avaliação, o aporte de nutrientes é resultado do lançamento de esgotos domésticos. A situação, destacam os pesquisadores, deverá agravar-se e repetir-se nos próximos anos com o aumento da urbanização desordenada acompanhada pela falta de planejamento do saneamento básico.
No pior dos cenários, aponta o relatório, a proliferação das algas pode levar a redução drástica da concentração de oxigênio dissolvido na água e, por fim, morte dos organismos aquáticos presentes tanto no Rio Perequê como em seus afluentes, bem como o aumento da ocorrência de doenças de veiculação hídrica.
Os resultados dos estudos indicam, ainda, que o lançamento do efluente ocorre de forma difusa em diversos pontos no Rio Perequê, oriundo dos municípios de Porto Belo e Itapema. Na Estação de Tratamentos de Efluentes (ETE), do município de Itapema, no entanto, foi diagnosticada eficiência de remoção de 99,999% para coliformes totais. Confira a integra do relatório:
Mancha no Rio Perequê
No dia 20 de janeiro de 2016, uma saída de campo investigativa foi organizada e realizada pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) acompanhada por representantes da Fatma, com o objetivo de compreender os principais processos que levaram ao surgimento da mancha escura no Rio Perequê, registrado três dias antes (17 de janeiro). Foram realizadas coletas de 16 amostras de água ao longo do ambiente de interesse, para as determinações físico-químicas, químicas e biológicas, realizadas posteriormente nos laboratórios da Universidade.
Análise conjunta destes dados, realizado por oceanógrafos da Univali, permitiram concluir que a provável causa da acentuação da cor na pluma do Rio Perequê foi uma floração (proliferação) de microalgas que pode ser oriunda da Lagoa do Perequê. Possivelmente devido à conjunção dos seguintes fatores: 1) Alta concentração de nutrientes inorgânicos encontrados; 2) Ambiente estagnado; 3) Alta temperatura; e 4) Alta luminosidade.
Destes quatro fatores, no entanto, o único que parece estar sendo alterado por influência humana, e que portanto pode ser gerenciado, é o fator 1 - aporte de nutrientes, resultado de lançamentos de esgoto domésticos evidenciados pelos altos valores dos nutrientes como NH4+ e PO43- somado à elevada colimetria registrados nas amostras da lagoa e Rio Perequê.
Destaca-se ainda, que há uma tendência para o aumento da urbanização nesta região para os próximos anos. Se este aumento ocorrer de forma desordenada, acompanhada da falta do planejamento do saneamento básico, a consequência será o aumento do lançamento de esgoto in natura no Rio Perequê, nos seus afluentes e consequentemente, na praia, aumentando a probabilidade da reincidência destes eventos de mancha.
A conjunção de todos esses cenários pode levar a estágios mais avançados de eutrofização, chegando a hipoxia (redução drástica da concentração de oxigênio dissolvido) e por fim a morte dos organismos aquáticos presentes tanto no Rio Perequê como nos seus afluentes, bem como o aumento das ocorrências de doenças de veiculação hídrica, afetando a saúde pública, o turismo e consequentemente provocando prejuízos econômicos para os municípios de Itapema e Porto Belo.
Uma análise conjunta de todos os parâmetros avaliados, mesmo que restrito na dimensão espaço-temporal, permite afirmar que estes resultados indicam que o lançamento do efluente ocorre de forma difusa em diversos pontos no Rio Perequê oriundo dos municípios de Porto Belo e Itapema bem como nos seus afluentes, com picos de nutrientes inorgânicos e colimetria, decréscimo de OD e oscilações dos parâmetros físico-químicos, evidenciando um desequilíbrio deste ambiente. A Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do município de Itapema por sua vez, apresentou uma eficiência no sistema bastante satisfatória, indicando uma eficiência de remoção dos nutrientes e atingindo 99,999% de remoção para Coliformes Totais e Escherichia coli, resultados que evidenciam a desinfecção do efluente pós-UASB, antes do seu lançamento no rio.
Deve-se deixar claro que a inversão destes processos são ações possíveis; ou seja, a remediação e a recuperação ambiental podem ser viabilizadas. As dificuldades das aplicações destas soluções estão muitas vezes no processo de gestão no âmbito econômico-político que na efetividade das ações práticas a serem aplicadas no ambiente em questão.
O acompanhamento contínuo de um recurso natural, realizado através de um monitoramento ambiental, é recomendado, pois permite não apenas a avaliação e o acompanhamento das alterações ambientais, como a previsão de situações como a ocorrida neste evento.
A gestão de um recurso natural é a garantia de um futuro econômico, ambiental e social sustentável e a participação comunitária, essencial para o sucesso deste processo. Uma comunidade bem informada dos principais processos que acontecem no seu entorno é a principal ferramenta para o seu fortalecimento. Neste sentido, a Univali e a Conasa estão organizando um seminário, possivelmente em março, para a discussão deste assunto.
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