Levantamento inédito também constata que a maioria dos brasileiros não conhece seus níveis de colesterol sanguíneo. O trabalho avaliou 2.000 pessoas em todo o Brasil
cardiologistas entrevistados desconhecem diretrizes de prevenção e tratamento
Resultados de uma pesquisa brasileira inédita, feita com mais de 2.000 pessoas em 70 cidades, revelam um cenário preocupante: metade dos adultos com colesterol alto não trata o problema.
O estudo, feito pelo CLACC (Conselho Latino-Americano para Cuidado Cardiovascular), iniciativa que busca disseminar informações sobre tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, também aponta que menos da metade dos brasileiros dosa seu colesterol e que os médicos não conhecem bem as diretrizes do tratamento.
O objetivo do projeto era justamente avaliar a aderência dos pacientes ao tratamento, já que a falta dela é considerada um fator crucial para o aumento da incidência de problemas como infartos e derrames. Só no Brasil, as doenças cardiovasculares matam 300 mil pessoas a cada ano, e a Organização Mundial da Saúde estima um aumento de 250% nos casos até 2040.
Os voluntários responderam a um questionário fornecendo dados a respeito de dosagem de colesterol, diagnóstico de hipercolesterolemia e quais os tratamentos feitos. Quem não estava em tratamento respondeu ainda sobre os motivos da interrupção.
Os resultados revelaram que, entre os que sabiam estar com o colesterol alto, apenas 50% seguiam a terapia recomendada -23% tinham começado e parado e 27% nunca tinham tratado a doença.
"Trabalhos anteriores mostram que o tempo médio de uso de medicamentos é de 60 dias, mas o paciente só começa a ter benefícios após um ano de tratamento", diz o cardiologista Andrei Sposito, presidente do departamento de aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, e um dos autores.
Segundo a pesquisa, um dos fatores que atrapalham o tratamento correto é a desinformação. "A maioria dos pacientes não tem noção da gravidade de sua doença", diz Sposito. "O médico acha que a pessoa recebeu as informações adequadas, mas a mensagem não está chegando ao paciente."
Os pacientes costumam aderir mais ao tratamento se já vivenciaram o problema- quando, por exemplo, já foram vítimas de um infarto.
As consultas rápidas também parecem influenciar esse cenário. Entre as conclusões, os autores do trabalho apontam que a aderência ao tratamento está relacionada a consultas mais longas e detalhadas, mais informação sobre o problema e maior confiança no médico.
A pesquisa revelou ainda que menos da metade dos entrevistados (47%) tinha feito exame para dosagem de colesterol. Desses, 22% tinham hipercolesterolemia. O restante dos voluntários simplesmente não conhece suas taxas de colesterol sanguíneo.
Médicos
Outro braço da pesquisa ouviu cem cardiologistas de oito cidades (São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador e Recife) e constatou que só 12% deles calculam o risco do paciente por escalas específicas, como recomendado.
Além disso, apenas 31% dos médicos responderam corretamente sobre os valores desejáveis de LDL para pacientes de baixo risco. E menos da metade deles conhecia as metas para quem tem alto ou médio risco.
"A falta de conhecimento se estende a grande parte dos médicos", diz Sposito. Ele participou de um estudo com 2.056 profissionais (endocrinologistas, cardiologistas e clínicos-gerais) em 11 países, que mostrou resultados similares. "A prevenção é um trabalho de todos que deve começar na infância".
"Os resultados deixam claro que há muito espaço para melhorar a questão de aderência ao tratamento da hipercolesterolemia no Brasil, tanto por parte dos pacientes, como por parte dos médicos", diz o cardiologista Fernando Cesena, do Instituto do Coração, e consultor para o CLACC.
Os dados serão divulgados no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em agosto.
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