O presidente da FCDL/SC, Sérgio Medeiros, falou com exclusividade à Rede Catarinense de Notícias sobre a 'Missão Orlando', que levou empresários para visitas técnicas à cidade sede da Disneyworld.
Os Estados Unidos têm a maior economia do mundo e, é claro, o mais forte e qualificado varejo do planeta. Uma dezena de lojistas catarinenses recentemente foi a Orlando, no estado da Flórida, para visitas técnicas ao comércio da cidade, sede da Disneyworld, numa missão promovida pela Federação das CDLs de Santa Catarina. Com apenas 213 mil habitantes, Orlando atrai 48 milhões de turistas por ano e detém uma infraestrutura invejável. “São 500 hotéis e mais de cinco mil restaurantes”, relata Sergio Medeiros, presidente da FCDL/SC. “Para atender à tamanha demanda o varejo precisa ser muito eficiente”, observa. Medeiros falou com exclusividade sobre a Missão Orlando à Rede Catarinense de Notícias .
RCN – O que mais chama à atenção no varejo de Orlando?
Sergio Medeiros – As duas chaves do sucesso são o treinamento contínuo e a paixão dos funcionários às organizações em que atuam. No Sam’s Club, um misto de atacado e varejo, os colaboradores usam crachás onde consta o tempo de dedicação à empresa, além de várias premiações e comendas recebidas pelo bom desempenho ao longo desse tempo. Eles têm orgulho da função que exercem e do êxito da empresa. Para treinar e motivar estes colaboradores as empresas promovem reuniões diárias, trocando informações e com transparência total dos números de faturamento, rentabilidade e outros dados. Isso torna a relação aberta e aumenta a confiança recíproca. Na Disney perguntei a um cidadão que trabalhava no estacionamento quantos funcionários havia no parque e fui surpreendido com a resposta: “aqui não existem funcionários, somos todos atores participantes de um show”.
RCN – Os norte-americanos têm uma economia inovadora. O que percebeu no varejo de Orlando?
Sergio Medeiros – Gostamos muito do exemplo da Whole Foods, rede de 280 lojas de produtos orgânicos, sem fertilizantes, adubos químicos ou agrotóxicos. Quase todos os itens têm um prazo de validade muito curto, o que exige confiança nos fornecedores e um processo de logística de alta eficiência, além de meios de conservação rigorosos, limpeza impecável, iluminação adequada etc. A Whole Foods valoriza seus fornecedores e o papel social que exercem e, junto aos produtos, está a foto e o perfil do produtor, o nome da cidade de origem etc. Aos que ainda duvidam do potencial do setor de orgânicos recomendo que conheçam esta rede, que contrata 50 mil pessoas. Também conhecemos uma cadeia sueca de lojas de móveis populares que inovou apostando no design. A Ikea contratou alguns dos melhores arquitetos do mundo para desenhar os móveis que, mesmo com modelos diferenciados, continuam com preços mais baixos.
RCN – Outras lições para o varejo brasileiro?
Sergio Medeiros – Tecnologia e comunicação com o cliente são aspectos muito valorizados. Há muitas lojas self-service, todavia elas investem pesadamente em meios eletrônicos para guiar e orientar os clientes, para que não sintam falta dos funcionários. Impressionou-me, também, o quanto eles preferem se preocupar com o cliente em detrimento da concorrência. Isso é resultado da forte competição.
RCN – E para as pequenas empresas, qual a receita dos varejistas norte-americanos?
Sergio Medeiros – O ex-presidente Richard Nixon enunciou, certa vez, que a pequena empresa é a maior expressão da livre-iniciativa. E mesmo entre os gigantes corporativos daquele país a pequena empresa sobrevive e prospera. O importante é agregar valor aos produtos, investir em marcas próprias e selecionar seu nicho com clareza, além daquilo que já abordamos anteriormente. Em uma loja de materiais para esportes e hobby ao ar livre encontramos pedras comuns, para a decoração de jardins, vendidas a 15 dólares. É que no solo pantanoso da Flórida as pedras são raras e viram oportunidade de negócio. E alguém já imaginou tintas com a grife Ralph Lauren? Lá, quando não há oportunidades, elas são criadas.
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