Jornal Razão: Professor de Tijucas fala sobre o dia da Consciência Negra
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(Fotos: Jornal Razão/Tijucas)
'O povo negro foi jogado à própria sorte após a abolição', afirma Leomir Pedro da Silva. Programação especial marca data neste final de semana no município
Nesta sexta-feira (20), celebramos em todo o Brasil o Dia da Consciência Negra. É um momento em que os afrodescendentes param para reverenciar a sua cultura e discutir assuntos de interesse de toda a etnia. Para se integrar a essas comemorações o Jornal Razão conversou com o professor Leomir Pedro da Silva, ilustre personalidade da comunidade afro-brasileira de Tijucas, formado em Pedagogia (Univali), Artes Plásticas (Furb) e pós-graduado em Séries Iniciais. Ele nos prestou as seguintes informações:
Razão: Qual o seu envolvimento com os movimentos afro-brasileiros de Tijucas?
Didi: Colaboro com o conselho afro na produção de peças, máscaras e esculturas para os eventos promovidos. Tenho contato com a Fundação Palmares para ficar informado sobre as ações feitas em prol dos negros.
Razão: Como profundo conhecedor da nossa história, você acha que ainda existe discriminação racial em nossa região?
Didi: Sim, existe discriminação em relação aos negros.
Razão: Você acha que os próprios negros fomentam a segregação racial?
Didi: Dentro da história da formação do povo brasileiro o negro ajudou a construir este país. O povo negro foi jogado à própria sorte após a abolição, que não garantiu os direitos básicos. Onde cada qual buscou se manter vivo dentro desta sociedade escravagista.
Razão: Onde é que as outras etnias falham no tratamento em relação aos negros?
Didi: As falhas ocorrem em relação a sua cultura: dança, crença, religião e folguedos. Aqui já ocorreram casos em que a elite acabou com uma manifestação. A falta de conhecimento pôs fim ao cacumbi, sendo que o padre proibiu sua entrada na igreja. Festa onde os negros cantavam e louvavam a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. A falta de conhecimento mata uma cultura.
Razão: Quem você citaria como personalidade que mais defendeu a cultura afro em Tijucas?
Didi: Todos os negros que mantém viva a história que foi herdada de seus antepassados. Estes sim podemos dizer que são as personalidades. Pois guardam os valores de sua raça. Cada um que guarda sua história merece o reconhecimento pelo seu valor.
Razão: Qual a sua opinião sobre a atuação do Conselho de Identificação da Cultura Afro-Brasileira de Tijucas?
Didi: O conselho está fazendo sua parte em divulgar a cultura afro. Só com ações afirmativas poderemos mudar o quadro que nos foi deixado.
Razão: Você gostou da programação da Semana da Consciência Negra?
Didi: A Semana da Consciência Negra abre um bom leque de oportunidade para os leigos conhecerem essa cultura e fazer valer suas ações em prol do estudo da história da África.
Razão: Você não acha que a comunidade negra deveria se envolver mais nessas causas?
Didi: Existe um envolvimento por parte dos negros em prol de sua cultura. Estou fazendo a minha parte e produzindo material para os eventos promovidos pelo conselho.
Razão: Sem falar em partido, a que fator você atribui o município ter 155 anos e jamais eleger um vereador negro?
Didi: A falta de interesse para com a política.
Razão: Que mensagem você deixa à comunidade afro-brasileira da nossa região?
Didi: A mensagem é que devemos ter fé, respeito, tolerância, caridade e acima de tudo fazer valer nossos direitos. Pois existe uma só raça: a raça humana. Aos poucos o Brasil começa a pagar sua dívida com o povo negro reparando os erros do passado. Para quem comete a discriminação racial só os rigores da lei e o perdão de Oxalá.
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