Investimento do governo do Estado está previsto em R$ 72 milhões

Nesta quinta-feira, 17, foi lançada a licitação para pavimentar uma estrada que integra duas regiões, o Sul e a Serra catarinense, a SC-370 - antiga SC-439. Como bônus, essa mesma rodovia é o caminho para umas das maiores belezas naturais de Santa Catarina: a Serra do Corvo Branco. O governador Raimundo Colombo e o secretário de Estado da Infraestrutura, Valdir Cobalchini, iniciaram o processo que vai pavimentar os 32 quilômetros que faltam entre Urubici e Grão Pará. O investimento do Estado está previsto em R$ 72 milhões. O lançamento do edital foi realizado no salão comunitário da igreja da comunidade de Aiurê, no município de Grão Pará.

"O tempo passou e nós chegamos aqui a esse momento de mais um passo. Quase o último", disse o governador. Passos que começaram há mais de 50 anos, quando ainda era impossível trilhar esse caminho. Foi o pai da dona Normélia Kuhnen, sogro do seu Alvadi Salvador, quem deu a largada. Munido de facão e picareta, começou a abrir a "picada" que depois seria usada como traçado para a rodovia SC-439. Rodovia que leva seu nome, em reconhecimento ao trabalho que iniciou.

Pedro Fedolin Kuhnen tinha 39 anos quando começou em 1959 a abrir caminho pelos paredões da Serra. Levava junto outros agricultores da região. Pagava o trabalho deles com comida e anotava o nome e o dia em que cada um ajudou em um caderno. Recordação que sua filha levou ao evento desta quinta. “Ele dizia que, por ser final de uma estrada, sem uma ligação, a nossa comunidade deixaria de existir”, conta o seu genro.

Normélia nem era nascida naquela época. Tem 49 anos e vive na mesma casa que seu pai deixava todos os dias para realizar a empreitada, na comunidade de Aiurê. O pai levou 21 anos para terminar a tarefa pela qual nunca recebeu um centavo, em 1980. Ele faleceu há dez anos, com 82 anos, sem ver o trabalho que iniciou finalizado. Mas seus filhos e netos vão conseguir. “Essa é uma obra especial, que integra duas regiões importantes e que vai ficar na história porque foram muitos anos de espera por ela”, disse o secretário da Infraestrutura.

A conclusão do sonho do seu Pedro foi dividido em dois lotes para facilitar a execução da obra. O primeiro, de 23,5 quilômetros, vai de Grão Pará até o início da Serra do Corvo Branco e tem um custo estimado em R$ 42 milhões. O segundo, da subida da serra até a junção com o trecho já pavimentado em Urubici, tem 9,3 quilômetros de extensão, dos quais cerca de 5 quilômetros serão feitos em concreto, como a Serra do Rio do Rastro. Este, estimado em R$ 30 milhões.

A licitação vai apontar as empresas, ou a empresa, se uma vencer as duas concorrências, e será de dois anos o prazo para concluir os trabalhos. Os dois trechos devem ser executados ao mesmo tempo. "Queremos lançar as ordens de serviço, ter máquinas aqui trabalhando, já no mês de maio, o mais tardar junho", disse o presidente do Departamento Estadual de Infraestrutura - Deinfra, Paulo Meller. Os recursos para executar a iniciativa já estão garantidos, são provenientes de um financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.

Hilário Gonçalves, de 64 anos, foi uma das pessoas que ajudou o pai da dona Normélia a abrir caminho na Serra. Tinha 16 anos quando subiu pela primeira vez no caminhão para ajudar. “Ele ia na frente abrindo a caminho e eu ia com uma picareta atrás tirando as pedras. Mas a gente chegou em uma pedra muito grande e íngreme e eu parei”, conta. Pedro Kuhnen não desistiu.

Hoje, o trecho já é um ponto turístico muito visitado no Estado e seus paredões de pedra rendem há anos recordações para os porta-retratos da casa dos turistas que passam por ali. A expectativa é que a conclusão da obra dê um salto nessa movimentação, ao mesmo tempo em que vai facilitar o acesso da produção de frutas e verduras da Serra ao Sul do Estado e vice-versa. “Eu vivi na carne isso como prefeito. É impossível fazer turismo de excelência sem uma infraestrutura compatível. Agora eu vou me reunir com os prefeitos da região e empresários para ver no que a gente pode ajudar”, disse o secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Beto Martins.

É o que espera o seu Alvadi e a dona Normélia. Eles tocam um Café Colonial na saída da descida da Serra. Hoje trabalham por encomenda, fazendo almoços e cafés da tarde. Mas com o aumento do movimento que a ligação vai trazer, querem torná-lo um negócio em tempo integral para atender os turistas que virão.