Fórum Social Mundial fortaleceu movimentos populares, avaliam participantes

O século 21  tinha recém começado quando foi realizada a primeira edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre (RS), entre os dias 25 e 30 de janeiro de 2001, com a presença de cerca de 20 mil pessoas. A idéia era apresentar um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente na cidade de Davos, Suíça, num contexto de fortalecimento dos movimentos sociais.

?O fórum não surgiu do nada, nós somos pós Seattle, pós várias mobilizações que estavam acontecendo, a primeira manifestação da Marcha Mundial das Mulheres, já se organizava no nosso continente a Aliança Social Continental, com o debate crítico à Alca [Área de Live-comércio das Américas], então é nesse contexto que o fórum surge?, explica Nalú Faria, integrante da Sempreviva Organização Feminista e da organização da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil.

O fórum nasceu como forma de buscar alternativas e de resistência ao modelo econômico vigente durante a década de 1990, um espaço de articulação dos movimentos sociais. Uma iniciativa de brasileiros e franceses que, na opinião do diretor executivo da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), Jorge Eduardo Durão, foi beneficiada por uma característica própria dos movimentos sociais brasileiros.

?Tem uma característica do processo brasileiro, que em outros países não havia, e que foi uma condição muito importante para o sucesso do fórum. É que, no Brasil, as organizações da sociedade civil de tipos diferentes conseguem dialogar e fazer coisas em conjunto?, diz.

No entanto, Jorge Durão lembra que o fórum ?era uma iniciativa bastante restrita do ponto de vista geográfico, tinha uma grande participação de brasileiros, também de organizações da sociedade civil francesa, uma certa quantidade de latino-americanos?.

Desde 2001, outros seis encontros internacionais foram feitos. Em 2002 e 2003, ainda na capital gaúcha. A edição de 2004 foi realizada em Mumbai, na Índia. A seguinte foi em 2005, novamente Porto Alegre. Em 2006, houve a primeira tentativa de descentralização das atividades. Foram três as cidades-sede: Bamako, em Mali, Caracas, na Venezuela, e Karachi, no Paquistão. Em 2007, o evento volta a ter uma só sede: Nairóbi, capital do Quênia.

Desde a primeira edição, Nalú Faria cita pelo menos duas conquistas concretas que ela atribui à articulação realizada no Fórum Social Mundial. Uma é o fortalecimento das redes de economia solidária, que hoje são política pública. ?Foi no Fórum Social Mundial de 2002 que a gente lançou a campanha continental contra a Alca e nós consideramos como uma grande vitória nossa nesses anos ter barrado a Alca?, afirma.

No entanto, para algumas das pessoas que participam ou já participaram do FSM, as conquistas são grandes também para a mobilização social em todo o mundo. ?Esse fórum democratizou o discurso sobre o mundo, de certa maneira ajudou um processo de conscientização sobre o nosso papel, o papel de cada um nos destinos do mundo?, acredita o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Argemiro Procópio. ?É bom notar que o mundo não é feito só de presidente da República, de banqueiros, empresários, ministros, o mundo é feito também pelos milhares de homens como nós?, completa.

?Pelo simples fato de as mais expressivas organizações sindicais do mundo se encontrarem, debaterem e apontarem caminhos comuns, já é uma tremenda vitória?, avalia João Antônio Felício, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade que participa da organização do fórum.

Para ele, a evento é importante particularmente por ser um espaço em que os diversos movimentos sociais podem se encontrar e debater problemas comuns, num processo unificação. ?O que há de mais expressivo de movimentos sociais no mundo todo participa do Fórum Social Mundial, quer sejam ONGs, centrais sindicais ou outras organizações sociais, centenas de organizações sociais que mandam seus representantes e algumas com uma expressividade enorme?, conclui.