Segundo a Federação, o quadro caótico se repete pelo terceiro ano consecutivo, com excesso de produção, importações predatórias, preços em queda e custos em alta

O quadro caótico se repete pelo terceiro ano consecutivo ? excesso de produção, importações predatórias, preços em queda e custos em alta ? e leva o produtor de arroz ao desespero. Dentro de 20 dias iniciarão protestos públicos e trancamento de rodovias em Santa Catarina se o governo federal não editar medidas saneadoras para o setor, advertiu o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc), Enori Barbieri.

A previsão para 2008 é de excesso de oferta. A colheita da safra brasileira de arroz iniciou em janeiro e será encerrada em abril, atingindo 11,9 milhões de toneladas. A esse volume será acrescida a importação de 1 milhão de toneladas do Mercosul (Uruguai e Argentina) e o estoque de passagem 2007/2008 de mais 1 milhão de toneladas. Serão 13,9 milhões de toneladas de arroz para um consumo anual de 12 milhões.  Esse quadro de superoferta repetirá o drama de 2007, quando o Brasil colheu 11,1 milhões, importou mais 700 mil toneladas do Mercosul e ainda contou com o estoque de passagem.

O patamar em que se encontram os preços praticados pelo mercado revela a descapitalização e o empobrecimento da rizicultura. O custo de produção aferido pela Conab é de R$ 26,00 por saca de 50 kg, o preço mínimo oficial é de R$ 22,00 e o mercado paga entre R$ 18,00 e R$ 25,00. ?É puro prejuízo?, resume Barbieri, mostrando que os preços continuarão pressionados para baixo.

        

A cadeia arrozeira está reivindicando a mesma solução adotada em 2007, quando o governo liberou linha de crédito de R$ 580 milhões para contratos de opção. Isso permitiu aos produtores fechar contratos de venda futura a R$ 25 reais/saca, preservando economicamente a atividade.

         Entretanto, reeditar essa solução em 2008 ficou difícil. As verbas do Ministério da Agricultura (R$ 2,065 bilhões) para operações de comercialização foram reduzidas para R$ 800 milhões pelo relator do orçamento 2008, deputado José Pimentel. O governo alega que, em razão do fim da CPMF, não terá dinheiro para financiar contratos de opção. O MAPA acenou com R$ 400 milhões da linha de EGF (empréstimos do governo federal) com base no preço mínimo de R$ 22,00 por saca. A oferta não agradou os produtores: ?EGF não é solução para o produtor?, diz Barbieri.

 

A Faesc adotou uma linha de reação junto aos parlamentares federais e aos ministérios da Fazenda e da Agricultura: quer a retomada dos contratos de opção ou reajuste do preço mínimo do arroz para R$ 26,00 a saca de 50 kg.

         A Federação cobrará apoio aos arrozeiros, lembrando que o governo não cortou nenhum programa social sob desculpa de ajuste orçamentário como quer fazer com os produtores, ?até porque a arrecadação federal não pára de subir?. As distorções econômicas do arroz irão se transformar em problemas sociais muito em breve.

 

COMPLEXO - O mercado do arroz é complicado e restrito. Não se trata propriamente de um commodity e os países de grande consumo (como os asiáticos) são, também, grandes produtores. São poucas as opções de transformação do arroz em outros produtos, o que limita sua industrialização.

         O arroz é a principal fonte de renda de 8.000 produtores catarinenses, gera mais de 50.000 empregos diretos e indiretos. O Estado tem a maior produtividade do país em arroz irrigado (7,1 tonelada por hectare) e a segunda maior produção do país (1,2 milhão de toneladas/ano). O cultivo irrigado atinge 155.000 hectares em 60 municípios do Sul, Vale do Itajaí e Norte catarinense. O mundo produz 466 milhões toneladas