Segunda edição do livro de Antônio Paladino será relançada dia 6 de maio no Café Matisse, no Centro Integrado de Cultura

A Ponte - Segunda edição do livro de Antônio Paladino será relançada dia 6 de maio no Café Matisse, no Centro Integrado de Cultura

 ?Ele criou um texto de vigor num mundo de repetição e apatia. Seu lirismo corrosivo e berrante não caberia nesse simulacro de paraíso pequeno-burguês que se tornou a máscara do mundo atual?. O escritor Sílvio Barros refere-se desta forma a Antônio Paladino, poeta e cronista nascido em Florianópolis e que morreu, vítima de tuberculose, aos 24 anos. Barros acaba de organizar o único livro de Paladino: A ponte ? prosa e verso, publicado pela Editora da UFSC (EdUFSC) dentro da Coleção Memória Literária de Santa Catarina. A segunda edição da obra será relançada no dia 6 de maio, às 20h, no Café Matisse, no Centro Integrado de Cultura/CIC (av. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica ? Florianópolis).

 A ponte reúne nessa edição poemas, crônicas, apontamentos e textos diversos, além de uma introdução do organizador e um extenso prefácio, feito para a primeira edição, do escritor Salim Miguel ? que, ao lado de Paladino, foi um dos fundadores do Grupo Sul, movimento que revolucionou o cenário cultural de Santa Catarina nas décadas de 40 e 50. ?Paladino, embora doente, sempre esteve na primeira linha do nosso movimento e a ele deu o melhor de seu esforço?, sublinhou Salim no texto datado de 1952. O autor de ?A ponte? deixou um legado: sua obra. ?Certamente a amizade não me fará dizer que é uma grande obra, completa, acabada, embora, para a época, a melhor de todos nós?, reconhece o ex-diretor da EdUFSC. 

Após encontrar ao acaso poemas de Antônio Paladino, Sílvio Barros foi atrás da obra completa, o que só foi possível com a ajuda de Salim. ?E por que me apaixonei por sua poesia? Por ela ser exacerbada, corpórea, radical em conteúdo. Paladino não foi um formalista, sua poética dionisíaca grita saúde, na melhor definição deste termo, a de Nietzsche. E numa era tão doente como a nossa, precisamos dessas punções de saúde para tentar reverter o fracasso da nossa civilização?. 

A poesia de Paladino, assinala Barros, é tão lírica e berrante que ?sobreviveu ao mais árduo dos testes: o tempo?. O organizador ressalta que o autor de A ponte não era um escritor regionalista, por que ?seu texto dialoga com o mundo?, fato que o assombra. ?Como um jovem proletário de uma distante e provinciana ilha ao sul, bem ao sul do Equador, conseguiu em seus poucos anos de vida construir um discurso que extrapolou ao seu meio e que sensibilizou o grande poeta da Capital, Carlos Drummond de Andrade?? A resposta está na ?tragédia de sua vida, amputada pela tuberculose, motor desta poesia de potência?, segundo o organizador. 

Antônio Paladino é quase um desconhecido, inclusive entre os escritores. Santo de casa não faz milagre? ?Talvez por isso quase nenhum dos jovens poetas o conheça. É bem mais fácil se apaixonar pelo outro, pelo distante?, lamenta Barros. O escritor ficou mais de 53 anos longe das prateleiras, impedindo, por exemplo, gerações de conhecerem a ?fúria de um poema como ?Cantiga Triste??. 

Se Antônio Paladino tivesse ido para o Rio de Janeiro morrer como Cruz e Sousa, na opinião de Sílvio Barros, ?talvez jovens tatuassem hoje na pele seu texto?. Mas o poeta viveu, escreveu e morreu em Desterro. Segundo Salim Miguel, Antônio Paladino lia, escrevia, discutia. Foi ?poeta inato, ficcionista por vocação e temperamento, e crítico por necessidade de extravasamento?. 

A Ponte soma-se às obras da Coleção Memória Literária de Santa Catarina, criada para resgatar títulos de autores catarinenses que se encontram perdidos ou restritos às bibliotecas de colecionadores de obras raras. Vários títulos já mereceram publicação, destacando-se, entre outros, os seguintes: Arcaz de um barriga-verde/águas passadas, de José Boiteux; Gente do meu caminho, de Tito Carvalho; História do gosto e outros poemas, de Ernani Rosas; Minhas memórias, de Carlos da Costa Pereira; Raimundo: drama em cinto atos, de Álvaro Augusto de Carvalho; Teatro selecionado, de Horácio Nunes; e Uma enteada da natureza, de Gertrud Gross Hering. 

A ponte ? prosa e verso Antônio Paladino ? 2ª edição

Sílvio Barros (organizador)

EdUFSC ? Coleção Memória Literária de Santa Catarina

157 p. R$ 19,80