As novas regras ortográficas da língua portuguesa ainda não entraram plenamente em vigor, mas a Academia Brasileira de Letras (ABL) já tem propostas de mudanças e ampliação no acordo. Segundo o acadêmico Evanildo Bechara, as alterações são “coisa muito pequena” diante da abrangência do acordo ortográfico.

Uma das alterações diz respeito à divisão de palavras compostas em duas linhas diferentes do texto, se ela tiver hífen. Pelo novo acordo, se o primeiro termo da palavra composta ficar em uma linha de texto diferente do segundo termo, o hífen precisa ser escrito no final da primeira linha e repetido no início da segunda linha.

No exemplo do “guarda-chuva”, se “guarda” ficar na primeira linha e “chuva” na linha seguinte, a pessoa deve escrever “guarda-” e depois “-chuva”. Segundo Bechara, a Academia defende que não seja mais obrigatório repetir o hífen na segunda linha. Nesse caso, a palavra seria escrita “guarda-” e depois “chuva”.

“Isso é muito difícil de ser obedecido na prática. A imprensa encontra muita dificuldade para obedecer essa regra. Vamos propor que o hífen que partilha de uma linha para outra não seja repetido”, disse Bechara.

O novo acordo também prevê que o hífen seja suprimido em palavras compostas, cujo primeiro termo se encerre em vogal e o segundo, nas consoantes “r” ou “s”. As palavras são unidas e o “r” ou “s” é duplicado, como é o caso de “contrarregra”.

Mas a ABL propõe que a regra não se aplique a palavras cujo segundo termo seja um nome próprio, caso de “anti-Stalin” ou “anti-Saddam”. Para Bechara, o ideal é que o hífen seja mantido, para que a letra maiúscula do nome próprio seja conservada.

Outra proposta é incluir, no acordo ortográfico, a regra dos porquês. No Brasil, por exemplo, escreve-se “porque” (junto) quando é uma conjunção que dá ideia de causa ou explicação. Mas nas perguntas, por exemplo, se escreve “por que” (separado). De acordo com Bechara, isso não acontece em Portugal, já que lá o “porque” é escrito junto mesmo nas perguntas, salvo algumas exceções.

“Isso viria muito a facilitar a vida de todo mundo. Vamos discutir esse caso, para ver, porque o acordo não é apenas a unificação [da ortografia], mas também a simplificação. Esse “porque” é tratado pelos acordos ortográficos de 1943 [do Brasil] e de 1945 [de Portugal]. Mas a Academia ainda não tem uma posição [de como essa questão seria tratada]. Isso ainda está sendo discutido”, afirmou.

Bechara também defende que o acordo elimine as exceções às regras, uma vez que isso complica, ao invés de simplificar a ortografia. Apesar de desejar propor as mudanças, o acadêmico defende o acordo.

Ele acredita que essas mudanças só devem ser discutidas depois que o acordo estiver plenamente em vigor. Segundo ele, o uso corrente da nova ortografia pode, inclusive, suscitar novas questões e problemas a serem resolvidos.

“É importante que o acordo seja implantado sem demora, para que daqui a um ou dois anos, quando todas as dúvidas e dificuldades aflorarem pelo uso, os governos se reúnam mais uma vez, com ajuda dos técnicos, para que os problemas e os casos omissos apareçam e possam ser, daqui a três, quatro, cinco anos, resolvidos”.