Pesquisadores da UFSC participam da criação do maior e mais detalhado mapa infravermelho da Via Láctea
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Via Láctea (Fotos: Divulgação)
Um trabalho de pesquisa internacional, envolvendo cientistas de vários países culminou em um artigo, que tem como primeiro autor o professor e astrofísico Roberto Kalbusch Saito, do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O artigo, publicado em destaque no dia 26 de setembro, na revista europeia Astronomy & Astrophysics, lista inúmeras descobertas após 13 anos de análise de dados e foi preparado por 146 coautores de 15 países diferentes através de quatro continentes. As observações ocorreram durante um total de 420 noites, e resultaram em cerca de 200 mil imagens, monitorando mais de 1,5 bilhão de objetos.
O artigo na Astronomy & Astrophysics também é assinado pelos seguintes alunos e ex-alunos do Departamento de Física da UFSC: Roberto Kammers (aluno de doutorado da UFSC); Vitor Freitas Fermiano (aluno de graduação da UFSC); Pedro Henrique Coelho Albino (aluno de graduação da UFSC); Thiago Ferreira dos Santos (graduado pela UFSC, atualmente doutorando da Yale University); Everton Botan (doutor pela UFSC, hoje professor na UFMT); Luciano Fraga (graduação e doutorado pela UFSC, hoje pesquisador do LNA-MCTI).
Quando Galileu Galilei observou nossa galáxia pela primeira vez, utilizando um telescópio, teria dito que “a Via Láctea nada mais é do que uma massa de inúmeras estrelas.” Quatrocentos anos depois, o maior mapa infravermelho da Via Láctea foi finalizado, após mais de 13 anos de observação das regiões centrais da galáxia pelos projetos VISTA Variables in the Via Láctea (VVV) e seu projeto complementar VVV eXtended (VVVX).
“Esse esforço monumental deixou um legado inestimável para a comunidade astronômica”, salienta o professor Saito, da UFSC.
O VVV e o VVVX foram dirigidos pelo professor Dante Minniti da UNAB, e pelo professor Philip Lucas, da Universidade de Hertfordshire (UH), no Reino Unido. Minniti esteve na UFSC em 2024 como professor visitante. Os projetos tiveram diferentes etapas que duraram anos e anos, começando em 2005: o planejamento, a execução das observações, a análise dos dados e a obtenção de resultados. Este último passo inclui a exploração e as publicações.
“No início foi uma aventura embarcar neste grande experimento que era uma tarefa gigantesca, sendo então o maior projeto observacional em termos de volume de dados do Observatório Europeu Austral (ESO), responsável pela condução das observações com o telescópio VISTA, no observatório de Cerro Paranal, norte do Chile. As observações iniciaram em 2010 e foram finalizadas no primeiro semestre de 2023, num total de 420 noites onde foram obtidas cerca de 200 mil imagens, monitorando mais de 1,5 bilhão de objetos, e gerando cerca de 500 TB de dados científicos”, relatou Saito.
Dentre as aplicações para a comunidade astronômica interessada em estudos de estrutura galáctica, populações estelares, estrelas variáveis, cúmulos estelares etc., o professor enumera uma série de descobertas, como por exemplo, os aglomerados globulares, que são os objetos mais antigos da Via Láctea; as estrelas hipervelozes, onde o buraco negro supermassivo central da Galáxia expulsa estas estrelas; as janelas de baixa extinção, que nos permitem uma visão do lado mais distante da Galáxia através de todo o pó e gás; as estrelas variáveis RR Lyrae no centro da Galáxia, a população mais velha conhecida; as estrelas anãs marrons e planetas flutuantes binários, os objetos menos luminosos conhecidos que não estão associados a nenhuma estrela; os objetos variáveis desconhecidos que chamamos WITs, acrônimo para “What Is This?” (O que é isto?); as milhares de galáxias atrás do disco da Via Láctea; os objetos estelares recém-nascidos, que são violentamente variáveis; os eventos de microlentes gravitacionais no coração da Via Láctea; e as estrelas variáveis Cefeidas muito distantes, incluindo nos antípodas de nossa Galáxia.
As descobertas listadas geraram mais de 300 publicações científicas além de 30 teses de doutorado na América do Sul e Europa. O processamento das imagens, análise de dados e exploração científica continuará, e o professor Saito acredita que há “inúmeras descobertas por vir”.
A pesquisa ajudará os projetos futuros em formas hoje inimagináveis, e temos certeza de que continuará com um legado importante nos próximos anos. Muitos desses estudos só poderão ser superados no futuro com o Telescópio Espacial Nancy Roman da NASA, que será lançado no final do ano de 2026”, explica o pesquisador.
Reportagem no Jornal Nacional
O Jornal Nacional veiculou uma reportagem sobre a pesquisa internacional nesta quinta-feira, 26 de setembro. Para a repórter Graziela Azevedo, o professor Roberto Saito disse que, por mais que a ciência olhe para o espaço, é preciso cuidar do planeta Terra.
“Não existe planeta B. Por mais que a gente esteja hoje buscando outros planetas e buscando vida no universo, temos que nos preocupar com o nosso planeta”, disse Saito.
A professora e astrofísica da Universidade de São Paulo, Beatriz Barbuy, também foi entrevistada. A matéria está disponível pelo Globoplay.
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