Especialistas e industriais destacaram desafios para implementar projetos inovadores e sustentáveis

Os principais entraves para que as indústrias de Santa Catarina assumam um maior protagonismo na adoção de projetos e iniciativas que reduzam sua pegada de carbono e invistam na transformação digital são o acesso a recursos e a necessidade de uma mudança cultural em relação a inovação e novas tecnologias. A avaliação é dos palestrantes e painelistas que participaram do segundo evento da Jornada Radar Reinvenção, que a Federação das Indústrias de SC organizou nesta quinta-feira, dia 13, em Chapecó. 

Para o presidente da entidade, Mario Cezar de Aguiar, apesar de Santa Catarina ser um estado referência, com uma das indústrias mais competitivas do país, não pode ficar na sua zona de conforto. “É preciso olhar para o futuro e encarar temas como a descarbonização e a transformação digital como oportunidades, e assumirmos mais uma vez o protagonismo”, afirmou em sua participação via transmissão online no evento.

O vice-presidente regional Oeste da FIESC, Waldemar Schmitz, destacou que o estado tem uma vantagem nesse cenário, com uma abordagem integrada de tecnologias avançadas e práticas empresariais ecológicas. “A sinergia entre tecnologia e sustentabilidade pode transformar a indústria catarinense em uma indústria mais eficiente”, destacou.

Na avaliação do diretor de inovação e competitividade da FIESC, José Eduardo Azevedo Fiates, a indústria precisa estar preparada para aproveitar cada vez mais a relação, a colaboração e até a competição para gerar cada vez mais resultados inovadores para a indústria de SC, reconhecendo que a descarbonização é grande oportunidade.

Cultura e pessoas

Para que todo o potencial da descarbonização e da transformação possa ser aproveitado pelas indústrias e convertido em mais eficiência, competitividade e otimização de recursos ambientais, é preciso mudar a mentalidade das pessoas. “Não basta mais fazer o que a legislação exige em termos de sustentabilidade. O empresário precisa atender a demandas legais e também dos clientes e da sociedade”, destacou Alceu Lorenzon, diretor da Alcaplas. 

O  presidente da Master Agroindustrial, Mario Faccin, citou o exemplo da empresa, que até janeiro deste ano tinha ações de sustentabilidade esparsas e sem direcionamento. “Fizemos parceria com SENAI para um diagnóstico das iniciativas e colocá-las dentro da metodologia, para incluir na jornada ESG da Master. Mais importante do que dizer como você faz, é contar como você faz, principalmente em uma atividade como a suinocultura, que era rotulada como problema ambiental”, afirmou Faccin. 

Para o consultor Paulo Herrmann, a produção agropecuária brasileira tem potencial para aumentar 40% nos próximos 30 anos. “Isso vai ter de acontecer de maneira diferente do que nos últimos 50 anos, de forma mais eficiente, mais intensiva e que poupe mais os recursos naturais”, salientou. 

Quando o assunto é transformação digital, a percepção é a mesma. “ A transformação digital é na verdade uma transformação cultural. Precisamos formar talentos com novas habilidades e capacidades. Hoje, a mão de obra especializada é escassa e cara, praticamente inexistente quando se fala em inteligência artificial e ciência de dados, por exemplo. As empresas precisam de mudança sistêmica, que inclua estratégia, gestão e cultura”, explicou Andreia Dietrich, consultora da Ambidestra.

Recursos

A mudança cultural passa também por políticas públicas e pela maneira como as instituições financeiras pensam a concessão de crédito para projetos de inovação em sustentabilidade ou transformação digital. Isso passa por linhas de crédito mais adequadas à realidade dos pequenos negócios, por exemplo, e pelo maior volume de recursos disponíveis.

Na avaliação da diretora de operações do Grupo Cetric, Loana Defaveri Fortes, o mercado financeiro poderia dar mais atenção a projetos de descarbonização, com linhas de crédito mais atrativas. Mas esse nem sempre é o principal entrave para o investimento, de acordo com ela. “Muitas vezes o empresário desiste por questões legais e demora burocrática, como licenciamentos ambientais.”

O vice-presidente estratégico da FIESC e presidente da Aurora Coop, Neivor Canton, destacou a importância de os investimentos serem tão sustentáveis como os projetos que financiam. “Empresário tem sempre a preocupação de que o que ele venha a fazer seja sustentável, sem excluir a questão econômica, fazendo avanços na medida em que o retorno seja dentro de padrões aceitáveis de payback, por isso o crédito é essencial”. 

Para o CEO da Neoliderança, Alex Marson, a viabilidade econômica para a transformação digital em negócios de todos os portes precisa ser contemplada. “Os pequenos e médios negócios precisam ficar atentos a editais para inovação com recursos não reembolsáveis”, destacou.

O CEO da PPI-Multitask, do grupo WEG, Marcelo F. Pinto, destacou que, para muitas empresas, a única maneira de conseguir desenvolver o projeto é contando com linhas de fomento e com o apoio de institutos de inovação e pesquisa. Um exemplo disso é a parceria firmada entre a PPI com o SENAI para desenvolver novo produto para auxiliar as pequenas empresas nos seus primeiros passos na jornada da transformação digital. “Pequenos, médios e grandes negócios estão em momentos diferentes nessa jornada e mesmo em grandes empresas existem departamentos e áreas com realidades distintas. Precisamos identificar o ponto de partida, respeitando as maturidades e aí fazer um plano passo a passo para mudança de cultura que nos levam a abrir o olho para novas oportunidades,” destacou.

Na análise de Joni Hoppen, diretor da Aquarela Analytics, as empresas catarinenses precisam aprender a fazer bons projetos para esses editais.  “Minimizar o risco da inovação pode não ser a melhor estratégia, porque pode indicar que o que está sendo proposto já está testado e validado”, destacou. 

Monetização de ativos

Outro desafio a ser superado é a monetização de ativos como créditos de carbono. O consultor Paulo Herrmann explicou que o Brasil tem tecnologias de incorporação de carbono, mas não consegue monetizar esse ativo. “Somos o país que mais recicla embalagens plásticas de produtos químicos, mas isso não é contabilizado”, afirmou.

Pedro Guilherme Kraus, CEO na Lux Carbon Standard, destacou que o carbono é um ativo financeiro, mas que para ser negociado precisa ter lastro. “ A integridade dos créditos, a transparência e a segurança são essenciais para que os créditos de carbono tenham valor como ativos financeiros aptos a serem comercializados”, explicou.