Evento virtual foi realizado na última semana pela CNA com o apoio do Sistema Faesc/Senar

 

“O Agronegócio Brasileiro e o Protagonismo no Cenário Global” foi destaque na última sexta-feira (27), durante palestra on-line promovida pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com o apoio do Sistema Faesc/Senar. Conduzido pelo coordenador do Núcleo Econômico da Diretoria Técnica da CNA, Renato Conchon, o evento reuniu produtores rurais, dirigentes sindicais, técnicos e lideranças do agro de Santa Catarina e de todo o país.

Em pauta, os principais desafios e oportunidades do setor agropecuário em um mundo cada vez mais impactado por fatores climáticos, geopolíticos e tecnológicos. Conchon iniciou sua apresentação destacando a conjuntura econômica internacional, a economia brasileira e os impactos diretos no agronegócio – pilares que moldam o desempenho do setor rural.

Ele realçou que cinco grandes tendências impactarão profundamente a sociedade brasileira nos próximos anos. Destacou que todas elas influenciarão diretamente o comércio e a forma como os negócios serão conduzidos daqui para frente. “A primeira está relacionada à mudança climática”, frisou.

De acordo com o palestrante, o clima está se transformando de maneira acelerada e isso já apresenta reflexos claros nas atividades econômicas. “Nos últimos anos, houve um aumento expressivo na ocorrência de desastres naturais — eventos que têm causado perdas significativas, tanto de vidas humanas quanto de patrimônio”.

Conchon também falou sobre o impacto das mudanças climáticas na formação de preços agrícolas e alertou para o risco de escalada do número de eventos climáticos extremos e pessoas afetadas.

Além disso, o especialista apontou os efeitos das guerras e tensões geopolíticas sobre os preços dos insumos, como fertilizantes. Comentou que 45% de todas as exportações globais de ureia passam pelo estreito de Ormuz. Já no caso dos alimentos, trouxe dados que mostram que a alocação dos gestores de fundos em commodities caiu para o menor nível em mais de sete anos, segundo a pesquisa global de gestores de fundos do Bank of America. Também frisou que os investidores estão com o menor peso em commodities desde junho de 2017, conforme o Bank of America.

AVANÇO DA IA

Outro destaque da apresentação foi o avanço da Inteligência Artificial (IA) e suas principais aplicações. Conchon apresentou referências visuais com base nos relatórios “Kinea Insights” e reforçou que a IA está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e das empresas.

O especialista apresentou investimentos anunciados por empresas em IA nos EUA e na China. “São quase 400 bilhões de dólares previstos para 2025 – o equivalente a 15% do PIB brasileiro. É uma tendência que não voltará”.

A explanação deixou claro que os investimentos em empresas de tecnologia e desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial não trazem apenas inovações, mas também implicam em impactos diretos na vida real: o elevado consumo de energia elétrica e o uso intensivo de água.

“Cada pergunta feita a um modelo como o ChatGPT consome cerca de 10 vezes mais eletricidade do que uma busca comum na internet. Para se ter uma ideia da magnitude, em 2025 o consumo de energia pelas empresas que operam servidores de Inteligência Artificial totalizará 415 terawatts-hora — o equivalente ao consumo anual da Arábia Saudita. Para 2030, a previsão é que suba para 945 terawatts-hora, ou seja, o consumo do Japão. É muita demanda de energia elétrica para rodar uma só tecnologia”, ressaltou Conchon.

Ele também comentou que entre 20 e 50 consultas ao GPT-3 resultam na evaporação de cerca de meio litro de água. Além disso, destacou que, apenas em julho de 2022, foram consumidos 43 milhões de litros de água no treinamento de uma versão da ferramenta em Iowa (EUA), o que equivale a 6% da água consumida no distrito naquele mês.

Por fim, entre outros assuntos, Conchon apresentou uma análise da economia dos Estados Unidos. Indicadores como a inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) mostram uma alta sustentada, enquanto o índice de confiança do consumidor apresenta sinais de queda. De acordo com o especialista, a produção industrial segue aquecida, especialmente por conta da demanda das famílias, mas o consumo tem se reduzido gradualmente. “A poupança gerada durante a pandemia parece ter acabado”, afirmou.

O presidente do Sistema Faesc/Senar, José Zeferino Pedrozo, reconheceu a qualidade do conteúdo da palestra e ressaltou a importância da participação do setor produtivo catarinense e de todo o país no evento. “Momentos como este ampliam a visão estratégica dos dirigentes, produtores e técnicos, permitindo que alinhemos nossas ações às tendências globais que afetam diretamente o agronegócio. A informação qualificada é fundamental para anteciparmos desafios e aproveitarmos as oportunidades que surgem nesse cenário de constantes transformações”.