Em entrevista à Folha Regional, de Tubarão, Matheus Madeira, presidente do PT em Tubarão, diz que prioridade é chegar às Câmaras

Depois da eleição anterior, em pleno auge da onda Bolsonaro, quando a esquerda em geral teve grandes dificuldades para conquistar os votos nos municípios, o PT de Tubarão se prepara para outubro com perspectivas mais positivas. 

O presidente municipal do partido, Matheus Madeira, jornalista e pré-candidato a vereador, diz que a meta em geral é retomar espaço nas Câmaras de Vereadores, principalmente nas cidades maiores da região. O partido aposta também no fortalecimento da esquerda, em um movimento que teria ficado mais evidente com a ida de Décio Lima para o segundo turno na eleição ao governo do Estado. “Não tenho dúvida de que está havendo uma reconstrução. O fundamental nesta eleição é fortalecer o partido nas Câmaras de Vereadores”, avalia.

Chapa com PV e PCdoB

A gente está priorizando até 6 de abril – que é o prazo limite para filiação – fazer as filiações para composição da chapa proporcional. Temos quatro nomes levantados como possíveis pré-candidatos à chapa majoritária: Olávio Falchetti, Professor Paulão, Matusa e José Fontoura. Todos já são filiados ao PT. Então a gente não precisa priorizar isso nesse momento. Tem uma novidade que é a federação. O PT vai concorrer com PV e PCdoB, que estavam desativados, mas estão se reconstruindo. A gente está coordenando o trabalho desses três partidos, porque vão formar chapa única. É possível que aconteça de o PV colocar três candidatos, o PCdoB mais três, e o PT 10 candidatos. É o acordo. 

PT nas Câmaras 

A gente tem aproximação com o Psol e uma conversa com o PDT. São grupos pequenos, mas com quem a gente certamente vai discutir a composição majoritária, embora esteja priorizando a eleição proporcional. Nossa prioridade é voltar para a Câmara. É um cenário geral no Estado: o PT perdeu muito espaço nas Câmaras. Só temos um vereador na Amurel, em Armazém. No sul do Estado inteiro temos três vereadores: Armazém, Araranguá e Forquilhinha. O PT foi meio que varrido das Câmaras. O grande objetivo dessa eleição vai ser retomar o espaço no Legislativo. Claro que onde der para disputar a majoritária tanto melhor.

Meta para 2024

Na eleição passada faltaram 300 votos para a gente eleger um vereador em Tubarão. Aquele momento era uma lua de mel do governo Bolsonaro. Foi muito ruim aquela eleição para a esquerda. A gente entende que o cenário melhorou muito. Nossa chapa também melhorou. Com a junção das candidaturas com a federação, temos a expectativa realista de eleger dois vereadores em Tubarão. Dá para chegar lá.

Cenário favorável   

Tem uma conjuntura mais favorável este ano. Por mais que talvez a maior parte das pessoas seja contrária e não tenha votado em Lula, o governo federal está conseguindo apresentar alguns resultados práticos. Tem um cenário melhor, a chapa é mais forte. Tem pessoas que na eleição passada não quiseram ser candidatas para evitar conflito familiar e que nesta eleição vão concorrer. A chegada de candidatos do PV e PCdoB traz votos de grupos diferentes, principalmente PV, que não é tão identificado com a esquerda.

Articulação nos municípios

Em muitos municípios o PT foi desarticulado. A eleição passada foi a primeira em que não se podia fazer coligação na proporcional. Em muitos municípios o PT não conseguiu apresentar chapa. Agora na eleição deste ano o PT tem uma movimentação boa em Laguna, com a pré-candidatura do Célio Antônio e três ex-vereadores como pré-candidatos à Câmara. Tem movimentação legal em Imbituba também com a pré-candidatura da Graciela Wiemes Ribeiro, que já foi secretária da Saúde. Em Santa Rosa de Lima, que já tem o prefeito Salésio Wiemes, temos a pré-candidatura da Siuzete Vandresen Baumann, secretária de Saúde. O ex-vereador Cléber Silva é pré-candidato em Braço do Norte. Em alguns municípios o partido está desarticulado, mas em outros está renascendo, principalmente nas cidades maiores.

Extrema direita

A região abraçou muito as bandeiras da extrema direita. Isso dificultou muito. Era difícil convencer uma pessoa a ser candidata à vereadora pelo PT, porque isso dava conflito dentro da família. A pessoa é filiada, mas não queria ir para aquele enfrentamento. Foi um momento muito ruim. Bolsonaro estava em ascensão muito grande. Na segunda metade do governo é que ele foi se desgastando a ponto de perder a eleição. Mas na primeira metade aquele movimento era muito forte. Em muitas cidades o partido se desarticulou completamente. Quando isso acontece, reconstruir e fazer chapa inteira de vereador é complicado. Fazer do zero é difícil.

Eleição depois da Mensageiro

No aspecto da transparência e honestidade, nosso governo (2013 a 2016) é muito bem avaliado. Talvez seja isso de que a cidade precise de novo. Esse é o argumento que a gente vai usar para convencer o Olávio Falchetti a topar a candidatura de novo. A gente está deixando esse assunto adormecido até o prazo final das filiações para ter um foco. Mas vai chegar um momento em que a gente vai ter que conversar com ele.

Olávio Falchetti 

Todo mundo entende que o Olávio seria a candidatura ideal, por ele ter uma experiência administrativa importante e aprovada, principalmente na questão da transparência e honestidade. Tubarão precisa voltar a ter um choque de credibilidade. Mas acho que o Olávio precisa sentir que as pessoas querem. Ele tomou a decisão de se aposentar, não ser mais candidato. Então a gente está tentando fazer ele reavaliar a decisão. Vai depender do cenário. 

Coligações

A gente tem possibilidade de discutir coligação. Não vamos discutir com o PL por deliberação nacional e por divergência natural. Mas com os demais partidos podemos conversar, alguns partidos mais à esquerda, como Psol e PDT, e também outros partidos, como MDB e PSDB. A gente tem total possibilidade de conversar com quem quiser construir um cenário de renovação para a cidade.

Negociações

Assim como estamos fazendo, todos os partidos estão focando na proporcional agora. Até porque a força que cada partido vai ter depende disso. Está todo mundo nesse compasso. Quando acabar o prazo de filiação, aí sim essas conversas vão começar a acontecer. Tem quem ache que PSD e PL vão estar juntos, tem quem ache que não. O Jairo (Cascaes, prefeito de Tubarão) é um cara com quem a gente se dá bem. Mas vai depender da conjuntura. A gente não pode estar junto com quem estiver com o PL. 

Chapa diversa

Filiação em massa não dá tanto resultado. A campanha de 2022 foi muito boa para a gente fazer conversas e filiar pontualmente pessoas que hoje estão na chapa para serem candidatos a vereadores. A nossa ideia é ter a chapa mais ampla possível, mais representativa possível. Em Tubarão, a perspectiva é de que nossa chapa seja meio a meio, metade homem, metade mulher, acima da cota de gênero. Tem bastante mulher se apresentando. A gente está vindo para reconstruir. Há várias demandas sociais que hoje não se tem por onde começar. Por mais que seja uma condição de minoria, é alguma coisa.

Aposta na esquerda

Não tenho dúvida de que a esquerda está crescendo no Estado. A ida de Décio Lima para o segundo turno mostra isso, porque tudo é cíclico, nada é eterno. Acho que vão acontecer alguns bons resultados. Tomara que Tubarão e região estejam nesse bolo.

Comparação como estratégia

A comparação entre governos é fundamental. Hoje tem gasolina mais barata do que no tempo do Bolsonaro, os preços nos mercados estão mais baixos, há perspectiva de construção da casa própria. No governo do Bolsonaro, que a região endossou, a gente não teve nenhuma obra significativa aqui. Nenhuma. Não tem nada. Tem muitos resultados para comparar os governos e mostrar também que o PT faz muita falta na Câmara. Não só a Operação Mensageiro, mas, por exemplo, a situação da Unisul, que foi repassada para um grupo privado e praticamente se acabaram as aulas presenciais, são assuntos que a Câmara não discute. Hoje falta oposição. Tomara que a população vislumbre isso e coloque uma oposição do PT lá. Se tivesse vereador do PT, não teria sido a mesma coisa.

Folha Regional, de Tubarão, associado da Adjori/SC