Educação: requisito fundamental do desenvolvimento e um direito constitucional, é tratada no 5º Educasul, em Florianópolis, para quase mil educadores procedentes de 197 regiões do país

Uma das maiores demandas da população, requisito fundamental do desenvolvimento e um direito constitucional, mesmo assim a educação continua a ser um dos piores serviços do Estado. Em praticamente todo o Brasil, o desempenho da escola pública é fraco, para dizer o mínimo. A atuação dos políticos e dos professores apenas denuncia o pacto que permite a perpetuação da mediocridade.

As observações são de Rubem Alves, psicanalista, professor emérito da Unicamp, bacharel em Teologia e Pedagogia, mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary em Nova Iorque, doutor em Filosofia e autor de mais de 50 títulos voltados para adultos e crianças, muitos dos quais com enfoque na vocação do professor. Ele foi um dos destaques do 5º Educasul realizado no final de semana em Florianópolis com a presença de aproximadamente mil educadores procedentes de 197 regiões do país.

ALERTA

Rubem Alves disse que educação não tem nada a ver com fazer escolas, e tem tudo a ver com o ato de estar com as crianças e os adolescentes. “O aprendizado ‘a fim de’ passar nos vestibulares – aprendizado que é logo esquecido, passado os exames – poderia ser substituído pelo aprendizado em função do prazer e da utilidade. E assim se iniciaria o cultivo do tipo de inteligência essencial ao desenvolvimento da Ciência: só é bom cientista aquele que pensa como brinca”.

Ele frisou que educar significa criar pessoas que sejam bonitas, íntegras, que tenham gosto pela leitura e música, por exemplo. Mas, ao contrário, a atual tarefa dos educadores em sala de aula passou a ser a de “controlar a classe” e de “domar as feras”. O fundamental é ensinar a reverência pela vida, porque a vida de cada um é sagrada e todos só estão em busca de alegria. “Mas as escolas não sabem ensinar isso”, comentou.

Sobre as razões da mediocridade que domina o país, foi enfático: “Lamento dizer que os professores são culpados, em grande medida, por essa situação”. E explicou: “quando iniciei meu trabalho na universidade e fazia o percurso de trem entre minha casa e a escola, eu sempre observava muitos professores conversando entre si, falando de dinheiro, diversão e outros problemas, mas nunca ouvi qualquer professor falar de aluno”.

No Brasil os professores fingem que ensinam e o poder público simula o justo pagamento das aulas. Os governantes declaram em discurso prioridade à educação, mas cortam verbas, pagam mal e relegam a administração.
É NECESSÁRIO ACORDAR
Dar prioridade à educação é uma mensagem que se repete a cada pesquisa de opinião. E, no entanto, o sistema educacional continua a deteriorar-se. “As mudanças acontecerão só quando os professores mudarem seus pensamentos e sentimentos em relação às crianças”, ensinou Rubem Alves. "É necessário acodá-los".

_ Nas escolas públicas o que predomina é a mentalidade de funcionário público, ou seja, a contagem dos dias para a aposentadoria.

Como em quase todas as gravíssimas deficiências do setor público, o fisiologismo, o corporativismo e a ineficiência resultam em mau atendimento à população. Pior ainda, além do desrespeito ao cidadão, o descaso para com o sistema educacional compromete – e muito - o desenvolvimento do país, disse.