Visando conscientizar e atuar na prevenção da violência existente em ambientes tão distintos quanto o escolar e o corporativo, está sendo realizado em Joinville o 1º Seminário de Bullying e Assédio Moral, promovido pela Escola do Legislativo em parceria com o Instituto da Cultura, Educação, Esporte e Turismo.
Dirigido principalmente a profissionais das áreas da educação, medicina e direito, o evento acontece durante a manhã e a tarde desta terça-feira (28), no auditório do Centro Diocesano de Pastoral, com a apresentação de palestras e debates entre especialistas no tema.
Abrindo o seminário, a psicóloga Gilda Menicucci, da Clínica de Psicolologia de Joinville, uma das apoiadoras do evento, afirmou que mudanças drásticas enfrentadas pela área da educação nas últimas décadas, tanto do ponto de vista do sistema de ensino quanto da formação das famílias, levaram educadores e jovens a uma situação de insegurança.
"Em uma ponta professores com alto nível de estresse e na outra ponta, alunos agressivos, tímidos, com problemas de aprendizagem. Somente com uma parceria entre escola e família no ato de educar, unindo conhecimentos, ética e responsabilidade, conseguiremos encontrar uma solução para esses problemas", disse.
Na mesma linha, o promotor de Justiça da Infância e Juventude de Joinville, Sérgio Joesting, acrescentou que atualmente as crianças acabam prejudicadas por viverem em um ambiente em que é comum a total falta de limites. "Após 20 anos da implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente, constata-se que ele foi mal interpretado. Precisamos mudar esse conceito: crianças não têm somente direitos, mas também deveres".
E instigou os presentes a agirem com mais rigor em relação aos seus filhos e alunos. "As crianças não são bibelôs que quebram com facilidade. Essa visão tem que mudar para que todos saiamos vencedores nessa luta", completou.
Palestras
Mais do que identificar as causas do bullying, os profissionais que estudam e combatem a violência infantil procuraram passar ao público as formas de se lidar com o problema.
Em sua palestra, intitulada "O que fazer com o que fazem conosco??, Maria Tereza Maldonado frisou que pais e profissionais da educação podem canalizar o fenômeno para o lado positivo. "Vemos que autores de bullying apresentam um sentido inato de liderança. Se for bem trabalhado, o instinto agressivo da criança pode ser transformado em algo construtivo?.
Mestre em Psicologia pela PUC-Rio e membro da American Family Therapy Academy, Maria Tereza acrescenta que programas anti-bullying devem envolver tanto escola quanto família, mas o ponto central precisa ser a criança. "Os alunos devem ser encarados não como parte do problema, mas como agentes da mudança. Autores de bullying precisam ser muito bem trabalhados para que possam ser redirecionados, estimulando-os a se colocarem no lugar da vítima".
A palestrante, que é autora de mais de 30 livros na área, preveniu que programas de prevenção à violência são complexos, e exigem o mapeamento do problema e o desenvolvimento de estratégias de ação, possibilitando resultados positivos somente a médio e longo prazo. "Precisamos colocar em prática no cotidiano das nossas escolas e famílias pequenos atos como solidariedade, amor e respeito, num verdadeiro pacto de convivência", completou.
A segunda palestra da manhã, intitulada ?Bullying in Drama?, da psicóloga psicodramatista Roberta Balsini, apresentou o depoimento de Camila, que, quando criança, foi vítima da perseguição dos colegas de escola por ser magra e usar óculos. No vídeo, a estudante informa que ainda hoje recorre à ajuda de terapeutas para enfrentar os prejuízos na autoestima, decorridos do bullying. "Sei que vou carregar sequelas pelo resto da vida. Por mais que queira cicatrizar essa ferida, as marcas sempre estarão ali, pois atingiram na alma", completou.
O caso, segundo Roberta, ilustra as diferentes formas como a prática do bullying pode se desenvolver. "Meninos concentram-se mais na violência física, enquanto as meninas recorrem mais à perseguição psicológica". Ela disse que, por mais graves que sejam, todos os casos possuem tratamento. "Conseguimos fazer grandes intervenções, reunindo vítimas e agressores, como o caso de um menino, que não lanchava na escola por medo de um agressor.
Depois do tratamento, vi a vítima sair com um sorriso que nunca tinha visto nele antes. É um trabalho de formiguinha, mas é prazeroso ver uma criança ter uma atitude de coragem aparentemente tão simples como comprar um lanche".
Roberta, que criou e coordena o projeto bullying na escola e integra o projeto "Cuidando de quem cuida", informou que pais e professores devem estar atentos aos sintomas de quem está sendo vítima do bullying, como apatia, ansiedade, piora nos resultados escolares, falta de vontade de ir à escola, etc. "Devemos manter a atenção muito focada para não deixarmos passar os sinais e podermos atuar na hora certa. Casos não tratados podem evoluir para casos de depressão, esquizofrenia ou até mesmo suicídio", informou.
Segundo ela, a implantação de um programa anti-bullying requer passos simples, como o levantamento do número de casos de violência e o engajamento de todos os professores da escola, que devem inserir o assunto em suas disciplinas. Outras medidas, como desenvolver o tema junto aos estudantes através de trabalhos escolares e o auxílio de psicólogos através de palestras, também auxiliam na busca de resultados positivos.
"Podemos buscar novos patamares dentro da educação, encontrando formas de atuar que levem em conta nosso potencial criativo. Para isso é preciso inovar e ter a coragem de chamar à escola os pais de alunos agressores e mostrar o que está errado", ensinou. (Alexandre José Back)
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