Os resultados do Pisa, mostram que muitos países não conseguiram melhorar o desempenho na educação. A falta do hábito da leitura entre os jovens tem impacto nesses resultados. Mas existem exceções. Para o jovem autor Fernando Rinaldi é impossível imaginar a vida sem livros.

Aplicado em 65 países para avaliar o nível educacional dos jovens, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) revelou uma crise no sistema de ensino em todo o mundo. Os resultados, divulgados na semana passada, mostram que muitos países considerados referência em qualidade de educação não conseguiram melhorar o desempenho. O Brasil, apesar de ter melhorado seus resultados, ficou em 54° lugar. Segundo especialistas da área, a falta do hábito da leitura é hoje um problema universal e tem impacto nesses resultados. O relatório do Pisa mostra que, em média, 41% dos alunos dos países avaliados leem somente se for necessário. Um terço afirma que ler é um dos hobbies favoritos e quase um quarto diz que a atividade é "perda de tempo".

Para o jovem autor Fernando Rinaldi, de 21 anos, é impossível imaginar a vida sem livros. Ávido leitor de grandes obras nacionais e internacionais, como as de Clarice Lispector e de Fiódor Dostoiévski, ele acaba de lançar o seu primeiro romance, que elaborou entre os quinze e dezoito anos de idade. Tendo o seu título inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade, o livro Quadrilha (208 p., R$ 25,00), da Editora Arte Paubrasil, narra, em prosa poética, os conflitos existenciais de quatro protagonistas. Rinaldi é também autor de vários poemas, alguns publicados na abertura dos capítulos do livro Criando adolescentes em tempos difíceis, (Summus Editorial), da psicóloga Elizabeth Monteiro, e fez um curso de roteiro na Academia Internacional de Cinema, que o ajudou a compor uma obra extremamente original quanto à sua estrutura. Em plena produção literária, ele já começou a escrever o segundo romance e pretende lançar ainda um livro de contos.

"Minha casa é cheia de livros. Meus pais sempre leram muito e valorizam bastante o estudo e a leitura. Eles são o meu grande incentivo", conta Rinaldi, que escreve desde criança, quando já criava histórias e desenhava seus próprios personagens. Ainda no colégio, escrevia os textos publicados nos folhetos internos e também as peças interpretadas no teatro. "Conforme fui amadurecendo, meus escritos se tornaram mais adultos, com tramas mais complexas", afirma o jovem autor.

 

O livro

Influenciado pelos escritos psicológicos de Clarice, ele trata, no livro Quadrilha, do já conhecido tema conflito familiar de forma ímpar, além de abordar outros assuntos polêmicos, como eutanásia, adultério e homossexualidade de maneira precisa. Ao longo do livro, o leitor mergulha no mundo psicológico dos personagens, descobrindo-os entravados a suas angústias, complexos e medos, viajando por uma linguagem literária repleta de metáforas e de simbologias. O texto todo é uma grande colcha de retalhos, em estrutura de flashback.

O autor inicia o texto com a apresentação dos quatro protagonistas da quadrilha, como um roteiro de teatro ou cinema, trazendo um novo formato ao gênero tradicional de romance. As personagens são narradas individualmente. Já os fatos que compõem a história estão enroscados num longo fio, com pouca noção de tempo ou espaço, e são revelados em linhas de poesia e prosa. Os conflitos se misturam também nas entrelinhas, deixando transparecer o sentimento dos protagonistas. "O sugerido diz mais que o revelado", complementa o autor. No último capítulo, quatro poemas contam verdades diferentes sobre a tragédia que permeia toda a história.

As narrativas giram em torno do irmão mais novo, Antônio, e sua tetraplegia, que pode ou não ser simbólica, dependendo da leitura realizada. O sentimento de solidão prevalece em todos os elementos da família e existe, ainda, uma barreira intransponível entre eles. A homossexualidade não é tratada como uma escolha e nem de maneira determinada. Para o autor, a adolescência é justamente uma fase de descoberta da identidade. "As experiências amorosas e sexuais de Cristina, por exemplo, contemplam essa necessidade", explica. A morte é um tema recorrente no livro, mas geralmente subentendido. E a questão da eutanásia é secundária, porque ninguém sabe, de fato, o que aconteceu com Antônio.

O objetivo é retratar a nova relação familiar e a falta de hierarquia em sua estrutura. "A família tradicional é uma instituição falida", afirma o autor que, num jogo constante de construção e desconstrução no desenvolvimento da trama, explora a intimidade das personagens. Dessa forma, o leitor depara sempre com uma surpresa, tornando a leitura da obra uma atividade não previsível. Existe, portanto, um quebra-cabeça tanto na história quanto na estrutura formal do livro.