Por Jorge Yunes*

A acessibilidade é um assunto que ao longo dos últimos anos tem ganha­do destaque nas ações do governo, na iniciativa privada e nas ONGs. Gran­de parte dessa mobilização deve-se ao decreto que garantiu aos deficientes o acesso às salas de aula regulares e que despertou nos professores, coordenadores, diretores, na comunidade escolar e na sociedade como um todo a atenção para as necessidades dessa parcela da população. Apesar de a discussão sobre acessibilidade extrapolar as questões educacionais, os dilemas do cotidiano escolar não deixam de ser importantes motivadores da articulação por melho­rias. Para garantir a acessibilidade nes­se meio é preciso que os profissionais estejam preparados e tenham o apoio de material didático adequado.

Sabemos que nem todos os títulos utilizados para as séries do Ensino Fundamental das escolas públicas (hoje cor­respondentes ao 1.º ao 9.º ano) foram adaptados, pois apenas os cinco títulos mais utilizados de cada disciplina são transcritos e adaptados por ano. Exis­te, principalmente, um déficit muito grande na área editorial de livros didá­ticos em Braille, que é muito específica e requer longo treinamento e experiên­cia prévia de profissionais em algumas etapas da produção. Poucos sabem que a adaptação de um livro escolar mobi­liza uma equipe altamente qualificada e numerosa. São estagiários, assisten­tes, dois editores (júnior e sênior), um controlador de página, dois revisores (um deficiente visual e um vidente, isto é, uma pessoa capaz de enxergar) e um especialista em editoração Braille.

Cientes da falta de profissionais para esse tipo de trabalho, e sensibiliza­dos com as dificuldades de acesso dos deficientes aos materiais educativos, as editoras associadas à Abrelivros inicia­ram uma parceria com a Fundação Dorina Nowill, entidade que há mais de seis décadas se dedica à inclusão social das pessoas com deficiência visual por meio da educação e cultura. O Projeto de Capacitação, desenvolvido pela Fundação e financiado pelas editoras li­gadas à Abrelivros, teve início em 2007 com a meta de atender a demanda do Ministério da Educação por livros esco­lares adaptados. O acordo prevê o investimento de R$1.059.200 das editoras para reforçar a produção desses mate­riais e estabelece que, até 2011, serão transcritos e adaptados 500 volumes di­dáticos anuais, meta determinada com base no número médio de títulos apro­vados para cada programa do governo.

O projeto já está capacitado para adaptar pelo menos 200 volumes didá­ticos dos 500 previstos para adequação anual. O maior desafio no momento é encontrar os profissionais que atendam os pré-requisitos para realizar esse tra­balho. Para a vaga de editor júnior, por exemplo, o profissional precisa ter formação superior na área de Artes, Biolo­gia, Exatas ou Humanas; conhecimento avançado do Sistema e da Simbologia Braille na disciplina em que é especiali­zado, e experiência mínima de 12 meses como assistente editorial. Já no caso dos revisores, é necessário que um dos pro­fissionais tenha todos os pré-requisitos e seja deficiente visual, o que dificulta ain­da mais a busca. As exigências devem-se à complexidade da adaptação de obras didáticas, pois incluem atividades como a reprodução de mapas táteis, ilustra­ções explicativas (fórmulas de matemá­tica, química etc.) e outras indicações des­tinadas à acessibilidade da pessoa cega.

Para os não didáticos existem alter­nativas ao Braille, como os livros falados e os digitais acessíveis, que permitem acesso a textos por meio de softwares que realizam leitura de telas no compu­tador. Esses livros servem não só para os cegos, mas também para idosos com dificuldade de leitura e pessoas com baixa visão. Passada a fase dos primeiros anos de formação escolar, é importante que a leitura seja mais rápida e prática, e já existem várias tecnologias e formatos que cumprem bem esse papel.

Os livros falados podem usar voz humana ou sintetizada. Embora o pro­cesso com voz humana seja mais lento, para o uso da voz sintetizada é neces­sário editar primeiramente o texto para corrigir termos em língua estrangei­ra, abreviaturas, símbolos, entre outros. Os livros digitais acessíveis podem es­tar no formato LIDA ou no formato DAISY. A Fundação tem todas essas opções e está sempre buscando otimi­zar os processos e melhorá-los para que fiquem mais rápidos e baratos.

A questão da acessibilidade evoluiu muito na última década, incluindo o acesso à informação. A tendência é que o cenário continue melhorando, mas para isso é preciso empenho de todos para que os deficientes visuais sejam cada vez mais independentes.

* Jorge Yunes é presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros)