Mercado de trabalho continua desigual. Mulheres ganham, em média, 30% menos

Jornal Linha Popular

Um levantamento feito em 134 países coloca o Brasil na penúltima posição quando o assunto é igualdade de salário entre homens e mulheres. Apesar da disparidade, há quem se mostre otimista, como a gerente de transporte Cristina Martins, 45.

Embora a área em que atue seja estritamente masculina, ela está no segmento de logística há 25 anos, diz acreditar que em uma década haverá igualdade na renda de homens e mulheres. "A mulher é bem aceita no mercado de trabalho. As diferenças vão sumir", diz.

A pesquisa, denominada índice Global de Desigualdade de Gênero, foi divulgada semana passada pelo Fórum Econômico Mundial. Outros levantamentos indicam que a diferença de renda gira em torno de 30%.

Assim, significa dizer que para uma vaga especifica que paga três mil reais, caso a oferta de trabalho seja preenchida por uma mulher, o salário ficará em torno de dois mil e cem reais. Esse levantamento é do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Em cargo de gerência há 15 anos, Cristina confirma que no emprego atual - onde está há sete anos - as diferenças são gritantes. "Aqui os homens ganham muito mais", fala. No entanto, ela não desanima e sabe bem aonde quer chegar.

Cristina sempre enxergou o segmento com bons olhos, tanto que entrou no setor tendo apenas o ensino médio. Para crescer, buscou formação e conseguiu se graduar em logística. Pouco tempo depois fez uma pós em gestão portuária.

"Dizem que a mulher tem carreira dupla, pois trabalha fora e cuida da casa. Bom, eu tive carreira tripla, pois entrei na faculdade estando grávida de um mês. Também sofri um acidente de trabalho, ainda grávida, e tive de parar um semestre, mas consegui", lembra.

'Há mito nisso'

O problema não é salarial, diz Jaqueline Brenner, headhunter (caça-talentos) de Balneário. Com passagem por empresas como Bunge e Habitasul, a profissional tem três décadas de experiência na área e garante nunca ter recebido menos por ser mulher.

"Existe um pouco de mito nessa história das mulheres ganharem menos", acredita. Dentro de um mesmo cargo, com a mesma competência, não há distinção salarial. Jaqueline montou seu próprio negócio em 2008, que entre os serviços, faz recrutamento para outras empresas. "Vem a vaga com o salário já definido e sem restrição relacionada a sexo", afirma.

A dificuldade pode vir durante o processo de seleção. "Em determinadas vagas, principalmente operacionais, a empresa quer maior disponibilidade. Numa disputa entre homem solteiro e mulher casada, há maior probabilidade de contratação do primeiro". A maternidade assusta alguns empresários, que veem como entrave para a contratação de mulheres.

Jaqueline, porém, ressalta que para muitas vagas, inclusive gerenciais, acontece o contrário. Uma preferência por mulheres, com a visão de que são mais atenciosas e dedicadas. Ela aponta também para a diminuição de funções que antes eram exclusivamente masculinas.

Na visão da especialista, no núcleo familiar a desigualdade é maior. "O homem não vai faltar ao trabalho para ficar com o filho doente".

Mudança de visão

A maior inserção das mulheres no mercado de trabalho, segundo Jaqueline, acontece por mérito delas próprias. "Culturalmente éramos educadas a estudar até o Ensino Médio, no máximo, e ficar em casa. Hoje é diferente, pois elas estão se capacitando e até dividindo funções domésticas com os homens".

Muitas de suas amigas largaram o emprego quando tiveram o primeiro filho. Depois não conseguiram retornar ao mercado. Hoje há mais preocupação em conciliar trabalho e família. Apesar de todo cenário apontado por alguns como incerto e por outros como consolidado, Jaqueline se diz otimista quanto ao futuro.