Emprego reage lentamente, mas massa salarial encolhe
O desempenho do mercado de trabalho no primeiro semestre de 2009, não foi satisfatório, contudo ficou acima das expectativas no início da crise nas economias doméstica e internacional. As evoluções dos níveis de ocupação e rendimento são bem inferiores às registradas no mesmo período de 2008.
Outros indicadores não reagiram tão mal, como foi o caso das taxas de desemprego e de informalidade. Além disso, no mês de junho registrou-se melhora em praticamente todos os indicadores, o que vem sendo interpretado por muitos analistas como uma possível evidência de que as maiores dificuldades teriam ficado para trás.
A má notícia fica por conta dos rendimentos dos trabalhadores. Aqueles com pelo menos ensino médio completo experimentam a maior perda salarial (3,9%) e representam o grupo com maior participação na população ocupada (em torno de 57% no primeiro semestre de 2009).
O Boletim chama a atenção para dois fatos com relação à massa salarial: ela sofreu uma queda contínua de janeiro a maio (aproximadamente 3%) e o nível que ela atingiu no segundo trimestre é inferior ao registrado no último trimestre de 2008. Segundo a publicação, esses são fatos preocupantes porque sugerem um possível desaquecimento do consumo das famílias, o que poderia dificultar uma possível recuperação da economia e do mercado de trabalho, ao menos no curto prazo.
A intensidade desta recuperação no segundo semestre de 2009 vai depender, portanto, da velocidade na retomada dos investimentos.
O Boletim traz ainda diversas notas técnicas. A primeira nota, de Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresenta o índice de medo do desemprego, elaborado e divulgado pela CNI. Esta estatística reflete as expectativas do comportamento do mercado de trabalho no curto e médio prazos.
A segunda nota trata do impacto da crise sobre as mulheres e conclui que as mulheres foram mais afetadas na evolução do nível de ocupação.
Carlos Henrique Corseuil, Rodrigo Dias, Miguel Foguel, e Daniel Santos, pesquisadores e bolsistas do Ipea, assinam a terceira nota, que discute o custo da perda de um emprego formal no Brasil. Os autores usam episódios de demissões nos dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais/MTE), entre 2000 e 2006, para analisar tanto o tempo que o indivíduo leva para se reempregar no setor formal, como para comparar o salário de reemprego com o que vigorava no momento da demissão.
Os resultados apontam que 38% dos indivíduos não conseguem se reempregar no setor formal num prazo de até um ano, e que há uma perda salarial de aproximadamente 13% associada à demissão.
A proposta da última nota técnica é verificar em que nível se dá a contribuição do seguro-desemprego para atenuar os efeitos da crise no mercado de trabalho. Os autores Brunu Amorim e Roberto Gonzalez, também pesquisadores do Ipea, contrastam a cobertura e a taxa de reposição deste mecanismo com a duração do desemprego. Os resultados indicam que seguro-desemprego atua como mecanismo de estabilização eficaz, mas apenas por um período relativamente curto.
Além dessas notas, e de uma breve análise centrada nos resultados disponíveis para o primeiro semestre dos principais indicadores do desempenho do mercado de trabalho, este número reúne também três ensaios sobre economia solidária, enfocando o processo de institucionalização das políticas de apoio ao setor.
Veja os novos números e a íntegra da publicação trimestral da Diretoria de Estudos Macroeconômicos hoje no site do Ipea (http://www.ipea.gov.br).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos, o Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais, possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiro, e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos.
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