Apesar da elevação da inadimplência em janeiro, a melhora da condição financeira do consumidor brasileiro permitiu que mais famílias conseguissem quitar as dívidas em atraso
A inadimplência do consumidor brasileiro no comércio apresentou crescimento de 11,8% no primeiro mês de 2013, na base de comparação com janeiro do ano passado. Os dados são do indicador mensal do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas).
O resultado ainda é consequência do cenário macroeconômico de 2012, mais favorável ao consumo, combinado com política fiscal expansionista, afrouxamento monetário e falta de planejamento do consumidor, avalia a economista do SPC Brasil, Ana Paula Bastos.
“O elevado nível de emprego em situação recorde e os ganhos salariais acima da inflação permitiram ao consumidor facilidades na concessão de crédito, mas aqueles que têm menor controle sobre o próprio orçamento acabam não conseguindo honrar todos os seus débitos”, explica a economista.
Para o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, o avanço da inadimplência preocupa o comércio diante de um cenário que sinaliza maior pressão inflacionária — o IPCA de janeiro, calculado pelo IBGE, foi de 0,86% e atingiu o maior patamar de variação mensal dos últimos oito anos e se aproxima, no acumulado em 12 meses, do teto da meta estipulada pelo governo.
“Se a taxa de inadimplência se mantiver resiliente neste patamar pelos próximos meses, há risco de o governo interromper o ciclo de manutenção da Selic e, dessa maneira, inibir o consumo”, conclui.
Recuperação de crédito
O número de cancelamentos de inclusões de CPFs no cadastro de devedores do SPC Brasil — que reflete a recuperação de crédito no varejo e a quitação de dívidas — apresentou sinais positivos em janeiro de 2013 e encerrou o mês com variação de +5,92% sobre o mesmo mês de 2012.
De acordo com Ana Paula Bastos, o crescimento salarial acima da inflação é um dos fatores principais para explicar a escolha do consumidor endividado em dar prioridade a quitar ou renegociar dívidas.
Em relação a dezembro de 2012, a recuperação de crédito registrou um decréscimo de -6,91% devido aos efeitos da sazonalidade. Como dezembro é um mês atípico, no qual há uma injeção relevante de recursos do 13º salário, é natural que parte dos consumidores opte por regularizar suas dívidas, tornando o mês uma base desigual de comparação frente a janeiro do ano seguinte.
Vendas
O número de consultas realizadas no banco de dados do SPC Brasil, que dá medida ao volume de compras a prazo no varejo, apresentou uma elevação de +3,88% na base comparativa de janeiro de 2013 com igual mês do ano passado.
O desempenho positivo na atividade do comércio em janeiro se deve à farta oferta de crédito com prestações alongadas, ao aumento da renda do trabalhador e à ampliação do emprego formal.
“Em janeiro do ano passado, o mercado de consumo vivia um momento de maior cautela em função da menor disponibilidade de crédito e dos juros maiores. Além disso, as medidas expansionistas do governo para impulsionar o consumo ainda eram recentes e não exerciam efeito”, observa Ana Paula Bastos.
Em contrapartida, a comparação entre janeiro de 2013 e dezembro de 2012 mostra queda no volume de vendas a prazo: -24,53%. O SPC Brasil e a CNDL explicam que embora janeiro seja um mês no qual prevalecem as ofertas e liquidações pós-natalinas, ele também concentra despesas familiares com itens escolares e compromissos fiscais como IPTU e IPVA, que inibem o consumo.
Dezembro é tradicionalmente o melhor mês para o comércio varejista, de maneira que uma queda no índice de vendas no mês seguinte é observada com normalidade. “É natural uma queda no índice de vendas após uma data de grande festa do comércio. O consumidor que tinha o interesse em realizar compras já havia se planejado para ir às lojas no Natal”, esclarece Ana Paula.
Expectativas de crescimento em 2013
De acordo com Pellizzaro Junior, em 2013, o segmento varejista deve apresentar novamente um crescimento satisfatório, repetindo o desempenho do ano passado, em que houve um certo descolamento do setor frente ao tímido resultado do PIB nacional.
Apesar do otimismo, ele faz uma advertência: “A expectativa é de uma retomada declinante da inflação no decorrer dos próximos meses, pois do contrário, o poder de compra dos consumidores poderá ser comprometido”.
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