Pesquisa divulgada nesta terça-feira (1), no Rio de Janeiro, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que as famílias brasileiras estão otimistas em relação ao país, apesar das medidas tomadas pelo governo para frear o ritmo de crescimento da economia.

A sexta edição do Índice de Expectativas das Famílias (IEF) mostra que a expectativa dos brasileiros atingiu em janeiro 67,2 pontos, 4,02% a mais do que o índice apurado em dezembro do ano passado, que foi de 64,6 pontos.

"Esse é o maior índice alcançado em seis meses", destacou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. Quando a pesquisa foi iniciada, em agosto de 2010, o índice era de 62,8 pontos. De lá para cá, o indicador subiu 7%. A pesquisa de janeiro foi feita em 3,8 mil domicílios de 214 municípios.

Segundo Pochmann, a população ainda não sentiu os efeitos das medidas de restrição ao consumo. "Pela expectativa em relação às decisões de compra e a avaliação sobre a situação financeira e econômica para os próximos 12 meses, a pesquisa mostra aumento do otimismo das famílias em relação a perspectiva de consumir mais".

Sem dívidas

A pesquisa revela que 50,6% das famílias brasileiras, ou cerca de 73,4 milhões de pessoas, declararam não ter dívidas em janeiro deste ano.

Em agosto de 2010, quando a série da pesquisa começou, 66 milhões de pessoas (45,5% do total) não estavam endividadas. As que tinham dívidas àquela época somavam 79 milhões de pessoas. Agora, esse número caiu para 71,6 milhões.

O Ipea considerou brasileiros maiores de 16 anos. A análise por faixa etária evidenciou que as famílias com maior a idade têm dívidas menores. Entre 50 e 59 anos e de 60 anos ou mais, o percentual dos que não têm dívidas é de, respectivamente, 52,4% e 67,6%.

"Há um processo de aprendizagem que indica que à medida em que o brasileiro vai tendo acesso a mais crédito, a mais bancos, ele vai aprendendo e sabendo usar de forma adequada esse mecanismo importante que é o crédito", disse Pochmann.

Sobre a capacidade de pagamento de contas atrasadas, o IEF apontou que 32,2% das famílias não têm condições de quitar os débitos. Entre as regiões, a situação é pior no Norte, onde 48,4% acreditam que não terão condições de pagar as contas em atraso.

Apesar disso, a situação melhorou no país como um todo entre os que não terão capacidade de pagar as contas atrasadas. Em agosto de 2010, o índice era de 37,8% e, em dezembro passado, de 36,3%.

Emprego

Do total de famílias pesquisadas, 79,6% acreditam que não estão ameaçados de perder o posto de trabalho. Esse é o maior índice de segurança na ocupação em seis meses. O otimismo é maior na região Sul (89,2%) e menor no Nordeste (72,3%).

Somente 39,1% dos brasileiros disseram que vão melhorar dentro de sua ocupação. A melhor avaliação foi observada no Sul, onde 53,3% acreditam que vão ascender profissionalmente, enquanto no Norte é de 23,3%.

Melhora da expectativa no Sul

Os mais otimistas estão na Região Centro-Oeste, que registrou 76,6 pontos, 8,6% a mais do que a pontuação de dezembro (70,5 pontos). Em relação a agosto de 2010, quando a pesquisa foi iniciada, o registro é de queda do otimismo das famílias que vivem nas regiões Norte (- 2,1%) e Nordeste (- 1,8%), e de melhora das expectativas no Sul (+ 12,9%), Centro-Oeste (+ 12,5%) e Sudeste (+ 11,8%).

Desconexão

O presidente do Ipea admitiu que existe, de acordo com o IEF, uma desconexão entre as expectativas das famílias e as decisões que estão sendo anunciadas pelo governo federal. Embora a projeção seja de desaceleração do crescimento econômico, as famílias têm a percepção de que estarão em situação melhor do que há um ano.

O Ipea projeta para este ano crescimento pouco acima de 5%. "Em algum momento, haverá algum ajuste, seja do ponto de vista das decisões governamentais, para desacelerar ainda mais a economia, ou uma melhor decisão, por parte dos consumidores".

A pesquisa mostra que as pessoas com maior renda e maior escolaridade tendem a ter uma perspectiva mais otimista em relação à situação econômica e financeira do país.

Pochmann lembrou que, na saída da crise internacional de 2008, ocorreu uma recuperação de empregos na base da pirâmide social, principalmente nos setores ligados à construção civil, à indústria e ao comércio. "Hoje, nós percebemos que o avanço dos investimentos vem permitindo às empresas contratar pessoas com mais alta escolaridade e remuneração mais alta".

Por outro lado, a escassez de mão de obra qualificada faz com que as empresas passem a remunerar um pouco melhor os seus trabalhadores". Isso aumenta o otimismo nas chamadas classes mais favorecidas".

Situação Econômica

A expectativa das famílias sobre a situação econômica do Brasil nos próximos 12 meses é de melhoria para 64% dos entrevistados. Esse índice sobe para 68,1% na região Centro-Oeste. Nos próximos cinco anos, a percepção é de melhoria da situação para 60,92% das famílias e de piora para 12,41%. De novo, o Centro-Oeste apresenta a melhor expectativa no médio prazo: 72,2%