Conforme a entidade, grão estará caro e escasso, e a situação somente irá melhorar no segundo semestre, com a entrada da chamada safrinha

O abastecimento de milho para as cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura industrial em Santa Catarina enfrentará problemas no primeiro semestre deste ano, conforme avaliação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo. Ele explica que o grão estará caro e escasso, portanto, com preço em ascensão. A situação somente irá melhorar no segundo semestre, com a entrada da chamada safrinha.

De acordo com dados da Faesc, Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial do Brasil, representado pelas avançadas cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Essa estrutura gera uma riqueza econômica de aproximadamente um bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, mantendo 150 mil empregos diretos e indiretos e gerando bilhões de reais em movimento econômico.

Pedrozo destaca que um dos principais insumos para o funcionamento dessas gigantescas cadeias produtivas é o milho. "O sucesso ou o fracasso da cultura do milho reflete diretamente na economia catarinense", diz ele.

Produção

Embora seja tão essencial, a cultura do milho está encolhendo. Em 2005, 106 mil produtores rurais catarinenses cultivavam 800 mil hectares com milho e colhiam entre 3,8 e 4 milhões de toneladas do grão. Nesses dez anos, a área plantada foi reduzida, chegando em 2015 com o cultivo entre 250 mil e 300 mil hectares de lavouras de milho para uma produção estimada em 2,5 milhões de toneladas.

O presidente da Faesc alerta que esse quadro representa uma equação perigosa: para um consumo de seis milhões de toneladas haverá uma produção interna de 2,5 milhões e, portanto, uma necessidade de importação de 3,5 milhões de toneladas de milho. Insumo escasso representa encarecimento para os produtores rurais e para as agroindústrias e gera um "efeito dominó" por que, por via de consequência, os alimentos (especialmente a carne) tornam-se mais caros para o consumidor.

Pedrozo aponta que a soma de uma série de fatores contribuiu para redução drástica da produção. Os produtores migraram para a soja, que tem grande liquidez no mercado de commodities, menor custo de cultivo e melhor remuneração final aos agricultores. Enquanto a saca de milho vale entre R$ 35 e R$ 40, a de soja vale R$ 70. Outro fator é que 40% do milho que Santa Catarina produz se destinam a silagem, portanto, não saem da propriedade e são utilizados na nutrição animal do gado leiteiro.

Exportação

No ano passado, os preços do milho não agradaram os produtores. Por outro lado, a atual situação cambial estimula a exportação de milho: o Brasil já embarcou 33 milhões de toneladas para o exterior (a produção nacional deve chegar a 85 milhões de toneladas), agravando ainda mais a situação interna.

O sul do Brasil terá que importar milho da Argentina, do Paraguai e do centro-oeste, já que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) não dispõe de estoques para regular o mercado. José Zeferino Pedrozo afirma que é preciso perseverar na busca da autossuficiência catarinense, seja com o aumento da produtividade, utilização de sementes de alta tecnologia e calcário calcítico. Outro desafio adicional neste cenário é a armazenagem, visto que 30% da produção não têm estocagem.