Estaleiro Oceana, que lança pedra fundamental hoje, está entre os que foram atraídos pelas oportunidades.

O petróleo do pré-sal, escondido a 7 mil metros de profundidade, no fundo do mar, é o responsável por uma nova tendência que desponta na economia de Itajaí e região. A produção e reparo de embarcações de suporte às plataformas, que atuam na exploração de petróleo e gás, tem atraído empresas e investimentos nas margens do Itajaí-Açu. O resultado é um mercado de trabalho aquecido e com previsão de gerar 4 mil novos empregos diretos este ano, somente em Itajaí.

– Tivemos oportunidade de olhar do Norte ao extremo Sul, e raramente se vê a vantagem de estar onde já existe uma mão de obra qualificada, mercado e cadeia de fornecimento. Itajaí é um grande polo naval – justifica Guilherme Caixeta, diretor-presidente da Oceana Offshore, que lança hoje a pedra fundamental de um estaleiro especializado em embarcações de apoio offshore (empresas de exploração petrolífera).

A Oceana é parte do Fundo P2 Brasil de infraestrutura, formado pelas empresas Pátria Investimentos e Grupo Promom, e investirá em Itajaí o equivalente a R$ 220 milhões. Em Itajaí e Navegantes, pelo menos cinco novas empresas que prestam serviço em construção de embarcações, manutenção e módulos para plataformas estão em fase de instalação.

Entre elas o estaleiro holandês Huisman, que já tem filiais na China e na República Tcheca, e terá em Navegantes a primeira fábrica na América.

Além da necessidade de uma rede de suporte às atividades da Petrobras, o setor também é impulsionado pelo fato de haver espaço para embarcações nacionais. Hoje, 60% das embarcações que atuam em suporte são estrangeiras.

– Com a ampliação da exploração do pré-sal, muitas outras fornecedoras virão. Acho que ainda não caiu a ficha sobre a quantidade de dinheiro e investimentos que teremos por aqui – diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Itajaí, Onézio Gonçalves Filho.

Segundo ele, a expectativa é que cada uma das novas empresas traga investimentos de até R$ 500 mil para a cidade – um montante que, na opinião do secretário, pode vir a concorrer com a atual matriz econômica da região, a atividade portuária.

Engenheiro naval e professor da Univali, Arthur Augusto de Andrade Ennes não acredita nessa possibilidade. Para ele, os terminais portuários também devem ganhar em movimentação com a instalação de novas empresas.

– Os setores vão crescer juntos – afirma.

Cursos qualificam mão de obra
Aliada à posição estratégica, a oferta de mão de obra especializada na construção naval é um dos principais atrativos da região para as empresas de suporte à exploração de petróleo e gás. Cursos oferecidos por órgãos como o Senai preparam os trabalhadores para atividades como solda, construção e segurança no trabalho.

Os salários iniciais chegam a R$ 4 mil, para quem se aventura nas plataformas. Mas é em terra firme que estão a maioria das oportunidades. Especialmente nos estaleiros, que empregam muitos dos alunos formados nos cursos técnicos e de qualificação do Senai.

Desde o ano passado, o órgão também oferece cursos através do Promimp, programa da Petrobras para qualificação profissional, com aulas gratuitas. A assessoria de imprensa da Petrobras informou que devido ao aumento da demanda por mão de obra qualificada em Itajaí, o programa ofereceu no último ciclo de qualificação – que está em andamento – 512 vagas no Estado.

Somente um dos estaleiros que vai se instalar em Navegantes deve contratar 150 engenheiros, de acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Antônio Carmona.

Capacidade de 4,5 mil toneladas de cargas
Lançado hoje no Bairro Cordeiros, em Itajaí, o estaleiro Oceana deve iniciar as atividades no final do ano, com processamento de aço para construção das embarcações. A previsão de entrega da primeira é em 2015. A partir daí, quatro a seis ficarão prontas, anualmente.

A ideia é atender à necessidade do mercado de ampliação da frota atual, que tem 430 navios de apoio, para 700 até 2020.

– Não existe hoje capacidade produtiva nos estaleiros para suprir a demanda da Petrobras e de outras empresas envolvidas na exploração do petróleo. Essas embarcações fazem toda a logística para as plataformas, todo o material que é levado e trazido, e alguns serviços – explica o diretor-presidente da Oceana Offshore, Guilherme Caixeta.

O projeto básico é de barcos com 90 metros de comprimento e capacidade de carga de até 4,5 mil toneladas – cada um deles avaliado em 60 a 70 milhões de dólares. Diretor do Grupo Promon, representante do grupo no consórcio P2 e membro do conselho do Oceana, Ivo Godoi Junior diz que o estaleiro poderá construir também em Itajaí embarcações mais sofisticadas, que carregam submarinos de operação remota ao campo de produção para inspeções.

Entrevista: Arthur Augusto de Andrade Ennes
Professor dos cursos de Tecnologia em Construção Naval e Engenharia Industrial Mecânica na Univali, o engenheiro naval Arthur Augusto de Andrade Ennes acredita no potencial de crescimento da região com as atividades do pré-sal. Mas alerta para a falta de infraestrutura das cidades e para a necessidade de planejamento.

As atividades do pré-sal e as atividades de apoio em Itajaí poderão suplantar a portuária?

Arthur Ennes - A portuária acredito que não, mas a pesqueira, com certeza. Acredito que vai haver várias áreas de pesca que serão substituídas pelas empresas de apoio ao petróleo. Isso terá impacto direto na contratação e qualificação de mão-de-obra. Não sei se em termos de impostos teremos uma arrecadação maior, já que nossa economia será baseada em serviços de reparo e manutenção. Mas, por outro lado, poderemos esperar um aumento de fluxo no porto.

Santa Catarina tem a ganhar com a exploração do pré-sal?

Ennes - Não ofereceremos mão-de-obra de produção e não teremos royalties. Mas teremos o fornecimento de navios, além de reparos e manutenção. A região vai ganhar em todos os lados, tanto em termos sociais quanto econômicos. O que nos leva a outra questão, saber se os municípios estão preparados para este crescimento.

E qual a sua opinião a respeito?

Ennes - A ponte entre Itajaí e Navegantes, na BR-101, não permite passagem de embarcações maiores na largura nem na altura, o que faz com que os terrenos sejam supervalorizados na jusante (foz). Me preocupa também que a região misture interesses turísticos e comerciais, já temos problemas de fluxo ao redor de uma cidade que vai crescer. Infelizmente, nossos governantes precisam passar pela faculdade antes de sentar na cadeira.

Qual a solução para que não tenhamos problemas no futuro?

Ennes - Temos cidades muito próximas umas das outras e uma característica de integração muito grande. Mas as políticas públicas não têm sido pensadas para os próximos 30 anos, pelo contrário. Temos uma BR-470 não duplicada, uma BR-101 constantemente bloqueada ou interrompida, não há ponte ligando Itajaí a Navegantes pela área central, o que acumula cargas e o trânsito normal. As obras não têm sido feitas levando em conta projetos de desenvolvimento econômico, mas políticos.

Saiba mais

O que é pré-sal
É o nome dado à camada de rochas que fica abaixo do solo oceânico. A descoberta de petróleo numa área de cerca de 800 quilômetros, que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo, levou ao desenvolvimento de tecnologias para explorar as reservas. A produção iniciou em 2008, e hoje supera 100 milhões de barris de petróleo, de acordo com a Petrobras – o que equivale a 200 mil barris por dia. Em 2017, a estimativa é alcançar 1 milhão de barris ao dia.