Santa Catarina encerrou 2010 com 3% de inadimplentes, mas quem não prestar atenção pode entrar para a cifra nos próximos meses
Fabiano é casado há três anos, mas contraiu uma dívida e não consegue financiamento, na Caixa Econômica Federal, para comprar um imóvel. Que tal comprar no nome da esposa? Nem pensar: casamento gera dívidas em conjunto. Já Silvio está de mudança e quer vender a casa, mas, como está com o nome no Serasa, o interessado não consegue financiá-la. Alessandra pede socorro: "não consegui fazer o cartão de crédito, estou com o nome sujo no SPC, preciso de ajuda!"
Todos esses casos estão postados na internet, em fóruns de consultoria financeira, e são uma pequena amostra do que pode acontecer com quem fica endividado. Ou melhor, com 64% dos catarinenses, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviço e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio-SC). E este índice aumentou 16% durante 2010, assim como o número de famílias com contas em atraso (12% para 16%).
A alta nos endividamentos, que acontece principalmente nas vendas a prazo e nos cheques, tem uma explicação consensual entre economistas: a enxurrada de crédito em 2010 e o incremento que sofreram as classes C e D, nos últimos anos. Para se ter uma ideia, de acordo com a Federação das Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina (FCDL), as vendas do último período natalino cresceram 10,2% em relação a 2009.
Além disso, a Fecomércio catarinense também apurou que, nas cidades de Joinville, Florianópolis, Blumenau e Lages, as compras de natal foram antecipadas em 33%, em relação ao ano passado. "Essa nova classe média está com dinheiro e querendo comprar, e mais compras geram mais endividamento", explica o consultor econômico da federação, Paulo Guilhon.
Inadimplência
Pior que ter contas em atraso, porém, é ser inadimplente - quando se assume não ter condições de pagar a dívida. Neste grupo estão, hoje, cerca de 3% dos catarinenses e, segundo a FCDL do Estado, a maioria é do sexo feminino e tem entre 26 e 35 anos. Um quarto reside na região Norte e 17% na Grande Florianópolis.
Se o índice parece baixo, ele era de 20%, em maio de 2010, e caiu durante o ano. Porém, é preciso ter cuidado, porque deve aumentar mais uma vez em 2011. "Isso acontece porque há muitos gastos que se acumulam de janeiro a abril: férias, escola, IPTU e IPVA, e depois ainda vem o dia das mães, justamente em maio", avalia Paulo. Isso significa que mais catarinenses devem se assumir inadimplentes nos próximos meses.
Ele explica ainda que esta porcentagem não leva em conta os endividados pelo cartão de crédito, que é o grande vilão da inadimplência pelas altas taxas de juros: 10% a 12%.
Cautela
Quem tem o nome incluso no SPC tem três opções: entra na justiça (caso ache que sofreu abuso), espera a prescrição (cinco anos, exceto casos específicos definidos em lei), e sofre as conseqüências, ou então paga o que deve. Como o catarinense passa, em média, 5,7 meses até quitar as dívidas, a melhor pode ser a uma quarta: seguir algumas dicas para não se endividar.
O gerente institucional da FCDL/SC, Ademir Ruschel, é objetivo: "só compre o necessário e, se possível, à vista". Ele também acredita na tese do "engordamento" das classes C e D como agravante da inadimplência, "e crédito fácil leva as pessoas a tentarem realizar um sonho, mas muitas vezes são mal orientadas", alerta
Mais cautela também é sugerida pelo consultor da Fecomércio/SC. "No Brasil falta educação financeira e isso é grave, porque a inadimplência gera problemas de família, ou às vezes devedor não consegue dormir", lembra. Sua dica é, como faz questão de destacar, "do tempo da avó": "Antes de sair para comprar, faça uma listinha, veja quanto você tem. Dá pra comprar? Compre. Não dá pra comprar? Não compre!"
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