Em entrevista, presidente da Fecomércio/SC disse que 2019 deverá ser um ano muito melhor do que 2018
Reeleito em 2018 para mais um mandato à frente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio/SC), Bruno Breithaupt concedeu entrevista exclusiva para a Agência Adjori de Jornalismo. Para ele, a expectativa de um novo governo deve impulsionar investimentos e trazer a atividade econômica para um patamar melhor.
Rede Catarinense de Notícias - Qual a sua avaliação do ano de 2018, considerando eventos importantes como greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo e eleições?
Bruno Breithaupt - A greve dos caminhoneiros foi um divisor. Se a economia já vinha com percalços, a greve dos caminhoneiros foi um desastre. Conversando com empresários de diversas atividades do nosso segmento, o prejuízo foi incalculável. Até hoje temos alguns reflexos. Não vou entrar no mérito se foi legítimo ou não. O problema é que a economia já vinha com percalço e isso foi um desastre. Com a relação a Copa do Mundo, é o esporte nacional, mas nós entendemos que atrapalhou a atividade comercial, porque naqueles poucos dias de jogos que tivemos o comércio se ressentiu de vendas. E as vendas que se perdem no dia não recuperamos. Então, se por um lado atende aspecto de lazer, que também é necessário, influenciou nos nossos negócios. As eleições chamaram a atenção por serem um pleito histórico. Nós viemos dos últimos governos perdendo PIB, perdendo empregos, e essas eleições trouxeram de volta a confiança do consumidor e a confiança dos empresários em realimentar o seu negócio com novos investimentos. É o que ouço também como pessoa física, como catarinense, como brasileiro, observa-se uma certa euforia no sentido de que a partir de janeiro de 2019, com novo presidente, as expectativas se mostram alvissareiras.
"O consumidor catarinense, nos diversos segmentos econômicos, se mostra mais confiante após o resultado da eleição". Foto: Arquivo/Adjori/SC
RCN - Analisando esses três aspectos e também outros, dá para se dizer que 2018 foi um ano positivo para o comércio?
Breithaupt - Foi um ano sofrível. Com esse crescimento que nós temos, nós não damos sustentabilidade para a nação brasileira porque o nível de serviços que o Estado pratica é sofrível. As necessidades de transporte, de logística, de infraestrutura, elas deixam muito a desejar e se nós quisermos ter um país desenvolvido, há que se mudar completamente o dia a dia da economia dos nosso negócios para que o Estado tenha recursos para devolver os melhores serviços para a população brasileira.
RCN - Qual a análise para os setores de comércio, serviços e turismo neste ano?
Breithaupt - O setor de serviços vem demonstrando um crescimento ainda pequeno. O setor vinha crescendo muito antes dessa crise, e eu acredito que novamente esse setor volte a crescer com bastante intensidade, desde que atendidas aquelas premissas, aquelas demandas. E ao que tudo indica, o nosso novo governador também se mostrou interessado em resolver esses gargalos. Com relação à atividade comercial, alguns setores sentiram variações positivas, como automóveis, supermercados; outros setores como perfumaria, farmácia, continuaram crescendo. Um setor que ainda demanda alguma injeção financeira é o setor da construção civil, refletindo também na atividade comercial de material de construção. Esse setor demanda novos incentivos para voltar a crescer. Com relação ao ramo hoteleiro, nós tivemos a partir do último feriadão, 15 de novembro, já em clima pós-eleição, uma excelente ocupação. O consumidor catarinense, nos diversos segmentos econômicos, se mostra mais confiante após o resultado da eleição e isso faz com que ele volte a consumir mais produtos, mais condições de lazer, o que faz com que essa tendência de crescimento seja sentida. Então, também na área litorânea com o verão que se aproxima, nós temos boas perspectivas de ocupação na rede hoteleira e outras atividades relacionadas. E nós acreditamos, de fato, que esse ano de 2019 terá números bastante positivos. Mesmo com nossos vizinhos argentinos passando por uma situação econômica muito difícil. Segundo pesquisas do verão passado, 23% dos turistas eram argentinos, 71% eram turistas brasileiros. Nós acreditamos que aquela fatia de argentinos que não vem para Santa Catarina seja compensada com o aumento de turistas brasileiros. Na nossa visão, vai haver crescimento também da atividade de comércio, serviços e turismo na orla catarinense durante o verão, que é muito representativo para nós.
RCN - Por uma pesquisa da Fecomércio, a segurança pública foi eleita como principal entrave para a prática do comércio no Estado. O que pode ser feito nesse sentido?
Breithaupt - Nós fizemos uma pesquisa sobre isso e essa pesquisa foi transformada na carta do comércio. Se o nível de desemprego não foi mais baixo, foi em função de questões como segurança pública. O segundo ponto foi sistema tributário, muito burocratizado, distante da realidade de que a atividade empresarial precisa: um sistema ágil na arrecadação de impostos. O nosso custo com relação a aspectos tributários dentro das empresas é muito alto, com funcionários, com mudanças de regras de arrecadação a todo momento, muito complicado. E um terceiro ponto foi pirataria e comércio informal. Não fossem esses gargalos, sem dúvida, o resultado da atividade empresarial do comércio de bens, serviços e turismo de Santa Catarina, seria diferente. Seria próspero.
RCN - A Fecomércio fez parte da criação do Conselho de Infraestrutura, montado pelo Cofem. As demandas do setor são quase sempre as mesmas. Como o Conselho pode fazer diferente?
Breithaupt - A preocupação do Cofem é no sentido de chamar a atenção e interferir com o sentido de buscar soluções para esses grandes problemas que Santa Catarina tem. O interesse do Cofem é no sentido de poder, através de interferência, através de conversa, de diálogo com a s instituições governamentais, sanar essas deficiências o mais rápido possível. O que se observa é que muito pouco tem sido feito. Tem a BR-470, tem a BR-282, tem a BR-280, que são gargalos que impedem o crescimento do nosso Estado, porque essas rodovias atendem principalmente às regiões industriais, desde o Oeste, até o Norte, até o Sul, rodovias que alimentam o escoamento dos produtos aqui produzidos. Com essa demora, novos investimentos, novas indústrias, não se realizam nessas regiões, e elas têm potencial, tem mão de obra qualificada. Nós nos ressentimos dessa infraestrutura. Com ela, Santa Catarina possa intensificar o ingresso de novas empresas possibilitando, assim, o crescimento econômico e sustentável.
RCN - A reforma trabalhista entrou em vigor há mais de um ano. Também tivemos um ano completo da Lei da Terceirização. Agora, com um distanciamento temporal, vendo essas leis consolidadas, dá para se dizer que aqui em Santa Catarina tivemos mudanças positivas ou, como está o cenário de mercado de trabalho?
Breithaupt - A reforma trabalhista veio minimizar o desemprego aqui em Santa Catarina. Evidente que com essa reforma, que foi flexibilizadora, não houve prejuízo nem para o empregador nem para o empregado. O que houve foi uma facilitação no que concerne às relações de trabalho entre trabalhador e empregador. Em termos de reclamações trabalhistas, que eram um gargalo em nosso Estado e no país, o número diminuiu sensivelmente. Também não vou entrar no mérito se o número era necessário, mas o que se observa é que, desafogou a Justiça do Trabalho. As situações que estão sendo resolvidas, são questões pertinentes. Antes valia todo tipo de reclamação. Então, nesse aspecto, a vida tanto do empregado, quanto do empregador, melhorou.Houve mudança, houve solução para muitos problemas judiciais e oportunizou a discussão nas nossas convenções de trabalho em que tanto o empregador quanto o empregado tiveram mais legitimidade nos assuntos que são pertinentes. Nós temos mais liberdade para costurar esses acordos de convenção coletiva. Essa reforma deu mais flexibilidade às relações de trabalho. Da mesma forma, nós nos posicionamos com relação a outras necessidades de flexibilização em outras reformas: a tributária, a política, a previdenciária. Eu tenho uma máxima: 'Se você continuar fazendo sempre a mesma coisa, você não vai ter outros resultados'.
RCN - Olhando especificamente para o turismo, temos um ministro catarinense. Qual sua análise do setor e da gestão de Vinicius Lummertz?
Breithaupt - Vamos falar em competência, vamos falar em inteligência, e vontade de trabalhar. São ingredientes que o Vinicius tem de sobra, é um expert em turismo, se não me engano, fala seis línguas. Ele tem muita informação. Foi o ministro certo no lugar certo. Uma pena que ele sai no final do governo Temer. Santa Catarina ganhou muito, o Brasil todo ganhou muito. Ele deixou um bom legado. Nós só temos que desejar ao novo ministro que continue o trabalho tão bem feito quanto o Vinicius deixa nesse momento.
RCN - Qual ação promovida por ele tem mais destaque para setor?
Breithaupt - Ele fez programas de desenvolvimento de turismo em várias regiões do Estado de Santa Catarina, inclusive com aporte financeiro. Linha de crédito específica para o setor.
Também atuou no exterior promovendo o Estado e o país, internacionalizando o Brasil. E aí entra questão de vistos, de passaportes, de atração de voos charters, outras companhias de aviação.
RCN - Algo para destacar no cenário de 2019?
Breithaupt - A questão da confiança do consumidor é o que movimenta a economia. E nós desejamos que o novo governo faça o dever de casa para que novamente o Estado possa, através das mudanças que foram colocadas no período pré-eleitoral, crescer com sustentabilidade.
Deixe seu comentário