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Diretor de ferrovias da ACIC Lenoir Broch. (Fotos: MB Comunicação)
Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) avalia que a modelagem proposta para a Malha Sul não atende às necessidades estratégicas de integração ferroviária dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, avalia Lenoir Antonio Broch
O lançamento da Política Nacional de Concessões Ferroviárias e da Carteira de Projetos 2026, anunciado pelo Ministério dos Transportes, representa um dos mais relevantes movimentos de reestruturação do modal ferroviário brasileiro nas últimas décadas.
A iniciativa prevê a modernização das regras de outorga, a possibilidade de aportes públicos em concessões e a estruturação de uma carteira inédita, com oito leilões e investimentos estimados em cerca de R$ 140 bilhões.
Apesar do avanço na agenda logística nacional, o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) avalia que a modelagem proposta para a Malha Sul não atende às necessidades estratégicas de integração ferroviária dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A fragmentação da malha em três concessões distintas — Corredor Paraná–Santa Catarina, Corredor Rio Grande e Corredor Mercosul — é vista como um fator que compromete a coerência logística regional, reduz escala, desestimula investimentos e fragiliza a atratividade privada.
Avaliação
Segundo o diretor de ferrovias da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC), Lenoir Antonio Broch, a atual concessão da Rumo Malha Sul abrange 7.223,4 quilômetros de ferrovias nos três estados, dos quais cerca de 50% estão fora de operação. No Rio Grande do Sul, após as cheias de 2024, a extensão operante caiu de aproximadamente 1.680 km para 921 km. Em Santa Catarina, apenas 210 km dos 1.210 km de trilhos permanecem ativos, apesar de o estado concentrar cerca de 20% da movimentação nacional de contêineres — dos quais apenas 6% utilizam o transporte ferroviário.
No Paraná, especialmente na região Oeste, gargalos históricos como o da Serra da Esperança, entre Guarapuava e Ponta Grossa, comprometem o escoamento de grãos, proteínas e insumos industriais. O cenário evidencia a perda progressiva de capacidade operacional da malha, com impactos diretos sobre a competitividade agroindustrial e exportadora da região Sul.
Broch destaca que o desafio logístico é estrutural. A dependência do modal rodoviário, responsável por cerca de 65% do transporte doméstico no país, aliada à baixa participação das ferrovias fora do segmento de minério, eleva custos, sobrecarrega rodovias e amplia riscos. Cadeias produtivas estratégicas, como carnes, lácteos, alimentos processados e futuros projetos de biocombustíveis, são diretamente afetadas.
Concessão integrada
Diante desse contexto, os estados do Codesul defendem a concessão integrada da Malha Sul como alternativa capaz de garantir escala, eficiência operacional e integração logística. A atuação conjunta junto ao Governo Federal se apoia em três eixos: solução dos passivos históricos da atual concessão, garantia da continuidade operacional na transição contratual e defesa da concessão em bloco.
Além de medidas emergenciais para recompor trechos degradados, o Codesul propõe uma estratégia de médio e longo prazo alinhada à ampliação da competição, atração de novos operadores e inserção efetiva do Sul nos principais corredores ferroviários de exportação, assegurando infraestrutura contínua, moderna e competitiva para o desenvolvimento econômico regional.
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