Para o CEO da Brasil Business Partners, eficiência, produtividade e capacidade de adaptação serão determinantes para empresas e países no próximo ano.

Marcado por cautela, reorganização produtiva e avanço tecnológico, o cenário econômico de 2026 exigirá decisões estratégicas mais do que apostas ousadas. Para o consultor empresarial Henry Uliano Quaresma, o próximo ano será de acomodação e seletividade, em um ambiente global ainda pressionado por tensões geopolíticas, disputa tecnológica e maior protagonismo do Estado. Nesse contexto, eficiência, produtividade e capacidade de adaptação serão determinantes para empresas e países, enquanto o Brasil busca transformar suas vantagens estruturais em crescimento sustentável.

Confira a entrevista exclusiva do CEO da Brasil Business Partners, autor de diversos livros e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais, sobre as perspectivas e desafios para 2026.

RCN: Como o senhor avalia o cenário econômico para 2026?

HQ: Vejo 2026 como um ano de acomodação estratégica. O mundo passou, em um curto espaço de tempo, por pandemia, inflação elevada, rupturas logísticas, conflitos armados e uma aceleração tecnológica intensa. Esses fatores não desapareceram. Foram parcialmente absorvidos e seguem influenciando custos, riscos e decisões empresariais.

O crescimento global continua, mas de forma mais cautelosa e seletiva. O capital está mais atento ao risco, o crédito mais criterioso e o consumidor mais consciente de preço e valor. Não é um ciclo clássico de expansão, mas um ambiente em que eficiência, previsibilidade e capacidade de execução fazem mais diferença.

RCN: Quais forças globais mais influenciam a economia neste momento?

HQ: Três movimentos ajudam a explicar o cenário atual. O primeiro é a reorganização das cadeias globais de produção. As empresas perceberam que buscar apenas o menor custo gera fragilidade. Hoje entram na conta fatores como risco geopolítico, logística, segurança energética e estabilidade institucional.

O segundo movimento é a disputa tecnológica entre grandes potências. Estados Unidos e China competem por liderança em áreas estratégicas como semicondutores, inteligência artificial, robótica e energia limpa. Essa disputa explica o retorno das políticas industriais, dos subsídios e das restrições comerciais.

O terceiro movimento é o papel mais ativo do Estado, que voltou a atuar como coordenador estratégico em setores considerados sensíveis.

RCN: As tensões geopolíticas seguem pesando sobre a economia?

HQ: Sim, e de forma central. Conflitos, sanções e disputas estratégicas afetam preços de energia, alimentos, fertilizantes, transporte e seguros internacionais. Para a indústria, isso significa maior atenção à origem dos insumos. Para o comércio, maior volatilidade de preços. Para a agricultura, custos mais instáveis.

Planejar por cenários e diversificar fornecedores e mercados deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade.

RCN: Como Estados Unidos, China e Europa entram em 2026?

HQ: Os Estados Unidos devem crescer em torno de 2% em 2026, sustentados principalmente pelo consumo interno e por investimentos em tecnologia, defesa e infraestrutura. A política industrial americana tem estimulado automação, robotização e inteligência artificial, além de um comércio fortemente digitalizado.

A China cresce em ritmo inferior ao observado em décadas anteriores, mas ainda sólido em termos globais. As projeções indicam expansão entre 4% e 4,5%, o que, pelo tamanho da economia chinesa, segue tendo impacto relevante sobre o comércio internacional. O crescimento está cada vez mais apoiado em inovação tecnológica, ganho de produtividade, robotização e digitalização industrial, reforçando a competitividade da manufatura chinesa e sua presença no comércio global.

A Europa enfrenta um cenário mais desafiador, com crescimento modesto, pressionado por custos energéticos elevados, excesso regulatório e menor dinamismo industrial. Como resposta, o bloco tem reforçado políticas industriais mais defensivas e acelerado a automação para proteger sua base produtiva.

RCN: E o Brasil, como se posiciona nesse contexto?

HQ: O Brasil chega a 2026 com crescimento moderado, entre 1,5% e pouco acima de 2%. Não é um crescimento elevado, mas o país mantém vantagens estruturais importantes: matriz energética majoritariamente limpa, força do agronegócio, recursos naturais estratégicos e um mercado interno relevante.

Na indústria, o grande desafio é produtividade — e também a maior oportunidade. Avançar em robotização, automação e uso de dados pode elevar a competitividade do parque industrial brasileiro. No comércio, a digitalização deixou de ser complementar e passou a ser central na estratégia dos negócios, ampliando mercados e reduzindo barreiras de entrada.

RCN: O fato de 2026 ser um ano eleitoral muda o ambiente econômico?

HQ: Muda principalmente no período que antecede as eleições. Investidores e empresários tendem a adiar decisões estruturais até que o cenário político fique mais claro. Esse movimento coincide com a implementação da reforma tributária, que traz avanços relevantes, mas exige adaptação de sistemas, preços e contratos.

O mercado observa atentamente sinais de responsabilidade fiscal e previsibilidade institucional. Em um ambiente global já pressionado, qualquer ruído doméstico tende a ser amplificado.

RCN: Qual o papel da tecnologia em um cenário mais instável?

HQ: A tecnologia deixou de ser apenas um fator de eficiência e passou a ser um instrumento de adaptação e resiliência. Na indústria, inteligência artificial, automação e robotização elevam produtividade e confiabilidade. No comércio, dados e plataformas digitais transformaram a relação com o consumidor.

Na agricultura, a tecnologia amplia eficiência e sustentabilidade. Na transição energética, biocombustíveis avançados, hidrogênio verde e armazenamento de energia já fazem parte da economia real — área em que o Brasil possui vantagens estruturais claras.

RCN: Como o empresário deve agir em 2026?

HQ: Não é um ano para apostas excessivamente agressivas, mas também não permite imobilismo. Gestão de caixa, eficiência operacional e produtividade serão decisivas. Investir em tecnologia faz sentido quando há retorno claro, seja na automação industrial, seja na digitalização do comércio e nas vendas online.

Diversificar mercados, fornecedores e canais de venda é uma estratégia fundamental em um mundo mais fragmentado e sujeito a rupturas.

RCN Que mensagem o senhor deixa para empresários e lideranças?

HQ: 2026 tende a ser um ano marcado menos por grandes rupturas e mais por decisões silenciosas, porém estratégicas. Quem investir em eficiência, tecnologia e leitura cuidadosa de cenário estará melhor posicionado quando um ciclo de crescimento mais consistente se consolidar.

Para o Brasil, o desafio é transformar vantagens estruturais em resultados concretos, com uma indústria mais produtiva, um comércio cada vez mais digital e uma agricultura competitiva e sustentável.

Saiba mais sobre nosso entrevistado

Henry Uliano Quaresma é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Atuou como Diretor Executivo da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países, fortalecendo a inserção global da indústria.
Sua trajetória combina experiência no setor privado, no governo e no meio acadêmico, tendo atuado como professor universitário, executivo industrial e gestor público. É engenheiro, com MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, especialização em Marketing pela FGV e formação executiva em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França).
Autor de artigos e livros de referência, destaca-se a obra “O Fator China: Oportunidades e Desafios” (2024), amplamente reconhecida no meio empresarial, além dos e-books “Internacionalização Acelerada” (2025) e “Inovação na China” (2025).
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