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Gilberto Seleme, presidente da FIESC (Fotos: Filipe Scotti - FIESC)
A cada nova decisão tomada de forma isolada por integrantes do Mercosul, torna-se mais evidente que o bloco precisa ser atualizado. O recente ingresso do Uruguai na Parceria Transpacífica e o acordo firmado entre Argentina e Estados Unidos, ambos à revelia do Mercosul, revelam um modelo engessado que já não responde à realidade do comércio internacional.
O caso argentino é ilustrativo: 350 produtos foram incluídos em um programa de isenção tarifária com os EUA, sem que os demais países do bloco fossem contemplados. O Uruguai, por sua vez, passou a integrar uma aliança comercial dinâmica, com acesso facilitado a economias asiáticas. São iniciativas unilaterais que, na prática, já rompem com a lógica original do bloco.
Não se trata de negar a importância do Mercosul. Criado em 1991, com o Tratado de Assunção, o bloco nasceu com o objetivo de promover a integração econômica e política entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Desde então, ampliou o comércio regional, reduziu tarifas e estimulou o adensamento das cadeias produtivas. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 20 bilhões aos parceiros do Mercosul. Santa Catarina, por sua vez, embarcou US$ 1,4 bilhão — com destaque para alimentos, máquinas, têxteis, metais e produtos químicos. Esses dados mostram que a integração trouxe benefícios reais.
No entanto, o modelo de decisões por consenso — a chamada rigidez da Tarifa Externa Comum (TEC) — se transformou num entrave. O emblemático acordo Mercosul–União Europeia, há mais de 20 anos em negociação, é prova disso. Diante da expectativa de que a assinatura finalmente vai ocorrer, com potencial para ampliar o acesso a mercados europeus, torna-se ainda mais urgente modernizar o bloco.
Flexibilizar o Mercosul não significa enfraquecê-lo, e sim modernizá-lo. Permitir que os países firmem acordos bilaterais, válidos apenas para seus signatários, manteria o espírito da integração e, ao mesmo tempo, destravaria oportunidades urgentes.
O mundo avança com blocos mais flexíveis, abertos ao dinamismo dos fluxos globais. Santa Catarina e o Brasil não podem continuar presos a um modelo que, ao invés de impulsionar, freia o desenvolvimento e é incompatível com a velocidade e a competitividade exigidas no comércio internacional.
Gilberto Seleme, presidente da FIESC
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