Santa Catarina construiu, ao longo das últimas décadas, uma economia diversa, inovadora e fortemente integrada ao comércio exterior. Esse conjunto de fatores ajudou o estado a conquistar relevância nacional e internacional, consolidando setores industriais competitivos, um ambiente empreendedor dinâmico e uma presença cada vez mais expressiva no mercado global.
Porém, o ambiente mundial mudou — e segue mudando em velocidade acelerada. Cadeias produtivas estão sendo reorganizadas, rotas comerciais passam a seguir novos corredores, governos reavaliam políticas industriais e a geopolítica começa a influenciar diretamente custos, prazos, estratégias e decisões empresariais.
Nesse novo cenário, apenas duas economias prosperarão: as que conseguem se adaptar rapidamente e as que são capazes de ganhar escala com velocidade. Para Santa Catarina, isso significa aliar inovação, logística eficiente e tecnologia avançada para manter e ampliar seu protagonismo no comércio internacional. O estado possui um ecossistema tecnológico robusto, com polos de inovação, startups, universidades e indústrias modernizadas.
Esse ambiente é fértil para a criação de novas soluções, mas o desafio atual vai além da criatividade. É preciso transformar inovação em capacidade real de produzir mais, melhor e mais rápido, algo que só ocorre quando tecnologia deixa de ser periférica e passa a integrar de forma profunda e sistêmica as cadeias produtivas.
Nesse processo, robotização e inteligência artificial desempenham papel central. A indústria catarinense já começou a incorporar robôs colaborativos, sensores inteligentes, automação avançada e sistemas de IA aplicados à produção. Essas ferramentas elevam a produtividade, reduzem erros, aumentam a precisão e permitem responder a demandas maiores sem que os custos cresçam na mesma proporção.
Mais do que isso, criam a condição essencial para competir globalmente: a capacidade de escalar rapidamente. Num mundo mais veloz e exigente, produzir com tecnologia avançada não é diferencial — é pré-requisito. Sem ela, qualquer expansão produtiva se torna lenta, cara e vulnerável à concorrência internacional.
Mas apenas tecnologia dentro das fábricas não basta. A outra metade da competitividade está na logística, hoje o ponto mais crítico para Santa Catarina. O estado cresceu mais rápido do que sua infraestrutura. Portos operam próximos ao limite, estradas congestionam corredores essenciais, os modais de transporte seguem pouco integrados e os processos alfandegários ainda carecem de maior agilidade. O gargalo não é apenas o custo logístico — é a velocidade. No comércio internacional, quem entrega primeiro conquista mercado; quem demora, perde cliente.
Para acompanhar as transformações globais, Santa Catarina precisa garantir circulação rápida de mercadorias, previsibilidade operacional, redução de tempos portuários, janelas logísticas estáveis, integração entre modais e portos com capacidade compatível com a escala produtiva que o estado já alcançou. A nova geopolítica não dá trégua à lentidão.
As mudanças internacionais são profundas. Tensões entre China e Estados Unidos, guerras regionais, disputas por semicondutores, reindustrialização em países desenvolvidos, novas restrições ambientais, regionalização das cadeias de suprimentos e exigências mais rígidas de certificações verdes e digitais estão redesenhando o comércio global.
O que emerge é um ambiente mais dinâmico, porém mais seletivo. Economias que se ajustam rápido aproveitam oportunidades; as que demoram ficam cada vez mais restritas a nichos menores. Santa Catarina, por depender fortemente do comércio exterior, precisa se reposicionar para essa nova realidade e estar preparada para escalar, acelerar e se adaptar.
A China, apesar de todas as pressões geopolíticas que enfrenta, continua sendo um exemplo de como competitividade depende da combinação entre tecnologia, logística e capacidade de resposta. O país integra robotização e inteligência artificial em toda a cadeia produtiva, opera com uma infraestrutura logística que privilegia velocidade e redundância, e se adapta rapidamente a qualquer alteração nas rotas comerciais ou nos padrões de demanda global.
Esse conjunto explica por que a China segue crescendo mesmo em contextos adversos e por que seus produtos continuam dominando prateleiras no mundo inteiro. A lição é clara: eficiência, velocidade e adaptação são o novo tripé da competitividade internacional.
Para Santa Catarina, isso significa que a internacionalização das empresas catarinenses depende de três fatores: produzir com tecnologia avançada, escalar com agilidade e circular com velocidade. Além disso, o estado precisa acompanhar as novas exigências ambientais e digitais, que passaram a definir acesso a mercados e condições de negociação. Sem essas adaptações, o risco é ficar restrito a mercados tradicionais, enquanto o mundo abre novas oportunidades em energia, tecnologia, logística, agronegócio e manufatura avançada.
O futuro competitivo de Santa Catarina dependerá, portanto, da construção de um ambiente econômico capaz de reunir três características fundamentais: tecnologia aplicada — especialmente robotização e inteligência artificial — para permitir escala; infraestrutura moderna e integrada para garantir velocidade logística; e capacidade de adaptação imediata às novas rotas e exigências do comércio global.
O estado possui capital humano qualificado, cultura empreendedora consolidada e diversidade produtiva suficiente para essa virada. O que falta — e precisa ser construído sem demora — é o ambiente que permita transformar potencial em liderança. No novo jogo global, quem se adapta primeiro lidera. Quem demora, perde espaço. Santa Catarina tem todas as condições para estar entre os líderes — desde que faça os movimentos certos agora.
(*) Henry Uliano Quaresma é CEO da Brasil Business Partners e membro de conselhos de empresas e entidades empresariais. Atuou como Diretor Executivo da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), onde participou ou coordenou mais de 90 missões empresariais internacionais em mais de 50 países, fortalecendo a inserção global da indústria.
Sua trajetória combina experiência no setor privado, no governo e no meio acadêmico, tendo atuado como professor universitário, executivo industrial e gestor público. É engenheiro, com MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, especialização em Marketing pela FGV e formação executiva em Estratégia e Gestão pela Wharton School (EUA) e pela INSEAD (França).
Autor de artigos e livros de referência, destaca-se a obra “O Fator China: Oportunidades e Desafios” (2024), amplamente reconhecida no meio empresarial, além dos e-books “Internacionalização Acelerada” (2025) e “Inovação na China” (2025).
[email protected]
Deixe seu comentário