Quem dirige entre Florianópolis e Joinville conhece o cenário: engarrafamentos diários, lentidão em pontos críticos e a sensação de que a rodovia mais importante do estado ficou pequena demais para o tamanho de Santa Catarina. A BR-101, que foi símbolo de integração e progresso, hoje é um funil logístico que ameaça a competitividade do estado mais dinâmico do país, ao lado de São Paulo. E o que está em jogo não é apenas o trânsito, mas o futuro da economia catarinense, e, em boa medida, de todo o Sul do Brasil.

A solução é clara e urgente: implantar a terceira pista contínua da BR-101, entre Florianópolis e Joinville, com marginais, passarelas, interligações vicinais e iluminação integral. É uma obra que pode ser executada pela própria concessionária, com repactuação do contrato e coparticipação federal, estadual e privada.

Essa não é uma demanda nova. É uma necessidade concreta, confirmada pelos estudos da FIESC, que estimam o custo total das obras em R$ 9,2 bilhões, valor que inclui terceiras faixas, marginais, acessos e melhorias urbanas. O mesmo estudo projeta benefícios econômicos diretos de R$ 14,6 bilhões em valor presente, em economia de combustível, tempo e redução de acidentes. Ou seja, a obra se paga, e rápido. Em menos de dez anos, o retorno financeiro e social supera o investimento inicial.

Hoje, o tráfego médio diário na BR-101 Norte passa de 80 mil veículos em trechos como Itapema, Balneário Camboriú e Itajaí. O que antes era um símbolo de eficiência virou sinônimo de exaustão. A rodovia que conecta seis portos (Itajaí, Navegantes, Itapoá, São Francisco do Sul, Imbituba e Laguna) e quatro aeroportos (Florianópolis, Navegantes, Joinville e Jaguaruna) está no limite. É ela que transporta boa parte da riqueza catarinense, da agroindústria às exportações, da indústria ao turismo. Quando a BR-101 trava, trava também o motor econômico do estado.

Segundo estimativas técnicas, o custo dos congestionamentos ultrapassa R$ 1 bilhão por ano. São caminhões parados, combustível desperdiçado, entregas atrasadas e competitividade perdida. Cada hora de espera representa prejuízo direto para quem produz, distribui e trabalha. E o problema não é sazonal: já é estrutural.

A terceira pista é, portanto, o passo mais racional e produtivo que o estado pode dar neste momento. Com marginais bem planejadas, alças de acesso seguras e iluminação integral, repito, a rodovia se torna mais fluida e segura, permitindo inclusive que parte do fluxo opere à noite, fora dos horários de pico. Isso melhora o trânsito, reduz acidentes e aumenta a eficiência logística.

Além dos ganhos econômicos, há um efeito simbólico: uma estrada moderna, segura e bem iluminada é o cartão de visita de um estado desenvolvido. Uma nova cara para Santa Catarina, para o “lote marinheiro”, como gostava de dizer Alcides Abreu — o maior ativo de Santa Catarina, em suas palavras. É, pois, a infraestrutura que dá confiança ao investidor, conforto ao turista e orgulho ao cidadão. É a diferença entre um território que avança e um que se acomoda.

E é importante lembrar: a Via Mar, projeto em andamento sob a liderança do governador Jorginho Mello, já está sendo desenhada para o futuro. Trata-se de uma rodovia costeira moderna, planejada para as próximas cinco décadas, com traçado mais limpo, padrão europeu e integração com portos, polos industriais e áreas urbanas. É uma obra de longo prazo, que exige estudos, licenciamento e tempo. A Via Mar é o futuro, mas o presente exige ação imediata.

Por isso, a terceira pista da BR-101 e a Via Mar não competem: se complementam. Enquanto a nova rodovia é projetada para os próximos 50 anos, a ampliação da BR-101 garante mobilidade hoje; é uma sequência de soluções que se somam.

Sem a terceira pista, Santa Catarina corre o risco de enfrentar um estrangulamento logístico, com consequências graves: perda de competitividade portuária, aumento de custos aeroportuários, sobrecarga multimodal e desvalorização imobiliária nas áreas costeiras — hoje uma das joias do mercado nacional. Enfrentará o desconforto e a perda dos padrões estéticos. O litoral catarinense, de Itajaí a Florianópolis, de Balneário Camboriú a São Francisco do Sul, é um dos territórios mais valiosos do país. E uma infraestrutura saturada ameaça esse ativo, afastando investimentos e dificultando o crescimento sustentável.

A ampliação da BR-101 é, portanto, mais do que uma obra de engenharia. É uma decisão estratégica de proteção de valor — econômico, urbano e ambiental. É um investimento que gera empregos, preserva a competitividade e reforça o protagonismo de Santa Catarina como modelo de desenvolvimento regional no Brasil.

A Espanha modernizou suas autoestradas regionais para integrar o país; a Coreia do Sul fez o mesmo para conectar portos, indústrias e cidades; e os Estados Unidos transformaram sua malha interestadual em um vetor de prosperidade. Santa Catarina, que já é o estado mais próximo desse modelo integrado, pode ser o primeiro no Brasil a concluir essa transição com uma estratégia logística inteligente, combinando concessão, coparticipação e planejamento territorial.

Os números são claros: R$ 9,2 bilhões de investimento, R$ 14,6 bilhões de retorno, payback em menos de 10 anos, PIB estadual acima de R$ 500 bilhões, seis portos, quatro aeroportos e um litoral em expansão. Poucos estados brasileiros têm uma relação tão direta entre infraestrutura e produtividade.

A terceira pista da BR-101 é o presente que o futuro exige — em Floriville, a cidade horizontal que se criou em nosso estado. Assim, Santa Catarina, que sempre foi sinônimo de trabalho, eficiência e visão, mostrará, mais uma vez, ao Brasil como se constrói o desenvolvimento com agilidade e resiliência. Porque o tempo perdido no trânsito custa caro e não volta mais — mas o tempo ganho com decisão e planejamento vale para sempre. Assim age uma civilização.

Vinícius Lummertz é ex-Ministro do Turismo e ex-presidente da Embratur

 

 

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