Confira o artigo do residente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

A escassez de mão de obra no campo, antes vista apenas como dificuldade pontual, consolidou-se como um desafio estrutural da agropecuária catarinense. No entanto, longe de ser uma barreira intransponível, esse cenário tem estimulado mudanças profundas e positivas, reforçando a vocação do setor rural para a inovação, a cooperação e a superação.
Santa Catarina possui uma estrutura fundiária singular: 88% dos imóveis rurais têm até quatro módulos fiscais. Embora pequenos em extensão, esses estabelecimentos são gigantes em resultados. Produzem grãos essenciais como milho, soja, feijão e arroz, além de se destacarem na criação de aves, suínos, bovinos e na produção de leite. É a força do minifúndio que sustenta a pujança da agropecuária catarinense e garante ao Estado protagonismo nacional em produtividade. Essa diversidade é a base de um modelo intensivo que alia tradição, tecnologia e compromisso com a qualidade dos alimentos.
Nos últimos anos, a modernização rural avançou de maneira consistente. Programas do SENAR/SC, do SEBRAE/SC e do SESCOOP/SC têm proporcionado capacitação contínua, estimulando produtores a incorporarem softwares de gestão, sensores de monitoramento e equipamentos de última geração. Cursos gratuitos, treinamentos práticos e assistência técnica gerencial têm ampliado o conhecimento das famílias rurais e aberto espaço para novos perfis profissionais. Essa revolução silenciosa tem tornado o campo catarinense mais competitivo, sustentável e preparado para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais globalizado.
Ainda que a carência de trabalhadores represente preocupação, ela também abre oportunidades. O Censo de 2022 revelou que menos de 15% da população brasileira vive no campo, com predominância de pessoas acima dos 50 anos. Contudo, cresce o número de jovens que avaliam positivamente a permanência no meio rural, desde que encontrem ali um ambiente profissionalizado, com reconhecimento, estabilidade e qualidade de vida. A mensagem é clara: o campo pode se reinventar como espaço de futuro, atraindo talentos não apenas pela remuneração, mas por oferecer propósito, bem-estar e pertencimento.
Pesquisas acadêmicas reforçam que fatores como acesso a saúde, educação, lazer e boas relações comunitárias são determinantes na decisão de permanecer no campo. Essa constatação é animadora, pois Santa Catarina já apresenta uma rede de serviços e uma vida comunitária intensa, capaz de atender a essas demandas. O fortalecimento das cooperativas, o investimento em infraestrutura e a valorização das relações sociais nas comunidades rurais ampliam ainda mais o potencial de retenção de jovens talentos.
Valorizar a mão de obra, portanto, é mais do que resolver uma questão imediata. É apostar em um projeto de futuro, em que pessoas sejam tratadas como protagonistas da produção. A tecnologia, o crédito e as políticas públicas são fundamentais, mas é a valorização do trabalhador que garante a sustentabilidade do sistema. O Estado, que já é modelo em produtividade e inovação, tem agora a oportunidade de se tornar também referência nacional em respeito e cuidado com quem faz a agropecuária acontecer.
O futuro da agricultura e da pecuária catarinense será construído no equilíbrio entre técnica, estratégia e gente. Com trabalhadores reconhecidos e motivados, o campo não apenas superará os atuais desafios, mas se consolidará como espaço de prosperidade, qualidade de vida e oportunidades.

 

JOSÉ ZEFERINO PEDROZO
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc)
e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

Tags

  • José Zeferino Pedrozo