Com a mesma acuidade de quem anteviu em seus livros as grandes transformações científicas e ideológicas que o mundo veria no século XX, o escritor inglês de ficção científica H. G. Wells disse certa vez que "A história da humanidade torna-se cada vez mais uma corrida entre a educação e a catástrofe". O astrônomo norte-americano Carl Sagan, seu grande admirador, completou, mais de 50 anos depois: ?No momento, acho que estamos perdendo a corrida".
No lado oposto daquele saudável pessimismo realista, neste sábado, os catarinenses comemoram, com justificado orgulho, os 50 anos da nossa Universidade Federal de Santa Catarina. Afinal, em sua mais recente pesquisa, divulgada no mês de julho, com avaliação de doze mil instituições, o Ranking Mundial de Universidades (Webometrics, grupo de pesquisa pertencente ao Conselho Superior de Investigações Científicas, ligado ao Ministério da Educação da Espanha) novamente traz a UFSC como primeira universidade federal entre as instituições brasileiras.
A primeira colocada é a USP e a segunda a Unicamp, ambas estaduais paulistas. As três primeiras colocadas são as norte-americanas Harvard, o MIT e Stanford e a primeira européia é a inglesa Cambridge. No Ranking Latino-Americano, a UFSC está na sexta posição.
Antes do século XVIII, as universidades dedicavam-se ao ensino de natureza especulativa e formativa. Foi a partir deste século que as écoles começaram a ensinar matérias de utilidade prática e a preocupar-se com a técnica, a ciência aplicada e a formação profissional. Inaugurava-se a liberdade de discussão e, através do diálogo universidade-comunidade, a busca da solução de problemas demandados pela sociedade, gerando inovação e renovação de idéias.
Mas é só no século XX que a universidade atinge a simbiose da formação cultural humanista, da investigação científica e da preparação técnico-profissional. Hoje, a universidade abre-se à universalidade, um saber que se alimenta tanto do conhecimento criado pela divagação teórica quanto daquilo que a problemática concreta determina.
Seu papel deve ser o de estimular a descoberta, desafiar a razão e libertar a inteligência para a plenitude das suas possibilidades. Em vez da arrogância do saber, a humildade da dúvida; em vez do conservadorismo cômodo, os riscos da aventura e da inovação.
É impossível planejar o futuro sem a universidade, assim como universidade que não se envolve com a comunidade não faz jus a esse nome. Essa interação é, ao mesmo tempo, indispensável e inevitável, tendo em vista uma universidade que vá além da mera formação instrucional, atingindo o que eu chamaria de Pluriversidade, face ao seu conteúdo civilizatório.
H. G. Wells também costumava dizer que "Os ideais são o traje de gala da alma". E foi na UFSC, onde cursei Direito entre 1960 e 1965, que consolidei os valores democráticos e os ideais humanísticos que recebera de meu pai, o jornalista Moacir Iguatemy da Silveira.
Deixe seu comentário