O relatório que o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou no último dia 29, traz revelações inquietantes a respeito da distribuição de renda, mostrando com números insuspeitos, que o mundo nunca esteve tão rico, mas que a riqueza nunca esteve tão mal distribuída como hoje.

No seu recente livro “O Futuro”, Al Gore mostra como se processam os fluxos financeiros na rede mundial que ele chama de Terra S/A. A velocidade eletrônica com que o dinheiro viaja pelos cinco continentes criou um cenário de aceleração dessa concentração.

Segundo aquele ex-vice presidente da República dos Estados Unidos, no seu país, a concentração de renda chegou a tal extremo que umas 400 famílias açambarcam um patrimônio equivalente à soma de outros cento e 30a milhões de norte-americanos.

O relatório do PNUD, que tem o título “Humanidade Dividida; confrontando a desigualdade nos países em desenvolvimento”, faz revelações estarrecedoras. Cerca de 1% da população mundial, apenas, concentra em suas mãos 40% da riqueza. Por outro lado, 50% dessa mesma população reúne apenas 1% da riqueza gerada no planeta.

A distribuição da riqueza mundial sempre foi muito injusta, mas essa injustiça cresceu sobremaneira depois da Segunda Guerra Mundial, justamente o período de maior crescimento econômico em toda a história da humanidade. O bolo da riqueza inflou acelerada e espantosamente, mas só sobraram nacos para a população mais pobre, concentrada na África, na Ásia e na América Latina.

A globalização, a economia – que Al Gore chama de “financialização” dos mercados, vem fazendo crescer o apartheid entre ricos e pobres, cujas consequências mais visíveis são o inchaço das cidades, o avanço das favelas, da criminalidade, da evasão escolar e da baixa qualidade do ensino, da fome, do subemprego, da poluição, da falta de saneamento, da contaminação, das epidemias, da disseminação das drogas, e todos os efeitos antissociais da miséria.

Esse desequilíbrio aumentou nos países em desenvolvimento, a uma taxa de 11%, entre 1990 e 2010. Dentre esses, o Brasil foi um dos poucos que conseguiu reduzi-lo, fazendo a desigualdade cair de 54,2% para 45,9%, de acordo com o índice GINI, que mede a concentração de renda.

A razão fundamental para essa melhoria da renda dos brasileiros foi a política salarial. Em apenas oito anos (entre 2003 e 2010), o valor do salário mínimo aumentou 80%.
Eu sempre tive convicção de que o melhor instrumento para reduzir as desigualdades sociais é a elevação dos ganhos dos assalariados. Por isso, enviei à Assembleia Legislativa e sancionei o projeto de lei que instituiu o salário mínimo regional, em vigor no Estado de Santa Catarina.

No Senado, empenhei-me na aprovação do projeto em que a presidente Dilma Roussef criou a nova metodologia que permitiu a automática majoração do salário mínimos dos trabalhadores, norma que vem contribuindo para a melhoria da renda dos assalariados. Porque, repito, a roda que move a mais justa distribuição de renda é o salário.