A renúncia do papa Bento 16 reacendeu o debate sobre as reformas proteladas na Igreja Católica, a começar pela revogação da norma que exije dos padres o celibato.
O vazamento de documentos secretos, expondo condutas irregulares de sacerdotes a, até mesmo, de altos prelados da Igreja, precipitou o gesto extremo da abdicação.

A Igreja católica vive sua nova esquina histórica. E busca o caminho para levá-la de volta (e com força) à conciliação com o Evangelho. Convocado para escolher o novo Papa, o Concílio do Vaticano escolherá, mais do que isso, novos rumos para o catolicismo.

Quando o padre Martinho Lutero publicou, em Augsburg, suas célebres teses, denunciando as indulgências, pelas quais as pessoas eram “liberadas”do pecado, caso contribuissem com dinheiro para as obras eclesiásticas, seu objetivo era reformar a Igreja.

O conservadorismo papal não teve sensibilidade para ouvir e absorver aquela pregação de absoluta fidelidade ao Evangelho. E, diferentemente do que queria Lutero, deu origem à doutrina protestante, que disseminou seus templos, ajudada pela popularização do texto bíblico, traduzido para o idioma alemão.

Embora ainda conte com dois terços dos fieis brasileiros, a supremacia da Igreja Católica vem sendo ameaçada pelo crescimento vertiginoso das denominações evangélicas, cujo conjunto de seguidores já ultrapassou, no Brasil, a expressiva cifra de quarenta milhões.

Desde a celebração do primeiro culto, em 10 de março de 1557, quando um grupo de huguenotes trazidos pelo católico francês Nicolas Duran de Villegagnon, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, as igrejas evangélicas não pararam de crescer.

Segundo o último recenseamento, feito em 2010, os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil no período entre os censos. Em 2000, eles representavam 15,4% da população. Em 2010, chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Em 1991, este percentual era de 9,0% e em 1980, 6,6%. Já os católicos passaram de 73,6%, em 2000, para 64,6% em 2010.

Sem dúvida, a perspectiva de viver em celibato (que é uma negativa da natureza humana) tem sido o principal motivo para a redução constante dos seminários católicos e das vocações sacerdotais.

É cada vez maior o número de ex-seminaristas e de ex-padres. A maioria daqueles teria se ordenado. E, acredito, todos os padres casados teriam continuado o seu sacerdócio, ou voltariam a exercê-lo, caso fosse revogada a exigência do celibato.
Como cresce a possibilidade de termos o primeiro Papa sulamericano, na pessoa do cardeal D. Odilo Scherer, talvez os números do censo possam modificar-se na próxima década.