por NEUTO DE CONTO*

Até que se invente outro sistema, é a política que decide desde o preço e a qualidade do pão da padaria da esquina até o direito de tornar sonhos realidade. Mas a indiferença do eleitor inviabiliza a diferença na política. Por isso, é como um sinal de alerta, como algo que suscita reflexão, mas, sobretudo, como um indicador positivo do grau de consciência da população, que deve ser recebida a pesquisa de opinião divulgada há poucos dias sobre o Senado.

Chamados a se manifestar pelo Instituto Análise, a maioria declarou que a instituição é indispensável. Dos mil entrevistados na pesquisa, 52% disseram que a existência do Senado é importante, sim, junto com a Câmara dos Deputados. Mesmo em meio aos escândalos, e a mídia dando mais ênfase aos erros do que aos acertos dos parlamentares, desencantando com isso o mundo da política, a população sabe separar “a instituição da pessoa física do Senador”.

Essa visão institucional é disseminada entre os mais escolarizados – 64% dos entrevistados com curso universitário afirmam que a Casa deve ser mantida. Ou seja, a população está descontente com os políticos, mas não abre mão daqueles que reúnem transparência ética, capacidade administrativa, visão de mundo e amor ao bem comum.

Não se pode dizer que os números apurados constituam euforia, tendo em vista os crônicos impasses, os desafios notórios e nunca resolvidos que marcam a circunstância brasileira. Nem por isso o resultado deixa de ser bastante animador, tendo em vista a suposição generalizada que, dado o atual desgaste, haveria uma parcela maior de cidadãos a favor de sua extinção.

Seja como for, a maior importância da pesquisa reside no fato de que o trabalho representa uma contribuição inestimável enquanto meio de reafirmar, com precisão científica, a maturidade do eleitorado. “Vivemos em uma federação com Estados muito diferentes, e é importante ter uma Casa capaz de abraçar a perspectiva federativa”, resumiu o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. Em um parlamento unicameral, os Estados mais populosos, e com maior número de deputados, tenderiam a impor seus interesses em detrimento dos menores.

Sem dúvida, a pesquisa representa uma contribuição inestimável enquanto instrumento de detectar, com precisão, uma das principais demandas e carências da sociedade nacional.