?O dia em que vocês envenenarem o último animal... quando não existirem nem flores, nem pássaros, se darão conta de que dinheiro não se come.? - índio Hamawt?a
Apesar de sabermos com absoluta certeza que vamos morrer nem por isso descuidamos da nossa saúde ou tomamos atitudes pessoais para apressar nosso fim. Fazendo um paralelo com o Planeta, sabemos que daqui a alguns bilhões de anos o Sol irá se extinguir, naturalmente, e que bem antes disso nosso Planetinha e todo o Sistema Solar conhecido já terá desaparecido.
Entretanto, se o Planeta não corre riscos de desaparecer em breve, o mesmo não se pode dizer de nossa espécie. Antes de nós, nenhuma outra espécie foi capaz de causar tantos danos e alterações no Planeta quanto a nossa. Os tubarões, as baratas, e os crocodilos, por exemplo, já estão aqui cerca de 300 milhões de anos. Os dinossauros dominaram por mais de 130 milhões de anos antes de se extinguirem. Nós ainda não completamos nosso primeiro 1 milhão de anos e já temos de conviver com a ameaça de desaparecimento ou de encolhimento em função das mudanças climáticas e outras hecatombes ambientais que podem tornar impossível a vida como conhecemos.
Os pessimistas são aqueles que perderam a fé no ser humano e não acreditam que as pessoas vão mudar a tempo de impedir o desastre. Os otimistas ao contrário acreditam que ainda temos tempo de mudar a atual rota suicida. A diferença entre um e outro está em olhar para o futuro com um olhar de esperança e não com olhar de descrença ou de desânimo. Precisamos disso para investir em mudança, especialmente mudanças de logo prazo, como as que são feitas através da educação. Pessimistas tendem a orientar seus olhares para o que está errado, até como forma de justificar sua postura pessimista. Pessoas assim têm muita dificuldade em admitir que algo ou alguém conseguiu mudar para melhor.
Não é verdade que as pessoas, os Estados, as organizações não sejam capazes de mudar. Algumas décadas atrás era difícil encontrar alguém que se importasse com as questões ambientais. Hoje, é difícil encontrar alguém que não se importe. Entretanto, entre a tomada de consciência, o discurso, e a prática, ainda há um longo caminho a percorrer. Mas é inegável a mudança para melhor. E se fomos capazes de mudar nossa maneira de pensar, é só uma questão de tempo para mudar nossa maneira de agir.
O desafio é saber escolher e ninguém consegue fazer isso sem saber das alternativas e das conseqüências. E aqui há mais uma razão para ser otimista. Nenhuma geração anterior teve tanta chance de fazer escolhas melhores do que agora, por que nenhuma teve tanto acesso à informação quanto a nossa.
O problema principal que impede a mudança não está na forma como lidamos com o Planeta ou com os outros animais e plantas, mas na maneira como lidamos com nossos próprios semelhantes. A humanidade como um todo é acusada de se comportar de forma suicida ao consumir 20% a mais dos recursos naturais do que o Planeta consegue recompor, mas esta é uma idéia falsa por que o poder de decisão e de destruição não é igual para todos, assim como o usufruto com os benefícios de tanta destruição e poluição ambiental também não. Apenas cerca de 20% da população mundial são responsáveis pelo consumo de quase 80% dos recursos naturais!
Ao aceitarmos mais poluição e destruição ambiental, sob as atuais condições de exploração de um pelo outro, sob o pretexto de gerar progresso e atender a necessidade de muitos, apenas justificamos a concentração da riqueza e do poder nas mãos de uns poucos enquanto a grande maioria continua a conviver com miséria, fome e ainda com mais poluição e degradação ambiental. Uma maneira mais rápida de apressar o nosso fim onde os ricos e poderosos apenas estarão assegurando o direito de desaparecerem por último.
O Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais defende a construção de um "Novo Mercado" que traga investimentos diretos para as populações carentes e excluídas da pirâmide das commodities convencionais, inserindo-os no processo produtivo das commodities ambientais e oferecendo-lhes acesso ao mercado. Na estrutura hoje vigente, o indivíduo desempregado ou sem renda fica totalmente fora do mercado; não tem acesso à água potável, à eletricidade, ao tratamento do esgoto, etc. bens que compõem as matrizes ambientais.
Entendemos que, se não gerarmos ocupação e renda para as populações que vivem das florestas, para comunidades excluídas, as minorias, os sem-expectativa-de-vida, pequenos produtores, extrativistas, desempregados em geral, não há como preservar o meio ambiente. Tampouco é possível controlar a emissão de poluição, que vai desde os esgotos lançados nos rios, córregos e mares até os gases do efeito estufa (dióxido de carbono, gás metano, entre outros) lançados na atmosfera por todos setores produtivos envolvidos.
Acreditamos que o Brasil tem enorme potencial para desenvolver projetos sócio-ambientais que atendam a interesses maiores do que uma classe social, um grupo ou outro. O país tem ainda condições de expandir esse projeto para outros países dado o aspecto humanitário que ele envolve.
Por que acreditamos nisso? Porque o Brasil não é um país pobre, e nunca foi, sendo detentor das matrizes ambientais (água, energia, minério, madeira, biodiversidade, reciclagem e controle de emissão de poluentes -água, solo e ar) para produção destas commodities desde que em condições sustentáveis.
Esta proposta, que se sustenta na trilogia legitimidade-credibilidade-ética, supõe uma participação consciente na promoção de uma economia justa, socialmente digna, politicamente participativa, ecologicamente correta e integrada dentro dos preceitos do desenvolvimento sustentável.
Estamos preocupados com a maneira pela qual as reuniões e debates sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e a implantação do Mercado de Carbono vêm sendo conduzidas. A tendência que temos observado é, infelizmente, que os "Créditos de Carbono" sejam novamente a repetição de um modelo centralizador, arriscado, limitado e desgastado sob os quais se estabeleceram os contratos de derivativos, commodities convencionais e títulos nos grandes centros financeiros.
Se o Fórum Econômico em Davos tem como oposição o Fórum Social Mundial, as Bolsas convencionais e o atual sistema financeiro, enraizado no modelo neoliberal, desumano e injusto, terão como contra-ponto, para que a sociedade possa intervir e corrigir as distorções que estão se institucionalizando, a Parceria BECE-REBIA.
* Vilmar é jornalista e escritor com 15 livros publicados. Na Paulus, publicou “Como Fazer Educação Ambiental”, “O Desafio do Mar”, “O Tribunal dos Bichos”, entre outros, e nas Paulinas, “Pensamento Ecológico” e “A Administração com Consciência Ambiental”, transformados em curso à distância pela UFF – Universidade Federal Fluminense. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente. É fundador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e editor do Portal (www.portaldmeioambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente. Mais informações sobre o autor: (http://www.rebia.org.br/Vilmar-Berna/ ). Contatos: [email protected]
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