Tenho muitas estórias a contar das 24 campanhas eleitorais de que participei, ao longo de meus 44 anos de vida pública. Quando eu deixar a atividade política, quero resumi-las num livro, que sem dúvida, vai exaltar a inteligência e a criatividade do nosso povo.

Neste início de inverno, vou contar a do bêbado, que me abordou, depois de uma reunião com o povo do Jativoca (um bairro distante e carente de Joinville, a uns 10 quilômetros do centro da cidade).

Era uma noite fria e chuvosa. Saí de casa com a certeza de que a reunião, marcada no galpão da Igreja católica, seria cancelada. Eu era candidato (pela segunda vez) a prefeito. Mesmo que não houvesse alguém me esperando, eu tinha a obrigação de ir até lá.

Naquela noite (embora estivesse em terceiro lugar nas pesquisas de opinião pública) senti que iria ganhar a eleição. Encontrei umas 300 pessoas entusiasmadas, entupindo o pequeno salão paroquial. Fui recebido por crianças descalças, mulheres com filhos recém-nascidos no colo, operários de chinelo de dedo.

Aquela gente humilde me abraçava calorosamente, pedindo que voltasse à Prefeitura. O que me provocou emoção é que povo do Jativoca desconheceu a chuva. Não reconheceu o frio. O que aconteceu ali é o que mais a gratifica a gente na atividade política. Recebi, naquela noite, o que mais afaga o âmago do homem público: um show de confiança, entusiasmo e calor humano.

Ao final do comício, já por volta das 23 horas quando eu me despedia das últimas pessoas, um bêbado, velho conhecido, aproximou-se de mim e gritou: - Careca! Tu vais me levar em casa!

Eu chamei o Manoel Mendonça, que coordenou as minhas campanhas, e lhe pedi que arranjasse algum companheiro que lhe desse uma carona.

Ele, então vociferou: - Negativo, careca! Você não quer levar meu voto? Então, me leva em casa!

Entrando no meu carro, ele o “pesteou” com a inhaca, o mau cheiro de quem não toma banho há bastante tempo e o forte bafo de cachaça.

Perguntei-lhe: - Onde é a sua casa?

- Não esquenta, careca. Vai levando (descobri, depois, que ele morava no Jardim Paraíso, a uns 15 quilômetros dali). Durante o trajeto, mandou que eu entrasse num outro bairro (a Comasa do Boa Vista) e parasse de fronte ao posto policial. Desembarcou, entrou e já voltou correndo do cabo da Polícia Militar, que vinha “voando” atrás dele.

Antes que o pegasse, o bêbado conseguiu sentar, de novo, ao meu lado. O policial veio com tudo para arrancá-lo, à força, do meu carro. O bêbado abriu a janela e disse, irônica e triunfalmente: - Olha aqui, seu cabo! Veja com quem é que eu ando.

Mais tarde, eu soube que o cabo era desafeto do bêbado. Já o havia prendido várias vezes...