As pessoas estão começando a se preocupar com as catástrofes climáticas. É que seus efeitos estão chegando a lugares aos quais jamais se imaginou que chegariam. Parece que cada um estava convicto de que a coisa só cairia na cabeça do outro, nunca na sua. Então, ainda não era hora de se ocupar com o assunto. Bem, as implicações dos descuidos estão em todos os lugares, portanto, também, no lugar em que cada um está. Daí, a muito óbvia conclusão de que todos começam a se preocupar.
Este desassossego, de toda forma, só perdura enquanto as sequelas restam visíveis, e a maioria não faz mais do que prometer plantar uma árvore. O senso comum acredita que o problema resume-se ao desmatamento, que é gravíssimo, mas esse não é o cerne da questão. Os estudiosos do assunto dizem com clareza: a terra, há algum tempo, já esgotou sua capacidade de receber novos hóspedes. Simplesmente, com tanta gente morando no planeta, ele não se recupera satisfatoriamente. E nós não dispomos de tecnologia para recuperá-lo.
Quando se veem áreas desabitadas, fica-se com a impressão de que é possível, com jeitinho, construir mais cidades, imagina-se que há espaço para mais gente. Não funciona assim. Há estudos que indicam quantos hectares desocupados são necessários por habitante, considerando-se o que ele comerá, defecará, respirará durante a vida. Ainda tomará banho, vestir-se-á, usará automóvel, mobiliará a casa, usará eletricidade, utilizará papel, etc. Do que cada um gasta, só uma parte a natureza consegue reciclar, outra parte jamais se recupera. Ainda temos reserva, mas estamos gastando-a. Já vencemos a curva de segurança.
Exemplo: a região conurbada da Grande São Paulo tem cerca de três vezes a população de Santa Catarina. Imagine-se a produção diária de lixo e esgoto daquele conglomerado urbano, o dano causado ao solo, à água e ao ar. Pense-se na poluição produzida pelos milhares de veículos de seu trânsito lento. Reflita-se sobre o quanto de área de floresta é necessária para recuperar-lhe a qualidade do ar. Que tamanho teria a fazenda na qual se produziria o que São Paulo come? Agora, calcule-se o necessário para dar conta da soma das muitas cidades, pequenas e grandes, e tem-se uma preocupante conclusão.
O mundo judeu, o muçulmano e o cristão têm a sua história baseada no velho testamento. Estes mundos brigam e em parte ainda vivem conforme seus preceitos. Desde há muito estão convencidos de que é dever de todos cumprir o 22 do Gênesis: ?sede fecundos e prolíficos?, ou, mais comum, ?crescei e multiplicai-vos?. Seja como for, é um péssimo conselho. Mas era pecado não segui-lo. Thomas Malthus, demógrafo e economista inglês, desde o século XVIII, alerta sobre o assunto. Nunca lhe foi dada a devida atenção. Os religiosos falaram mal dele. Não era politicamente correto dizer o que dizia. Mas ele tinha razão.
Xingam-se o gado e as hortaliças que ocupam o lugar das tantas árvores que se derrubam. Enquanto desejar-se comida na mesa, vai-se ter que criá-la ou plantá-la em algum lugar. Pode-se aproveitar melhor algum terreno já desflorestado, mas logo não cabe mais. Por enquanto, a questão é arranjar espaço para produzir alimento. No futuro, a briga, talvez, será por água. A falta de água potável é prenúncio de guerra. Sempre foi, em qualquer tempo e em todo o lugar. Bem, se mais não podes, acaricia a terra, planta uma árvore. Que tua criança brinque em paz na sobra dela.
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