Com doze indicações para o Oscar de melhor filme, Lincoln, a mais recente obra de Steven Spilberg, traça um perfil muito próximo das biografias que li sobre o Presidente que conseguiu aprovar no Senado e na Câmara a célebre Emenda constitucional número 13, que proibiu o trabalho escravo em todo o território norte-americano.

O filme mostra a tenacidade do Presidente em promover o fim da escravidão, como ponto cricial para por termo à sangrenta guerra da secessão.

A escravidão pôs em conflito o norte industrializado e o Sul agrícola, aquele apoiado na mão de obra livre, escolarizada; este dependente do trabalho escravo dos negros trazidos, à força, da África.

Não foi apenas por razões econômicas, mas também pelo sentimento humanista (brotado a partir das universidades e das organizações corporativas), que os estados do Norte passaram a condenar o escravismo sulista.

Lincoln foi eleito por simbolizar a luta contra a escravatura; e reeleito após ter decretado o banimento da escravidão, o quie levou os estados do Sul a se armarem, após criar uma confederação separatista.

O filme de Spielberg levou-me de volta à leitura do clássico “O Abolicionismo”, de Joaquim Nabuco, o pernambucano que levantou a causa da libertação dos escravos no nosso país.

Escrito durante seu exílio em Londres, “O Abolicionismo”teve a primeira edição impressa naquela Capital, longe do Brasil, onde Nabuco sofreu todo tipo de represálias, pela forma candente com que denunciava o desumano regime escravista.

Sua linguagem era panfletária e incisiva: “a escravidão é um ar envenenado, e esse é o ar que respiramos e que absorvemos, todos e tudo, neste País.”

Charles Darwin, horrorizado com o que viu, relata que “no dia 19 de abril deixamos, por fim, as praias do Brasil. Graças a Deus, nunca mais hei de visitar um país de escravos!”

A escravidão dos negros africanos no Brasil durou trezentos anos, chegando a uma população escrava de um milhão e quinhentos mil, nos anos 1870, com maior presença nas plantações de açucar e café, que eram os grandes fatores de crescimento da economia do Império.

Ela estava tão enraizada na cultura nacional que falar em suprimir o regime escravocrata era como liquidar com a economia do País. Por isso, relata Nabuco: “A primeira oposição nacional à escravidão foi promovida tão somente contra o tráfico. Pretendia-se suprimir a escravidão lentamente, proibindo a importação de novos escravos. Pretendia-se suprimir a escravidão lentamente, proibindo a importação de novos escravos. À vista da espantosa mortalidade dessa classe, dizia-se que a escravatura, uma vez extindo o viveiro inesgotável da África, iria sendo progressivamente diminuída pela morte, apesar dos nascimentos.”

Assim, o regime escravocrata, já consciente da sua insustentabilidade, admitia uma supressão lenta e gradual, nos moldes da abertura proposta pelo general-presidente Geisel.

“O Abolucionismo” e o papel de Joaquim Nabuco no parlamento brasileiro foram fundamentais para apressar o fim dessa nódoa que manchava a credibilidade do nosso país.

Mas essa luta continua para que todos, independentemente da cor, tenham igualdade de oportunidades!