por
Zulmar
Antonio Accioli de Vasconcellos*
Na pesquisa inédita encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) ao Instituto Datafolha, cujos resultados foram conhecidos no início deste ano, consta que o lifting facial ocupa a sexta posição no ranking de procedimentos cirúrgicos estéticos mais realizados no País. Em 2008, contabilizou-se 32 mil operações deste tipo, o que representa apenas 7% de um total de 629 mil intervenções plásticas consideradas de médio e grande porte.
Tal panorama deve-se ao fato de que pessoas mais novas estão recorrendo à plástica, em especial às aperfeiçoadas próteses de silicone para aumentar os seios e às técnicas de lipoaspiração – campeãs disparadas, com três vezes mais de procura, atingindo 21% e 20%, respectivamente.
Ainda assim, esta média diária de mais de mil cirurgias faciais é um número bastante alto, o segundo maior índice mundial, ficando atrás somente dos Estados Unidos. E a tendência é subir, pois, quando aquelas pessoas envelhecerem, a quantidade de cirurgia da face vai progredir. Importante lembrar também que os modernos tratamentos dermatológicos, cada vez mais, retardam a aparência senil, porém não evitam a queda do vigor da pele e das estruturas do rosto.
A primeira investigação similar à nacional feita entre os membros da seccional catarinense da SBCP foi apresentada no fim do ano passado, posicionando a plástica facial no mesmo patamar. E, apesar de estar ocorrendo em menor quantidade que os outros, ela foi apontada como o procedimento que os cirurgiões plásticos do Estado mais têm desejo de fazer. Isto, por ser uma operação muito delicada, cheia de detalhes e para a qual os cirurgiões mais preparados se dedicam bastante.
Esta dedicação também é perceptível em tal pesquisa, haja vista que o indicador de refinamento ou retoque nas cirurgias plásticas em geral realizadas em Santa Catarina é de 8,5%, um dos menores do mundo. Quando se trata de intervenção estética na face, o número cai drasticamente. Reparos nestes casos são incomuns e, em certas clínicas, fica bem abaixo de 1%.
Ação do tempo
A plástica facial é feita para melhorar a aparência e atenuar sinais de envelhecimento no rosto e no pescoço. O tempo, aliado a fatores externos, como o fumo e a exposição ao sol, provoca atrofia dos tecidos, causando a perda da elasticidade e alterações da textura. A consequência inevitável é a frouxidão da pele, do tecido subcutâneo e dos músculos, com simultâneo desgaste ósseo – cujo principal motivo é a falta de dentes. Por isso, a saúde bucal também é importante para a manutenção do aspecto jovial da face.
A hereditariedade é determinante. O padrão genético define o momento da vida em que a pele de cada um começa a envelhecer, naturalmente. Em geral, o processo inicia aos 25 anos de idade. Porém, existem pessoas normais que parecem mais velhas que outras. Há ainda aquelas que parecem mais velhas precocemente, pelo estilo de vida (sol e fumo). Por último, ainda existem algumas condições patológicas raríssimas, onde a pessoa envelhece muito mais rápido que o normal, como a progeria.
Em decorrência, aparecem rugas na face e no pescoço, ptose (queda) das bochechas e dos cantos da boca, sulcos profundos do nariz até a boca (bigode chinês), triângulo de flacidez na maçã do rosto. A moderna cirurgia de lifting facial ou ritidoplastia reposiciona estas estruturas ptosadas, proporcionando um rejuvenescimento importante, que é parte de um tripé de objetivos finais: o rejuvenescimento em si, os poucos estigmas cirúrgicos e a durabilidade.
A hora de operar
Não há idade padrão para fazer o lifting da face, mas, em geral, os pacientes se concentram na faixa entre os 40 e 60 anos. A hora de operar é quando o paciente acha que chegou o momento. É o espelho que vai dizer. Para o cirurgião, existem alguns marcos, como o excesso de pele perto do queixo, conhecido como bulldog – referência à raça canina que possui bochechas proeminentemente caídas.
As alterações anatômicas inerentes ao envelhecimento em confronto com um estado de espírito adverso a elas é que acaba por pontuar a decisão da pessoa. Mas, é importante frisar que o candidato ideal à plástica da face deve ser fisicamente saudável, psicologicamente estável e seguro sobre o procedimento e seus resultados. Entender que a cirurgia não objetiva a perfeição, mas uma sensível melhora da aparência e consequente elevação da autoestima. Sua pele precisa apresentar flacidez no rosto e pescoço, mas com alguma elasticidade, e a estrutura óssea deve ser forte e bem definida.
A cirurgia
A técnica compreende em uma incisão que começa na altura da têmpora, desce pela frente da orelha, contorna o lóbulo por atrás do pavilhão auricular até chegar à linha do cabelo. A pele e os músculos são tracionados para cima e para trás. Em alguns casos, faz-se uma pequena lipoaspiração para remover a gordura sob o queixo, a famosa “papada”.
Nas mãos de um cirurgião qualificado, raramente há complicações. Quando ocorrem, são menores: desde leves sofrimentos da pele até paresias da mímica facial – causadas por pequenas lesões em um nervo, que se recupera completamente até o terceiro mês pós-operatório. Normalmente, a cirurgia é executada sob anestesia local assistida, ou seja, a área é entorpecida e o paciente sedado com medicamentos orais e endovenosos. Pode-se optar pela anestesia geral com entubação, mas, no Brasil, prefere-se a alternativa anterior por proporcionar recuperação mais rápida e diminuir a incidência de hematomas.
A operação dura de quatro a cinco horas, podendo prolongar-se nos casos em que se execute mais de um procedimento, simultaneamente, como a blefaroplastia, que remove gordura e pele das pálpebras. O olhar pesa demais no conjunto da face e o excesso de pele palpebral conta muito no aspecto cansado do rosto. Por isso, é rotina operar as pálpebras junto com a face.
Pós-operatório
O período de internação é de 24 horas, porém, o paciente pode receber alta no mesmo dia, desde que esteja em boas condições clínicas (sem tontura e sem enjôo). A recuperação, em geral, é tranquila e as dores são mínimas, perfeitamente suportáveis com auxílio de analgésicos comuns. O inchaço no rosto começa a regredir depois da terceira semana e podem aparecer hematomas – raros, quando se usa anestesia local assistida –, que são de simples solução.
O retorno ao trabalho já pode ocorrer no sétimo dia pós-operatório, desde que seja uma atividade burocrática. Recomenda-se voltar às atividades físicas somente depois de um mês, usar filtro solar de alto fator e óculos escuros, além de evitar o sol por seis meses, álcool, saunas e banhos a vapor. Por isso, dá-se preferência a este tipo de cirurgia nos meses de frio, quando o paciente está distante da praia e do calor, podendo se proteger com chapéus, cachecóis e echarpes.
Os três ou quatro pontos na região anterior à orelha são retirados sete dias depois e o demais, absorvíveis, saem após 15 dias. Normalmente, as cicatrizes são de excelente aspecto e discretamente colocadas dentro de linhas e pregas naturais, como a região dos cabelos e em torno das orelhas. Com o tempo, elas se desvanecem e se tornam mal visíveis.
Novo espelho
De imediato, o paciente estranhará o rosto, verá suas características modificadas, cicatrizes à mostra e movimentos levemente dificultados. Na terceira semana, tudo estará melhor e, se necessário, usa-se maquiagem para disfarçar os sinais ainda aparentes. Passado o período pós-operatório, um novo semblante estará diante do espelho. Não o mesmo de 20 anos atrás, nem tão pouco uma pele estirada ao ponto de parecer outra pessoa.
Em regra, espera-se que o resultado perdure de cinco a oito anos, pois, evidentemente, a pessoa continua a envelhecer no dia seguinte à cirurgia. O que a operação mantém são as estruturas principais em seus lugares e o resultado completo de um rejuvenescimento facial não termina com a cirurgia. Ao contrário, começa com ela, passa pelo peeling e pela maquiagem, além da necessária alegria de viver.
*Cirurgião plástico, doutor em medicina, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)
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