Há pouco mais de um ano enfrentamos a pandemia da Covid-19 e uma constatação já é quase de consenso: os graves problemas que têm tornado nossas vidas um drama já existiam, apenas foram potencializados pela crise sanitária. Ninguém ignorava o sucateamento da saúde pública ou a corrupção nos processos licitatórios, pois eram fatos recorrentes na mídia e nos tribunais. O comportamento pouco ou nada ético do brasileiro, com seus pequenos (ou nem tanto) e sucessivos atos de desrespeito às leis no dia a dia eram igualmente sabidos e debatidos. A pandemia serviu para exibir, em maior dimensão, a perversidade de agentes públicos e de milhares de pessoas, seja fraudando a aquisição de aparelhos respiradores, desprezando a obrigatoriedade do uso de máscaras e provocando aglomerações ou recomendando o tratamento com medicamentos comprovadamente ineficazes e atuando contra a vacina.
A chegada da vacina, aliás, trouxe a público um espírito nada republicano das autoridades e perverso dos cidadãos, com inúmeras denúncias de desrespeito àqueles que têm a prioridade na aplicação das primeiras doses dos imunizantes. Diante da escassez de vacinas, está vigorando o juízo de que "farinha pouca, meu pirão primeiro". Gente graúda e barnabés furam a fila, sem ruborizar as faces e despreocupados com o mal que provocam ou com as consequências legais.
Felizmente, essa é somente uma das faces do cenário e se olharmos para o outro lado nos depararemos com milhares de iniciativas de solidariedade, públicas ou anônimas, em favor da sobrevivência alheia. Esses exemplos devem nos contaminar e se propagar, como um legado às próximas gerações. O Sistema OSB em Santa Catarina se preocupa muito com esses aspectos: a difusão das boas práticas e a educação fiscal. Estamos presentes em 31 municípios de Santa Catarina, contando com o trabalho efetivo de 600 voluntários qualificados, cujos olhares dividem-se entre o controle social das despesas públicas, sua eficiente aplicação e a formação da cidadania.
A vigilância social da comunidade é um de nossos mais caros valores e esperamos que cada cidadão possa ser vigilante de si próprio, numa corrente capaz de tornar cada vez mais difícil a improbidade pública e, sobretudo, de difundir os exemplos da integridade, da ética e do respeito para com o próximo. A construção de um futuro melhor depende da nossa atitude hoje.
Alexsandro Schu, presidente do Observatório Social de SC
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