Para muitos jovens, a oportunidade do primeiro emprego representa muito mais do que a independência financeira. Num contexto de vulnerabilidade social, fortemente agravada pela pandemia, o primeiro trabalho representa também a possibilidade de auxiliar na renda familiar.

Nos últimos dois anos a população jovem foi afetada de maneira desproporcional. Um levantamento feito a partir de dados do IBGE, FGV Social, CIEE, Kairós Desenvolvimento Social e Datafolha mostrou que entre 2019 e 2020 esse grupo perdeu mais renda e postos de trabalho do que a média da população (-18,1% versus -11,20%). Entre aqueles com 20 a 24 anos e pertencentes aos 50% mais pobres, a perda chegou a 27%. Para a sociedade como um todo, perde-se a possibilidade de um futuro melhor, afinal, os jovens de hoje são os potenciais líderes e arquitetos de uma transformação histórica global no futuro.

A própria Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o mundo pode alcançar avanços econômicos e sociais expressivos se investir mais no potencial produtivo dos jovens. Esse investimento é uma responsabilidade compartilhada por todos. A sociedade deve cobrar que as empresas oportunizem o tão emblemático primeiro emprego e cumpram a Lei de Aprendizagem.

Essa Lei determina que todas as empresas de médio e grande porte contratem um número de aprendizes equivalente a um mínimo de 5% e um máximo de 15% do seu quadro de funcionários. A Lei da Aprendizagem foi criada com dois objetivos: fomentar o preenchimento e criação de novas vagas por meio de programas de aprendizagem; e criar a da figura do aprendiz.

Nesse contexto, o papel das empresas é fundamental e precisa considerar que um jovem não deve estar na organização apenas por cumprimento da lei. Na verdade, está lá para aprender e se desenvolver profissionalmente. Quando se dá uma oportunidade de trabalho pelo Jovem Aprendiz, o jovem enxerga um novo caminho a seguir. Além da renda, vem o ganho das experiências adquiridas durante o contrato de trabalho. Fora da empresa, o benefício está nas formações teóricas e nas lições que mostram para a juventude que ela pode ser protagonista de suas próprias histórias.

Na Grande Florianópolis, o Centro Cultural Escrava Anastácia prepara jovens, a maior parte oriunda de comunidades socialmente vulneráveis, negros e com idades entre 14 e 18 anos, para que tenham chances de conseguir uma vaga de jovens aprendizes. O trabalho é extenso e começa pelo Rito de Passagem, programa que oferece aulas e oficinas de mundo digital, comunicação, relações humanas, direitos e deveres e empreendedorismo, até chegar ao programa Jovem Aprendiz. A proposta é desenvolver nesses jovens uma experiência de vida que colabore com seu desenvolvimento e contribua para que aprendam a enxergar novas oportunidades. Nosso papel - e de toda a sociedade - é oportunizar novos caminhos.


Vera Susi Rita, coordenadora de Projetos do programa Jovem Aprendiz no Centro Cultural Escrava Anastácia