Celesc vai investir R$ 4,5 bilhões ao longo dos próximos 4 anos, revela Tarcísio Rosa
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Presidente da Celesc, Tarcísio Estefano Rosa (Fotos: Divulgação Celesc)
Presidente da Celesc falou sobre os planos da empresa e as ações já efetivadas na melhoria da distribuição de energia em SC
Graduado em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com tem especialização em qualidade e produtividade pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), o presidente da Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A - Celesc, Tarcísio Estefano Rosa, tem enorme familiaridade com o setor elétrico, atuando na área por mais de 40 anos.
Iniciou carreira na Eletrosul, em 1978, como engenheiro eletricista e gerente de usina termelétrica. Em 1999, esteve à frente do Departamento de Operação e Manutenção da antiga Gerasul e, de 2000 a 2008, foi gerente do Departamento de Comercialização da Tractebel Energia, atualmente Engie.
Nos anos seguintes, dedicou-se à Eletrobras, desenvolvendo atividades como diretor nas áreas de Geração, Transmissão e Distribuição da Eletrobras Amazonas Energia entre 2010 e 2014 e, em 2015 e 2016, como assessor da Presidência da Eletrobras CGTEE. Por fim, ocupou a presidência da Eletrobras Amazonas, posteriormente Amazonas Energia, entre 2017 e 2020. Antes de assumir a Celesc, estava atuando como consultor para empresas produtoras e comercializadoras de energia elétrica, na TCE Consultoria e Serviços em Energia.
Em entrevista exclusiva à Rede Catarinense de Notícias (RCN), o presidente da Celesc abordou os investimentos já realizados pela Companhia e o que vêm pela frente. Tarcísio Rosa falou também sobre mercado livre de energia, descarbonização e o avanço das redes trifásicas no interior catarinense. Acompanhe
RCN: Quais os avanços da Celesc neste primeiro ano à frente do comando da empresa elétrica de SC?
Tarcísio Rosa: Os resultados são visíveis para empresa e principalmente que sejam percebidos pela sociedade. Nos últimos meses passamos todos os principais desafios possíveis para uma distribuidora de energia elétrica. Santa Catarina, eu diria, é o estado mais iluminado do Brasil. A energia chega até para habitações não regulares e que, portanto, não pagam uma conta da Celesc.
RCN: Há muita gente que não paga pela energia que consome?
Tarcísio Rosa: Sim, somente em Florianópolis nós calculamos que cerca de 200 mil pessoas estão irregulares quanto a este serviço oferecido pelo estado por meio da Celesc. Esse é um problema que atinge especialmente o litoral catarinense, há terrenos de marinha, há um fluxo de imigração para a capital muito expressivo, que é o principal foco dessa situação. Mas a questão também está presente em Palhoça e Camboriú, por exemplo. Em parceria com a prefeitura de Florianópolis vamos chegar nos loteamentos considerados consolidados para que se possa ligar a eletricidade legalmente, por meio do documento do município que ateste essa condição, que em muitos, já estão ocupando determinado espaço há 10 ou 15 anos.
RCN: Voltando para os avanços da Celesc...
Tarcísio Rosa: Vão ser R$ 4,5 bilhões em investimentos ao longo dos próximos 4 anos. Somente em 2023 foram R$ 900 milhões, pois o início foi em março. Vão ser 20 novas subestações, algumas já foram concluídas, como Joinville, Itajaí, Capivari de Baixo, Papanduva, Abelardo Luz, além de ampliações e novas linhas de transmissão. O benefício de uma subestação é regional. Em março de 2024 vamos inaugurar uma em Santo Amaro da Imperatriz, que vai possibilitar a chegada de uma linha de alta tensão com grande potência. De lá vai para Anitápolis, Águas Mornas, Rancho Queimado e toda a região melhora.
RCN: Esse valor, R$ 4,5 bilhões, é expressivo. Por que a Celesc não investiu valores assim nos últimos anos?
Tarcísio Rosa: As empresas fazem planejamento de longo prazo, não estou dizendo que não tenham sido feitas obras nos últimos 4 anos. O que foi feito foi organizar um pacote grande e a percepção do governador Jorginho Mello (PL), que ao viajar pelo interior, percebeu que havia muitas reclamações no fornecimento de energia para melhorar os processos produtivos, em especial na agroindústria. Não é nada genial, mas uma necessidade constatada que o estado tem uma demanda reprimida e nós priorizamos. Seja no litoral pela demanda de turistas anualmente, no na Serra e no Oeste para outros ramos da economia que precisam ter sua capacidade de energia aumentada para melhorar a vida de quem mora fora das grandes cidades e induzir desenvolvimento econômico.
RCN: A Celesc vai entrar no mercado livre de energia. Do que se trata?
Tarcísio Rosa: A partir de 1º de janeiro de 2024, quem estiver ligado em 13 mil volts ou as empresas que estão conectadas no grupo A, que podem ser um condomínio, uma oficina, um shopping, uma loja maior vão ter o direito de comprar no mercado livre. Hoje, a energia no mercado está mais barata, a Celesc como varejista pode comprar no mercado livre e pode vender para consumidores que estejam liberados pela nova lei a partir de agora. Fizemos toda a mudança interna na empresa para que pudéssemos estar aptos a participar desse novo momento e ter a varejista da Celesc, que já nasce com um convênio feito com o Estado e com a carga que podem ir para o mercado livre para que a empresa possa atender. Esse novo momento vai significar uma economia para SC da ordem de R$ 70 milhões em 5 anos. Mas aí você me pergunta, a Celesc vai perder dinheiro? Não, ela vai comprar no mercado uma energia ou vai gerar nas suas fotovoltaicas e vender a um preço mais baixo que a tarifa. É um trabalho ganha-ganha, para a Celesc e para o Estado.
RCN: O consumidor residencial vai poder comprar nesse mercado livre?
Tarcísio Rosa: Ainda não. No mercado para as residências a previsão para 2026 poderem comprar no mercado livre. Antes disso, o que é possível é ter uma fazenda de energia sola, que divida em diversas casas e essas podem comprar não no mercado livre direto, mas de fazenda solares. Hoje você pode ter a sua usina em Chapecó e usar a energia em uma casa em Florianópolis
RCN: Fala-se em energia limpa, descarbonização, economia verde. SC e o Brasil estão longe desse futuro?
Tarcísio Rosa: Não, o Brasil largou na frente e está muito bem. Apenas 10% da energia consumida em todo o país é originada em combustível fóssil. Nossas condições de hidrologia, barragens e de hidrelétricas contribuíram. Diferente de outros países da Europa em que a energia vem do petróleo, do gás ou nuclear. Além disso, foram iniciadas produções de energia eólica e fotovoltaica. Por exemplo, se falássemos em energia fotovoltaica, a expectativa é que ela cresceria, mas lentamente. Mas o que ocorreu foi o contrário. Nenhum planejamento do setor imaginou que 10 anos depois teríamos tanta geração desse tipo de energia. A soma da produção de energia eólica e fotovoltaica é equivalente a três Usinas de Itaipu, isso estava fora do radar há 15 anos, mas é uma realidade.
RCN: A produção fotovoltaica é mais cara do que a originada nas hidrelétricas?
Tarcísio Rosa: Já ficou mais barata. Essas duas energias limpas já estão quase mais econômicas que construir uma hidrelétrica nova. Os impactos ambientais e regulatórias para construção de uma hidrelétrica aumentaram muito, não se faz mais uma unidade gigante, pois a legislação não permite, mas o país já nasceu neste modelo. Então, em uma época de toda energia consumida no país, 80% era de origem hidrelétrica hoje deve estar na casa de 60%. Por isso em termos de energia limpa, o Brasil já um dos primeiros países do mundo.
RCN: O lobby da indústria do petróleo ainda é forte, novos locais para exploração estão no planejamento, como é o caso da margem equatorial do oceano Atlântico, no Norte do país. Como substituir essa riqueza econômica?
Tarcísio Rosa: Esse é um processo lento, não se vai deixar o petróleo enterrado enquanto não houver uma fonte limpa em abundância. A Europa depende muito do gás natural e do petróleo, foi necessário reativar usina movidas a carvão mineral, na Alemanha e outros países. Ao passo que aqui tínhamos 80% de energia de origem hidrelétrica, o deles era 80% proveniente do petróleo. Eles precisaram e precisam fazer um enorme esforço para mudar, para fontes limpas, como eólica e fotovoltaica, mas estão longe do patamar que o Brasil já chegou.
RCN: É possível gerar energia elétrica nas barragens que foram construídas em SC para diminuir o impacto das enchentes nos municípios do Vale do Itajaí?
Tarcísio Rosa: O governador Jorginho Mello (PL) nos deu a missão de estudar o tema e é isso que a Celesc está fazendo. A quantidade de água que passa pela barragem permite pensar que existe viabilidade, mas somente o estudo mais profundo vai poder dizer com precisão. Não se pode avaliar essa possibilidade com a água que verteu na barragem nos dias com maior índice pluviométrico, mas sim em situação normal.
RCN: Existe um prazo para concluir esses estudos?
Tarcísio Rosa: É possível pensar que no primeiro semestre de 2024 se tenha alguns dados que se possa compartilhar com a sociedade. E a partir de então projetar quanto tempo será necessário para que a geração de energia em uma barragem possa acontecer. Sempre haverão questões ambientais e demográficas que podem interferir no prazo, mas o estudo da viabilidade dá pra dizer que sai na primeira metade de 2024. A Celesc já opera suas 12 usinas de forma remota, daqui da sede da empresa em Florianópolis, reduz a carga gerada, abre e fecha comportas. Da mesma forma que opera toda a rede elétrica do estado. Daqui se sabe se faltou luz em uma casa de Dionísio Cerqueira e da central é enviado um carro até local para verificar o problema. Atende consumidor, linha e subestação e em outra sala se acompanha as usinas, uma evolução importante a partir do investimento de R$ 5 milhões.
Adjori: E a implantação das redes trifásicas no interior?
Tarcísio Rosa: Nós pretendemos implantar 500 quilômetros até o fim de 2024. E devemos finalizar antes, no meio do ano. Quando terminarmos vamos anunciar outros 500 kms. Nos locais que as redes já foram concluídas há boa repercussão, não é possível atender a todos ao mesmo tempo, mas estamos caminhando bem. A evolução tecnológica demanda maior carga no interior. A produção está cada vez mais mecanizada e precisa de energia elétrica com grande potência. A possibilidade de fomentar os negócios locais aumenta, pois vai dar segurança para operar em alto consumo o tempo todo.
RCN: Existe uma demanda importante por internet de qualidade nos municípios do interior, como a Celesc vai contribuir?
Tarcísio Rosa: Estamos debatendo com a Alesc e Governo do Estado. É possível ter internet onde existe uma lâmpada acesa. Ainda precisamos estudar os custos dessa internet, mas existe também a preocupação de manter o jovem fiquem no interior. Mas é preciso levar as facilidades das grandes cidades para o campo, pois êxodo foi muito grande e daqui a pouco não tem ninguém para produzir as nossas riquezas rurais. Precisamos avançar nesse item também e a Celesc pode contribuir.
Adjori: Houve um problema com a distribuidora de energia de São Paulo, a Enel, que interrompeu o fornecimento de energia em razão de eventos climáticos e surgiram questionamentos sobre o fato de ela ser privada. Vender a Celesc para o capital privado já foi debatida inúmeras vezes, como vê essa situação?
Tarcísio Rosa: A Celesc tem sido elogia no meio da crise, na ocorrência das enchentes. Conseguimos resolver os problemas que ocorreram rapidamente e os prefeitos nos retornam elogiando a qualidade e velocidade da resposta. Em São Paulo, a empresa enfrentou um desastre grande, com muitas árvores sobre a rede, e na minha visão, pode ter faltado uma comunicação eficiente. Ninguém que vai enfrentar um período de 2 a 4 dias sem energia fica satisfeito se não houver a informação que os trabalhos estão acontecendo, que muitos dos empregados da empresa também estão sem energia em suas casas. Na crise enfrentada em SC ocasionada pelo grande volume de chuva, o governador Jorginho Mello teve um papel de grande importância, pois junto com a Defesa Civil, a Celesc e outros órgãos, informava os moradores sobre a situação que estava em curso. O fato de uma empresa ser pública ou privada não modifica essa condição, mas sim a qualidade do serviço prestado. A Celesc tem por definição do chefe do executivo estadual de não ser privatizada e é isso que vamos fazer.
RCN: Tarcísio Rosa permanece como presidente da Celesc em 2024?
Tarcísio Rosa: Eu fui convidado em janeiro e assumi em fevereiro de 2023. Estamos trabalhando na melhor forma possível. Costumo dizer a quem me pergunta sobre isso: quem me convida, me desconvida. Estive com o governador inúmeras vezes nas últimas semanas com diversas entregas da empresa, os resultados estão aí. Mas somente ao governador cabe dizer até quando eu e os demais diretores ficamos. Por enquanto muito trabalho.
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