O Brasil precisa melhorar seu ambiente de negócios, alerta Henry Quaresma
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Henry Quaresma (Fotos: Arquivo pessoal)
CEO da Brasil Business Partners prevê desafios importantes para a economia brasileira em 2025
Habituado a olhar os cenários econômicos globais, em suas múltiplas variáveis, Henry Uliano Quaresma, CEO da Brasil Business Partners, falou com exclusividade à Rede Catarinense de Notícias, sobre as perspectivas econômicas para 2025. Valorização do dólar, eleição de Trump, acordo Mercosul-União Europeia e os entraves a um melhor ambiente de negócio no país foram temas tratados pelo especialista e membro de diversos conselhos de empresas e entidades empresariais.
Engenheiro com MBA em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa, especialização em Marketing pela FGV e formação em Programas Executivos em Estratégia e Gestão ministrados em instituições dos Estados Unidos e da França, Quaresma também comentou sobre a 4ª edição do seu livro "O Fator China: Oportunidades e Desafios", lançado recentemente.
Acompanhe os principais momentos da entrevista.
Qual sua visão da economia para 2025?
Henry Quaresma: A economia brasileira enfrentará desafios importantes em 2025, principalmente devido à combinação de fatores externos e internos. A valorização do dólar, causada por incertezas globais e por instabilidades locais, deve pressionar ainda mais a inflação, levando o Banco Central a manter os juros elevados. Essa conjuntura tende a limitar o crescimento do PIB, com estimativas variando entre 1,5% e 2%. É fundamental resolver a questão fiscal, pois o aumento da dívida pública em relação ao PIB, mesmo em um cenário de alta arrecadação, reforça a necessidade de maior controle sobre os gastos públicos. Medidas de ajuste fiscal rigoroso podem estabilizar o dólar, conter a inflação e reduzir as taxas de juros no médio prazo, trazendo maior equilíbrio à economia.
Como ficarão as exportações com o dólar valorizado?
Henry Quaresma: A valorização do dólar tende a favorecer as exportações brasileiras, pois torna nossos produtos mais competitivos no mercado internacional. Setores como o agronegócio, a mineração e os manufaturados devem se beneficiar desse cenário. Contudo, o aumento dos custos internos, impulsionado pela inflação e pela instabilidade econômica, pode impactar negativamente a competitividade de indústrias que dependem de insumos importados. Garantir um controle eficaz da inflação e manter uma política fiscal consistente serão fatores determinantes para aproveitar plenamente as vantagens do dólar valorizado.
Como vê os impactos da vitória de Trump na economia mundial e no Brasil?
Henry Quaresma: A reeleição de Donald Trump trouxe novos elementos de incerteza ao comércio global, especialmente pela intensificação da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China. Para o Brasil, surgiram oportunidades, como o aumento nas exportações de soja e carne bovina para o mercado chinês, que cresceram 6% e 9%, respectivamente, conforme dados do MAPA. Contudo, esse cenário exige precaução, pois medidas tarifárias dos EUA contra a China podem redirecionar fluxos comerciais para a América Latina, criando novos desafios. O Brasil precisa diversificar sua base comercial e adotar estratégias que mitiguem riscos associados às mudanças no cenário global.
O que esperar para o acordo Mercosul-União Europeia em 2025? Ele será implementado ou continuará em discussão? Quais avanços foram feitos e como será o futuro dessa parceria?
Henry Quaresma: O acordo Mercosul-União Europeia continua sendo um dos temas centrais da agenda comercial para 2025, mas sua implementação plena ainda enfrenta desafios relacionados a questões ambientais e subsídios europeus. Durante a última cúpula do Mercosul, no Uruguai, houve avanços significativos, como o compromisso dos países sul-americanos com salvaguardas ambientais mais rigorosas e o interesse da União Europeia em flexibilizar a entrada de produtos agrícolas em seus mercados. Apesar disso, pontos sensíveis, como exigências adicionais relacionadas a mudanças climáticas e políticas de subsídios europeus, ainda geram impasses.
Para 2025, a perspectiva mais provável é de uma implementação parcial do acordo, com foco inicial em setores como tecnologia, serviços e produtos de maior valor agregado. O Brasil e os demais membros do Mercosul terão que demonstrar comprometimento com a sustentabilidade e adotar uma diplomacia comercial ativa para superar as últimas barreiras. Essa parceria tem potencial para fortalecer as cadeias de valor entre os blocos e abrir novos mercados, mas seu sucesso dependerá da capacidade de ambos os lados em equilibrar interesses econômicos e ambientais.
O que tem de novo nesta 4ª edição do seu livro "O Fator China: Oportunidades e Desafios", lançado recentemente?
Henry Quaresma: Desde a primeira edição, em 2012, nosso objetivo foi auxiliar empresas e profissionais a compreenderem a crescente influência da China no cenário global de negócios. Nesta nova edição, trazemos análises atualizadas e aprofundamos as reflexões sobre as transformações recentes e as perspectivas futuras nas relações entre Brasil e China. O livro explora as oportunidades oferecidas pela economia chinesa, bem como os desafios que ela apresenta, especialmente no que tange à formação de parcerias e ao acesso a esse mercado. Também abordamos questões contemporâneas, como o impacto da pandemia, a disputa comercial com os Estados Unidos, a transformação digital e a sustentabilidade.
Outro ponto de destaque desta edição é a análise da trajetória da China rumo à liderança global, abrangendo desde seus avanços tecnológicos até o papel crescente no comércio internacional. Além disso, detalhamos como empresas brasileiras podem aproveitar melhor as oportunidades no mercado chinês em setores como agronegócio, indústria e energias renováveis. Esta edição também destaca casos práticos e apresenta um guia estratégico para quem busca explorar novas oportunidades.
O prefácio foi assinado por Armando Monteiro Neto, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), reforçando a relevância da obra para o setor empresarial.
Quais medidas poderiam ser adotadas para melhorar o ambiente de negócios em 2025?
Henry Quaresma: Para melhorar o ambiente de negócios em 2025, é fundamental priorizar reformas estruturais e investimentos estratégicos que reduzam as barreiras ao crescimento econômico e tornem o Brasil mais competitivo no cenário global. A reforma tributária é um dos passos mais urgentes. O alto custo Brasil, estimado em 22% do PIB pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), dificulta a operação das empresas e desestimula novos investimentos. Simplificar o sistema tributário, reduzir a carga burocrática e harmonizar tributos entre estados e municípios são medidas essenciais para estimular a produtividade e a geração de empregos.
Outro ponto crucial é o aumento dos investimentos em infraestrutura, que atualmente representam apenas 2% do PIB, conforme dados do IBGE. Esse índice é insuficiente para atender às necessidades de um país continental como o Brasil. É necessário ampliar a parceria com o setor privado, por meio de concessões e parcerias público-privadas, para modernizar portos, rodovias, ferrovias e aeroportos, além de expandir a conectividade digital e garantir a transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável.
Fortalecer a segurança jurídica é igualmente indispensável. Investidores nacionais e estrangeiros precisam de um ambiente regulatório previsível, com leis claras e estabilidade institucional que garantam a proteção de contratos e o respeito à propriedade intelectual. Além disso, a digitalização dos processos administrativos, incluindo licenciamento ambiental, emissão de alvarás e acesso a serviços públicos, pode reduzir significativamente o tempo e os custos para abrir e operar empresas no Brasil.
Para que essas medidas surtam efeito, o governo deve articular uma estratégia coordenada entre os setores público e privado, buscando equilibrar responsabilidade fiscal, incentivo à inovação e compromisso com a sustentabilidade. Com isso, o Brasil pode construir um ambiente de negócios mais dinâmico, atraente e preparado para competir globalmente em 2025.
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